O ano de 2018 foi frutífero para os amantes de literatura russa. Além das editoras já conhecidas por sua tradição na bem-cuidada publicação de obras russas, outras começaram a empenhar esforços no nicho, que promete crescer ainda mais no ano que vem, apesar da anunciada tragédia editorial.
Assim, de acordo com as pesquisas do filólogo Daniel Dago, que publica anualmente as esperadas previsões de lançamentos editoriais em dezembro, em 2019 a produtora Ars et Vita, por exemplo, deve ingressar no mundo dos livros com “Chevengur”, de Andrêi Platônov; a Autêntica lança “Crime e castigo”, de Fiódor Dostoiévski, e “Contos russos”; a Âyiné, “From the other shore”, de Aleksandr Herzen, e “O campo dos cisnes”, de Marina Tsvetáieva; a Carambaia, “O arquipélago Gulag”, de Aleksandr Soljenítsin; a Companhia das Letras, “Infância” e “Minhas universidades”, de Maksim Górki (em reedições da finada editora Cosac Naify), além de “Oblómov”, de Ivan Gontcharóv (também herdado da Cosac Naify); a 34, “A luva ou KR-2” (Contos de Kolimá, vol. 6), Varlam Chalámov; “Meninas”, de Liudmila Ulítskaia, “Anna Kariênina”, de Lev Tolstói, “A escavação”, de Andrêi Platônov, “História de uma cidade”, de Saltikóv-Schedrín, “A palavra na vida e a palavra na poesia”, de Valentin Volóchinov, “Teoria do romance III: O romance como gênero literário”, de Mikhaíl Bakhtin, e “O rumor do tempo”, de Óssip Mandelstam; a Kalinka, “Compromisso”, de Serguêi Dovlátov, e “A Cidade N”, de Leonid Dobýtchin; e a Nova Aguilar, a obra completa de Fiódor Dostoiévski.
Mas, enquanto nada disto está nas prateleiras ainda, invista nos lançamentos de 2018:
Editora Kalinka
Especializada em literatura russa, esta editora fundada por pai e filha lançou, em 2018, o imperdível “O ofício”, do jornalista soviético Serguêi Dovlátov. Com uma alta dose de sátira, o escritor não deixa ninguém alheio.
Dovlátov acabou emigrando, em 1979, para os Estados Unidos depois de ser rejeitado a vida toda pelas editoras estatais russas por não se encaixar no tipo de literatura desejável pela URSS. “O ofício” é uma obra-prima sobre o gatekeeping soviético, mostrando todo o caminho percorrido por Dovlátov em busca de ser publicado no sistema editorial do país – infelizmente, sem sucesso.
A editora também lançou neste ano uma obra de referência a todos aqueles que desejam compreender melhor a genialidade dos russos no âmbito literário: “Aulas de Literatura Russa”. O título é assinado por uma das pioneiras na tradução direta do russo para o português, Aurora Bernardini.
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E para quem está se aventurando na aprendizagem da língua russa (e também para quem quer consumir só literatura traduzida mesmo, mas ostentando um cirílico na estante), a Kalinka também criou neste ano que finda uma coleção exclusiva com a Livraria Cultura, a “Mir” (do russo, a palavra significa tanto “paz”, como “mundo”). Nela, três obras já foram lançadas: a dupla “Bobók” e “Meia carta de um sujeito”, de Dostoiévski; “A velha”, de Daniil Kharms; e “O elefante”, de Aleksandr Kuprin. As três edições são bilíngues e têm áudio em russo.
34
Tradicionalmente conhecida por suas publicações russas na Coleção Leste, a 34 teve uma porção de novidades no catálogo de 2018 também. Uma das grandes novidades foi a publicação de Víktor Chklóvski, com “Viagem Sentimental”, que leva o leitor ao olho do furacão da Guerra Civil Russa.
A Antologia do Humor Russo, organizada pela professora da USP Arlete Cavaliere também foi um dos destaques, com textos incrivelmente satíricos como o de Saltikóv-Schedrín, entre muitos outros.
Maiakóvski também ganhou nova publicação, com ‘Sobre isto’ vertido diretamente do russo pela primeira vez na íntegra. A obra deu origem à canção de Caetano Veloso “O amor”, interpretada por Gal Costa.
Além destes, a editora trouxe neste ano “Almas Mortas”, de Nikolai Gógol; “Teoria do Romance II, as Formas do Tempo e do Cronotopo”, de Mikhaíl Bakhtin; “Diário de um Homem Supérfluo”, de Ivan Turguêniev; e “Humilhados e Ofendidos”, de Fiódor Dostoiévski.
Carambaia
Esta jovem casa editorial teve três títulos russos em seu catálogo de 2018: a Caixa Korolenko, com os títulos “Em má companhia – memórias de infância de um amigo meu” e “O músico cego”, do russo-ucraniano Vladimir Korolenko (1853–1921, considerado por Liev Tolstói “um dos principais contistas da literatura de língua russa” e comparado a Charles Dickens pelo crítico Otto Maria Carpeaux), “Contos de assombro” (uma coletânea de autores variados que inclui alguns russos) e “Os dias dos Turbin”.
A última obra tem sua tradução direta do russo assinada pelo tradutor premiado com o Jabuti Irineu Franco Perpétuo e foi primeira a primeira peça de teatro escrita por Mikhaíl Bulgákov, adaptação de seu romance “A Guarda Branca”.
Novidades atrás de novidades
O novo volume “Sábado”, da inglesa radicada na Bahia Sarah Rebecca Kersley, proprietária da editora e livraria Boto-cor-de-rosa, mostrou ainda uma abordagem original sobre a tradução e a “cavação” da literatura russa.
No volume, a autora insere a tradução inédita, direta do russo, do poeta Anatóli Náiman por Aurora Bernardini. Mas a grande sacada da autora inglesa radicada na Bahia foi permear o texto com as histórias de suas andanças e missivas, além de recortes de influências e referências de sua busca pelas origens e por uma identidade que se revela, parcialmente, russo-judaica.
E na terrinha...
A Assírio & Alvim, já bem estabelecida na publicação dos russos em Portugal, lançou neste ano “Doutor Jivago”, de Boris Pasternak (edição Livros do Brasil) e “O Casamento e outras peças”, de Nikolai Gogól.
Assim, não há motivos para quaisquer lusófonos deixarem de se jogar de cabeça na literatura em 2019 e tentar iluminar o ano – porque, é claro, você presenteará estes títulos só para pegar emprestados depois!
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