Neide Jallageas (esq.) recebe "Elefante" das mãos de Elena Vássina.
Marina DarmarosA editora e pesquisadora brasileira Neide Jallageas, recebeu, na última segunda-feira (26 de agosto de 2021), uma estatueta do prêmio “Elefante” das mãos da tradutora e professora da Universidade de São Paulo Elena Vássina. O prêmio foi criado pela guilda de pesquisadores e críticos de cinema em 1998 — que agraciou visionariamente naquele ano o filme “O Grande Lebowski”, dos irmãos Coen.
Neide Jallageas com a estatueta do "Elefante".
Marina DarmarosJallageas recebeu o prêmio na categoria “Cinema russo no espelho dos estudos de cinematografia internacionais”, que só foi concedido duas outras vezes desde a criação da premiação: a primeira, em 2017, à chinesa Li Tchjifan, chefe de pesquisas do Instituto Científico de Pesquisas de Cinema e Televisão da Academia Chinesa de Artes pela monografia “Cinema Russo Contemporâneo”; e a segunda, em 2018, ao coletivo de autores organizado por Vanessa Voisin, Valérie Pozner e Irina Tcherneva pelo livro “Perejit voinu. Kinoindustria v SSSR, 1939-1949 godi” (em tradução livre, “Sobreviver à guerra. A indústria cinematográfica na URSS no anos de 1939-1949”).
A premiação teve grande apoio dos membros da guilda Dmítri Salínski, crítico, e Tatiana Viétrova, especialista na cinematografia latino-americana, que propuseram o trabalho de Jallageas ao “Elefante” de 2020. Depois das propostas, houve as cotações para eleger os premiados, que resultaram na distinção a Jallageas.
“Esta categoria do prêmio, que ainda é concedida em raras ocasiões, foi agraciada a Neide Jallageas por todo o conjunto de sua obra, tanto com a revista e a editora Kinoruss, como com suas pesquisas e ensino. A divulgação dessas informações e o constante contato estabelecido por meio dela entre os dois países distinguem o trabalho dessa pesquisadora, que, aliás, já encontrei em diversas conferências mundo afora: desde a cidade de Ivânovo, na Rússia, até a Espanha, a Alemanha etc.”, disse Salínski em entrevista ao Russia Beyond.
Atraso pandêmico
Como explica Salínski, o nome Jallageas foi escolhido ao prêmio de 2020 (referente a obras de 2019 ou, no caso específico dela, retrospectiva de toda a vida). Porém, ela só pôde ver a estatueta do elefante na última segunda-feira, 26 de agosto de 2021.
“Devido à pandemia, fiquei impossibilitada de ir à Rússia receber o prêmio, por isso quem o recebeu em meu nome foi a professora Elena Vássina, que estava em Moscou”, explica.
A estátua bicolor do paquiderme, aliás, tem uma explicação interessante: “Como somos da guilda de críticos e geralmente damos colunas com opiniões opostas sobre os filmes — positivas e negativas —, geralmente lado a lado na imprensa russa, nossa ideia era ter uma estatueta que mostrasse esses dois lados, que foram representados em cores: de um lado, o elefante é branco, do outro, preto”, conta Salínski.
Alternativa
O "Elefante" faz parte da premiação "Elefante Branco", cujos recipientes em outras categorias em anos anteriores, foram, entre outros, Aleksandr Sokurov e Kira Muratova.
“O ‘Elefante Branco’ é um prêmio muito bacana e independente, uma espécie de prêmio de resistência e oposição, além de uma alternativa ao prêmio [intitulado “Águia de Ouro”] criado por [Nikita] Mikhalkóv”, explica Vássina.
Indício disso é que, também em 2020, o opositor político preso Aleksêi Naválni foi agraciado com o "Elefante Branco" — o que gerou comentários depreciativos de Mikhalkóv, cujo galardão, criado em 2002, fica sob os auspícios da Academia Nacional de Artes e Ciências Cinematográficas e regularmente concede prêmios a ele próprio.
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