Muitos estrangeiros dizem que a cozinha russa é simples, afirmando que ela abusa de ingredientes repetidos e carece de molhos e especiarias sofisticados. Mas os pratos oferecidos àqueles em jejum nos feriados religiosos são bastante intrincados — e são feitos e apreciados também por quem não segue religião alguma.
A tradição de fazer a kutiá remonta aos tempos pagãos. Associada a funerais e velórios, ela era chamada de “comida dos ancestrais mortos”. Hoje, até mesmo cristãos não praticantes preparam a kutiá para recepções fúnebres. Também era costume fazer a “kutiá batismal” – quando o bebê era apresentado ao resto da família e convidados.
Ela era cozido em leite e creme, com uma grande quantidade de manteiga. Os cristãos ortodoxos preparam a kutiá (também chamada, por vezes, de “sotchivo”) na véspera de Natal (na Rússia, no dia 6 de janeiro) e na Epifania (em 19 de janeiro). A kutiá é um mingau feito de grãos integrais de trigo, cevada, milho ou arroz que leva ainda mel, nozes, frutas secas e sementes de papoula a gosto.
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O kozuli é um tipo de pão de mel feito nas regiões de Arkhânguelsk e Múrmansk no Natal. Kozuli significa “pequena cobra” em uma das línguas do Extremo Norte russo. Ele é feito com massa de centeio em formato de cabras, carneiros e vacas, que simbolizam os animais no estábulo onde nasceu Jesus. A tradição também passou para os Urais, onde os habitantes fazem seus kozuli em forma de renas e anjos e os usam como enfeites na árvore de Natal.
Este bolo redondo, alto e cilíndrico é feito pelos cristãos ortodoxos na Páscoa. Passas, nozes, especiarias (baunilha, cardamomo, noz-moscada) são adicionados à massa, que é coberta com glacê ou açúcar confeiteiro. O kulitch, assim como a paskha (um tipo de cheesecake de ricota) e os ovos pintados, são tradicionalmente consagrados no sábado que precede o domingo de Páscoa.
O kulitch é considerado a contraparte doméstica do artos, um pão fermentado que é abençoado durante os cultos em igrejas e mosteiros ortodoxos e distribuído aos fieis. Os ortodoxos acreditam que os apóstolos teriam deixado esse pão para Cristo após a ressurreição.
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As bliní (panquecas) na Rússia são feitas durante Maslenitsa (Entrudo), a semana que precede a Quaresma. Nesses sete dias, a carne é proibida, mas ainda se pode consumir os produtos que compõem as panquecas (ovos, leite). A tradição da Máslenitsa é proveniente do paganismo. Os bliní são sempre feitos em quantidades colossais e com recheios diversos, entre eles smetana (creme de leite azedo ou sour cream) e geleia.
Seguindo o costume, a primeira panqueca era colocada no peitoril da janela ou dada aos pobres para celebrar os mortos. Cada dia da Máslenitsa tem seu próprio nome: por exemplo, sexta-feira é a “noite da sogra”, quando o bom genro come panquecas com a sogra; sábado é o “convívio de cunhadas”; e domingo é o “domingo do perdão”, quando se pede perdão e se queima um boneco de palha que representa o inverno que finda. Ainda hoje a Máslenitsa é celebrada e os blinís são consumidos por todos, independentemente da crença.
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Paskha.
Legion MediaComo dissemos antes, este é um prato de ricota em forma de pirâmide que simboliza o Santo Sepulcro. Além da ricota, ele leva manteiga, smetana (creme de leite azedo ou sour cream), passas e nozes. A paskha (cujo nome significa "Páscoa" em russo) é comum nas regiões norte e central da Rússia.
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Um ritual de Páscoa obrigatório na Rússia é pintar ovos e realizar “lutas de ovos” para determinar o mais forte – o vencedor fica com o ovo do perdedor (embora quebrado). O ovo cozido e pintado simboliza o renascimento — tintura vermelha no ovo significa que os fieis são redimidos pelo sangue de Jesus Cristo.
O método de coloração mais comum é com casca de cebola. Os ovos costumavam ser lindamente pintados à mão, mas, hoje em dia, corantes e adesivos alimentícios prontos também são usados com frequência.
Em 19 de agosto, a Igreja Ortodoxa celebra um dos 12 principais feriados ortodoxos: a Festa da Transfiguração. O nome popular russo para este feriado é “Iablotchni spas” (“Salvação da maçã”). Este era um festival da colheita, que começava assim que as maçãs amadureciam. Nesse dia, maçãs, mel e espigas de milho eram consagrados na igreja. As pessoas faziam tortas de maçã, com as quais presenteavam amigos e familiares.
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