Desenvolvida nos anos 1930, a “Teoria do romance” de Bakhtin só foi publicada, e de forma parcial, no ano de sua morte, em 1975, no volume “Questões de literatura e de estética”.
Foi só em 2012, porém, que o texto integral veio à luz, na Rússia, no conjunto de suas “Obras reunidas”. A partir desta nova edição crítica, com organização de Serguêi Botcharov e Vadím Kójinov, a editora publica agora no Brasil o segundo tomo da “Teoria do romance”, com tradução de Paulo Bezerra, ex-professor de teoria da literatura na UERJ e de língua e literatura russa na USP e um dos maiores tradutores de Dostoiévski.
Após prisão, autor foi resgatado somente na década de 1960 por estudantes de Moscou que o ajudaram a se reintegrar ao cenário intelectual do país e a editar suas obras.
ArquivoO volume introduz um dos conceitos-chave do pensamento de Bakhtin, o “cronotopo”, ou seja, a configuração do tempo e do espaço na prosa literária.
Neste “ensaio de poética histórica”, o autor parte do romance grego, passa pelas obras de Apuleio e Petrônio, pelo gênero biográfico e autobiográfico (Platão, Plutarco, Santo Agostinho), pelo folclore, pelos romances de cavalaria (incluindo uma original análise da “Comédia” de Dante) e pelos personagens picarescos, para chegar à extraordinária obra de François Rabelais.
Obra e degredo
Mikhail Bakhtin nasceu em 1895 em Oriól, na Rússia. Estudou em Odessa e Petrogrado, foi professor de história, sociologia e língua russa na cidade de Nével, na década de 1910, e liderou um grupo de intelectuais que ficaria conhecido como “Círculo de Bakhtin”.
Em 1928, foi preso pelo regime de Stálin, mas ainda conseguiu publicar um de seus trabalhos mais importantes, “Problemas da obra de Dostoiévski” (1929). Condenado a um campo de trabalhos forçados, teve a pena comutada para o degredo no Cazaquistão, onde viveu até 1936.
Bakhtin continuou proibido de viver em grandes cidades e se estabeleceu em Saransk, isolado do circuito acadêmico e literário da União Soviética, trabalhando como professor em escolas públicas.
O autor foi resgatado do ostracismo somente na década de 1960 por três estudantes de Moscou —Kójinov, Botcharov e Gátchev —, que o ajudaram a se reintegrar ao cenário intelectual do país e a editar suas obras.
Assim, o ensaio sobre Dostoiévski foi revisto e publicado sob o título “Problemas da poética de Dostoiévski” (1963) e foram editadas sua tese de doutorado “A cultura popular na Idade Média e no Renascimento: o contexto de François Rabelais” (1965) e a coletânea de ensaios “Questões de literatura e estética” (1975).
Ele morreu em Moscou, em 1975.
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