10 cartazes soviéticos de publicidade de alimentos entre a primeira e segunda guerras mundiais

A. Miller
Apesar do estado de subnutrição da maior parte da população da URSS durante o período entreguerras, os melhores artistas soviéticos produziram cartazes para divulgar a venda de produtos alimentícios.

Em suas memórias, o tradutor pessoal de Iôssif Stálin, Valentin Berejkov, lembrava: "Já havia caído a noite, a praça estava iluminada por lampiões fortes e no teto do Museu Politécnico anúncios multicoloridos brilhavam: "É hora de todos experimentarem como os caranguejos podem ser deliciosos e tenros" e "E eu como doce de frutas e geleia"... Era tudo ideia de Mikoián, responsável pelo comércio interno, entre outras coisas. Ele convidou poetas famosos para inventar anúncios atraentes a la [Vladímir] Maiakóvski”.

Berejkov referia-se a Anastás Mikoián, que, em 1926, tornou-se comissário do povo (espécie de ministro na URSS) para o comércio interno e externo e, depois, ocupou altos cargos por décadas.

Ele trouxe, de uma viagem de dois meses aos Estados Unidos, em 1936, tecnologias que foram introduzidas na URSS para a produção de alimentos. Depois, todos esses alimentos precisavam de promoção.

1. "Trabalhadores, comprem pão barato!"

O poeta Vladímir Maiakóvski e o artista Aleksandr Ródtchenko criaram um pôster em 1925 em seu característico estilo construtivista. Nele, lia-se: "Trabalhadores / Não são atemorizantes encarecimento ou NEP / Comprem pão barato / Integral, preto e bisnaga / Em todas as lojas e quiosques da Mosselprom / A dois passos de qualquer casa!"

Sob a Nova Política Econômica (NEP) do início dos anos 1920, o setor privado foi autorizado a existir. Mas o Estado, apesar de tolerar os comerciantes privados, tentou impedir que eles enriquecessem, e os cartazes incentivavam a compra de pão, assim como de muitos outros alimentos, não da iniciativa privada, mas das lojas estatais da Mosselprom, atraindo os compradores por meio de seus preços, mais baratos.

2. Aveia em flocos, saúde garantida!

Em 1923, a URSS começou a produzir o “Guérkules” (“Hércules”), ou seja, aveia em flocos para mingau. O produto era algo completamente novo, nada familiar ao público soviético, e que precisava ser promovido no mercado.

"Guérkules é saúde garantida! Todo mundo ganha saúde, mas só o necessário", lê-se em pôster de 1926 feito por um artista desconhecido.

A “Guérkules” foi produzida em grandes quantidades na instituição de trabalho correcional de Sokólniki (mais conhecida como prisão de “Matrosskaia tichina”).

3. Exija confeitos das fábricas estatais Mosselprom!

As principais fábricas de confeitaria da época, a Krasny Oktyabr (do russo, “Outubro Vermelho”), a “Bolchevik” e a “Babaiévski” foram nacionalizadas após a Revolução e se tornaram parte da Mosselprom.

Alegou-se então que, graças à redução dos custos de produção, os preços dos confeitos caíram consideravelmente e que os corantes utilizados eram absolutamente inofensivos.

Um pôster de Borís Takke de 1928 mostra uma mulher comunista com um véu vermelho e uma bandeja cheia de doces e biscoitos.

Então, foi criada uma agência de propaganda chefiada por Konstantin Iuon na Mosselprom. A publicidade passou a mostrar os produtos de uma maneira mais pictórica, com proporções ampliadas. Nos cartazes surgiram marcas características de determinados grupos da sociedade.

4. Caramelos “Iris”

Um pôster de 1939 de Aleksandr Zelénski, que também trabalhava na arte da agência Mosselprom, pode-se ver um menino vestido de pioneiro, o movimento soviético equivalente ao dos escoteiros, com uma grande quantidade de caramelos “Iris”.

Esses confeitos eram feitas com leite condensado e começaram a ser vendidos na década de 1920. Eles eram vistos como uma grande novidade pela população.

5. Beba suco natural!

Em outro pôster de 1939, Borís Zelénski, filho de Aleksandr Zelénski que também se tornou artista, retratou outro menino em uniforme de pioneiro, desta vez com dois copos de suco.

Mikoián notou que os americanos tomavam suco de laranja no café da manhã. "Como não tínhamos laranjas, escolhemos suco de tomate, construindo fábricas para o processamento dos tomates", lembra o comissário em suas memórias “Tak bílo” (do russo, “Foi assim”)

"Eu sonhava em produzir uma quantidade tão grande de suco de tomate que ele se tornasse um produto de consumo verdadeiramente popular, o que, no cenário daqueles tempos, era bastante realista."

6. Peça sorvete em todo lugar!

Mikoián também menciona ter visitado uma fábrica de sorvetes nos Estados Unidos: "Desde tempos imemoriais o sorvete era conhecido na Rússia como um produto artesanal. A tarefa aqui era desenvolver a produção industrial e baratear o sorvete, tornando-o acessível... Como resultado,  trouxemos dos EUA toda a tecnologia para produção industrial de sorvetes. Logo foi concluída a construção da primeira fábrica de sorvetes, na fábrica de refrigeração nº 8 de Moscou, que recebeu equipamentos comprados nos EUA. E, usando o equipamento comprado nos EUA, a partir de 1938 nossa fábrica começou a produzir sorvete mais que o dobro da quantidade de sorvete inicialmente prevista."

Em pôster de 1938, Aleksandr Zelénski mostra um menino comendo sorvete enquanto esquia.

7. Peça caldo de galinha (!!!) em todo lugar!

A URSS não importava caldo Maggi, mas produziu seus próprios cubinhos de caldo. Eles eram feitos com carne natural e, por isso, estragavam rapidamente, por isso não gozavam de muita popularidade com a população.

"Peça cubos de caldo de galinha em todo lugar!", lê-se em pôster de 1937 do artista Iôssif Gríchin.

8. Maionese, um excelente tempero!

A maionese foi um produto novo que surgiu em Moscou em 1936. Stálin provou um pouco do molho e, após sua aprovação, começou a produção em massa de maionese.

O artista Stepán Prokoptsev desenhou um porco e um peixe abraçando um pote de maionese. O slogan diz: "Molho de maionese. Excelente tempero para acompanhar pratos frios de carnes, peixes ou verduras". 1938.

9. Hambúrgueres na... bisnaga

Da viagem aos EUA, Mikoián trouxe amostras de máquinas e chapas que os comerciantes de rua usavam para fritar hambúrgueres. Bifes baratos (a 50 copeques) eram colocados entre dois pedaços de pão (branco ou preto, não importava) e eram uma alimentação saborosa para os trabalhadores.

A partir de 1937, nas ruas das principais cidades havia a venda "hambúrgueres" soviéticos e limonada em barracas. As "hamburguerias" tinham todo o potencial para se tornarem populares na URSS, não fosse pela guerra que começou em 1941, quando se passou a colocar todas as forças nas necessidades da guerra.

Como resultado, a produção em massa de equipamentos para fabricar hambúrguer nunca foi estabelecida e o prato não entrou no menu básico do soviético. Até hoje, os hambúrgueres são vistos como um elemento da cultura anglo-saxônica na Rússia.

10. Leite pasteurizado na garrafa, uma grande novidade!

Em um pôster de 1938 de Aleksandr Pobedínski, uma garota vestida com uniforme dos pioneiros oferece um copo de leite a sua mãe. Em primeiro plano, podem-se ver as garrafas de leite que seriam levadas depois aos pontos de entrega.

A população ainda não estava familiarizada com o leite pasteurizado e, por isso, o texto no pôster explica que ele não requeria fervura adicional e não precisava ser transferido "para outro recipiente antes do consumo".

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