1. A Sibéria é um país? Ou uma colônia russa?
Nem um, nem outro. A Sibéria é uma região geográfica da Rússia, e a maior parte dos habitantes locais ali são, hoje, etnicamente russos. Na Idade Média, estes territórios eram habitados por tribos nômades dos antigos Estados da Ásia Oriental. Durante muito tempo, o território da Sibéria esteve em uma vassalagem de dependência da Horda de Ouro e, após o colapso desta, no final do século 15, formou-se em seu lugar o Canato da Sibéria.
Considera-se que a exploração da Sibéria pelos russos tenha se iniciado em 1581 e durado até o século 19. Os voievoda (na Rússia antiga, chefe militar e governador de província) da Moscóvia fizeram expedições de expansão, subjugaram terras e cobraram tributos deles.
Mas alguns historiadores não acreditam que a expansão russa para a Sibéria deva ser considerada como colonização – a união dos povos, via de regra, foi seguida também pela junção das elites locais com as russas.
Já nos séculos 16 e 17, os colonos russos fundaram suas próprias cidades no antigo território do Canato da Sibéria.
2. Onde fica a Sibéria? A Sibéria tem fronteiras?
Geograficamente, a Sibéria está na Ásia. Mas ela é tão grande e ilimitada que nem todo russo sabe onde exatamente a Sibéria começa ou termina.
Suas fronteiras são nocionais, mas geralmente presume-se que a Sibéria comece nos Montes Urais (que também dividem os continentes europeu e asiático) e termina no Oceano Ártico, em seus mares costeiros e no Extremo Oriente Russo. Ao sul, este território russo faz fronteira com a China, a Mongólia e o Cazaquistão.
3. Quantos países caberiam no território da Sibéria?
A Sibéria ocupa 9,8 milhões de quilômetros quadrados, ou cerca de 57% do território da Rússia. Mas na realidade, isto é tão grande assim? Este território é grande o suficiente para que caibam ali 15 Franças. Ou 27 Alemanhas. Ou 32 Itálias. Ou 25 Japões. Ou toda a Europa. Resumindo, você entendeu.
4. Há gente vivendo na Sibéria?
Grande parte da Sibéria é coberta por montanhas e taigas - florestas densas intocadas pelo homem. É possível se estabelecer lá apenas com um objetivo: se esconder da civilização – como fez, em 1936, uma família de velhos crentes (cristãos ortodoxos russos que se separaram da Igreja Russa há mais de 350 anos). Eles fugiam da perseguição religiosa e viveram isolados pelo resto de suas vidas. Hoje, resta apenas um membro da família, Agáfia Likova.
Mas nem toda a Sibéria é assim. Nos locais mais “amenos”, vive um total de 36 milhões de pessoas, ou seja, 25% de toda a população da Rússia. Existem 19 cidades na Sibéria com população superior a 100.000 habitantes e três outras com mais de um milhão de habitantes cada.
5. Por que as pessoas resolveram ir viver na Sibéria?
Por diferentes motivos. Por vários séculos, a Sibéria teve algumas ondas de migração. Na primeira metade do século 19, iniciou-se ali uma verdadeira corrida pelo ouro.
Após a abolição da servidão, camponeses foram enviados à Sibéria na tentativa de se resolver o problema da escassez de terras, assim como para desbravar novos territórios. Eles podiam tomar toda a terra que quisessem (é verdade, porém, que não havia nenhuma garantia de algo cresceria ali). Em geral, as pessoas instalaram-se lado a lado, como em comunas.
No século 20 iniciou-se a industrialização da Sibéria, que também aumentou o povoamento da Sibéria.
E, no final das contas, as pessoas iam à Sibéria a mando das organizações comunistas do Komsomol: era o partido quem decidia qual cidade podia oferecer trabalho. Às vezes, era muito longe de onde a pessoa mora - por exemplo, em algum lugar da Sibéria.
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Além disso, você deve ter ouvido que milhões de pessoas foram exiladas na Sibéria. O “exílio na Sibéria” era, sem dúvida, o pior destino que uma pessoa poderia ter – exceto, talvez pela execução.
Prisioneiros e dissidentes foram enviados para a Sibéria para construir infraestrutura nova, como ferrovias, ou para trabalhar em minas, nas condições mais duras possíveis. O jovem Iôssif Stálin foi exilado na Sibéria seis vezes - cinco das quais ele conseguiu escapar. Nem todos os habitantes da Sibéria são, porém, descendentes de exilados.
6. Por que é tão frio na Sibéria? Existe verão na Sibéria?
No inconsciente popular, a Sibéria é símbolo de um inverno extremamente frio, ventos cortantes e terras remotas. Na verdade, porém, o clima siberiano é semelhante ao da Rússia ocidental, com invernos ligeiramente mais frios (20 graus Celsius negativos) e verões mais quentes (de cerca de 25 graus Celsius positivos).
O que se convencionou chamar de Sibéria (por exemplo, a Iakútia), onde as temperaturas invernais chegam aos 80 graus Celsius negativos, fica, na verdade, muito mais a leste de Moscou e é considerado como Extremo Oriente (e tudo lá é mais árduo, basta olhar para esta garota).
A confusão ocorre porque as fronteiras geográficas da Sibéria são realmente pouco definitivas. Por vezes, os russos generalizam descrevendo tudo o que existe a leste dos Montes Urais como Sibéria.
7. Pode-se ver a Aurora Boreal da Sibéria?
O Círculo Polar Ártico atravessa grande parte do país, por isto esse fenômeno natural surpreendente pode ser observado da Carélia até Tchukotka – inclusive em algumas cidades da Sibéria como Norilsk (2.878 km a nordeste de Moscou) ou da Península de Taimir (2.700 km a nordeste de Moscou). Você pode descobrir os melhores pontos da Rússia para observar a Aurora Boreal aqui.
8. A Sibéria tem capital?
Novosibirsk (3.365 km a leste de Moscou) é reconhecida como centro administrativo da Unidade Federal da Sibéria. Assim, a cidade é considerada a capital da Sibéria. Mas os habitantes de outras cidades siberianas, como Tomsk, Irkutsk ou, por exemplo, Omsk, pensam diferente.
Discutir sobre a capital da Sibéria é um traço típico dos siberianos. Além disso, a maioria dos siberianos acredita que a capital da Rússia deveria ser transferida para a Sibéria. "Por que não? Afinal, geograficamente, este é o centro da Rússia", argumentam eles. É também justamente na Sibéria que se encontra a maior parte do gás e do petróleo do país.
9. Por que as se chamam pessoas da Sibéria de ‘siberianas’ ao invés de ‘russas’?
Em grande medida, a razão é a mesma pela qual não nos referimos aos londrinos como britânicos ou aos berlinenses como alemães, embora eles também sejam ambas as coisas.
A experiência dos siberianos muitas vezes passou por duras condições de vida e trabalho. Assim, eles aos poucos desenvolveram uma mentalidade ligeiramente diferente dos habitantes da parte europeia da Rússia.
O caráter e a saúde siberiana inferem resiliência, resistência ao estresse e dureza. Considera-se que os siberianos não desperdicem sua energia em ninharias. Eles são objetivos em palavras e ações e, em geral, são muito diretos.
10. Isto significa que todos os siberianos são durões?
Por um lado sim, por outro, não. Os tempos mudam, e hoje um siberiano difere pouco de um petersburguense.
Eis o que diz, por exemplo, este internauta siberiano em um fórum: “Hoje, as pessoas nas cidades siberianas são as mesmas que em outras regiões da Rússia. Tiramos saúde de alimentos saudáveis e do ar fresco e limpo da natureza. Mas, atualmente, os siberianos ficam enfiados o dia todo em escritórios, sentados, comendo comida enlatada e respirando fumaça de escapamento”.