‘Humilhados e ofendidos’ ganha tradução direta do russo pela editora 34

Domínio público
Primeira edição da obra de Dostoiévski na ‘Coleção Leste’ é vertida por Fátima Bianchi, coordenadora regional da International Dostoevsky Society e professora do programa de Língua e Literatura Russa da USP.

Publicado em 1861, após seu autor passar dez anos em exílio na Sibéria, “Humilhados e ofendidos” ocupa posição-chave na produção de Fiódor Dostoiévski. Por um lado, é sua obra mais ambiciosa até aquele momento. Nela, Dostoiévski revisita e leva ao limite suas concepções de literatura e sua visão dos males da sociedade. Por outro, suas páginas abrem caminho para uma forma de romance que ganharia corpo nos grandes livros de sua maturidade – e, não por acaso, o leitor encontra nesta obra conflitos e personagens que parecem prefigurar suas criações posteriores.

Para compor a trama de “Humilhados e ofendidos”, romance no qual deposita enormes esperanças, Dostoiévski coloca no centro da ação a figura do escritor Ivan Petróvitch, que é também narrador do livro e cuja vida guarda tantas semelhanças com a sua que não é equivocado ler certas passagens como um ensaio de autoficção avant la lettre — gesto arriscado, que não foi plenamente compreendido pela crítica da época.

Os leitores, porém, não tiveram dúvidas. Desde sua primeira aparição como folhetim no número inicial da revista “O Tempo”, o romance fascinou o público, que reconheceu ali um modo inédito de narrar, capaz de trazer à luz os sentimentos mais obscuros com uma intensidade nunca vista — intensidade que encontrou sua equivalência precisa na tradução da especialista em Dostoiévski Fátima Bianchi e nas gravuras de Oswaldo Goeldi.

Fiódor Mikháilovitch Dostoiévski nasceu em Moscou em 1821, e estreou na literatura com o romance “Gente pobre”, em 1846, ao qual se seguiram “O duplo” (1846) e “Noites brancas” (1847), entre outros. Após ser preso e condenado à morte pelo regime tsarista em 1849, teve sua pena comutada para quatro anos de trabalhos forçados na Sibéria, experiência retratada em “Recordações da casa dos mortos” (1861), lançado no mesmo ano de “Humilhados e ofendidos”.

Após este período, escreveu “Memórias do subsolo” (1864), “Um jogador” (1867), “O eterno marido” (1870) e uma sequência de grandes romances: “Crime e castigo” (1866), “O idiota” (1869), “Os demônios” (1872) e “O adolescente” (1875), culminando com a publicação de “Os irmãos Karamázov”, em 1880.

De 1873 até o ano de sua morte publicou ainda o “Diário de um escritor”, reunindo peças jornalísticas e de ficção. Reconhecido como um dos maiores autores de todos os tempos, Dostoiévski morreu em São Petersburgo, em 1881.

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