7 romances russos contemporâneos para ler antes de morrer!

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Quando se pensa no romance russo, frequentemente o que vem à cabeça é o século 19: obras de Gógol, Dostoiévski e Tolstói. Estes escritores são, certamente, mestres. Mas pense um pouco fora da caixa!

Nem todos estes volumes estão disponíveis em português, mas, quem sabe, em breve? Eles também estão disponíveis em outras línguas (inglês, espanhol, italiano...) e você pode comprar volumes digitais pela internet... Ou fazer uma pressão sobre as editoras lusófonas!

1. ‘A metralhadora de argila’,Víktor Pelévin (1996)

O leitor lusófono tem a sorte de ter o primeiro grande romance de Víktor Pelévin publicado em português pela editora Rocco, por onde saiu como “A metralhadora de argila” (em russo “Tchapáev i Pustatá”).

O enredo pula de um período a outro no tempo e transita até mesmo por identidades o tempo todo. A ação principal ocorre durante a Guerra Civil Russa (1918-19), assim como em um hospital psiquiátrico na década de 1990 em Moscou. Os períodos são ligados pelo protagonista, Piôtr Void, que compreensivelmente se vê questionando a própria sanidade.

Se te pareceu confuso, para Pelévin, um dos autores mais prolíficos da Rússia, é a chance perfeita de discutir o passado e o presente da Rússia. Levar o romance à beira do absurdo é uma subcorrente da filosofia e da espiritualidade oriental que, para muitos leitores, percorre o livro como um bálsamo.

2. ‘Caso Kukótski’, Liudmila Ulítskaia (2001)

Este volume saiu pela portuguesa Relógio D'Água. Com ele, Ludmila Ulítskaia tornou-se a primeira mulher a ganhar o prestigioso Prêmio Booker russo. Assim como muitos outros nesta lista, o livro une sucesso comercial com a exploração de assuntos profundamente difíceis. A autora aborda, por exemplo, como o nascimento inevitavelmente liga a vida à morte.

Os protagonistas do romance são um obstetra soviético, a mulher que ele salva (e pela qual se apaixona) na mesa de operações, e sua filha.

Gravidez, ciência e aborto são tópicos incrivelmente populares, mas Ulítskaia evita, com êxito, afundar-se na trama ou na pregação. Pelo contrário, ela joga luz em detalhes sutis da vida de seus personagens.

3. ‘Grekh’, Zakhár Prilépin (2007)

O protagonista de “Grekh” (em tradução livre, “Pecado”), um reflexo da imagem do controverso autor Zakhár Prilépin, flutua por de uma série de acontecimentos que o seguem da adolescência até a idade adulta.

Cada capítulo lembra um conto, acrescentando uma sensação de deslocamento que contrasta com o assunto, à medida que se aproxima de eventos geopolíticos dramáticos.

O cenário final é a guerra na Tchetchênia, e os momentos menores que Prilepin foca parecem ter um significado apagado. Mas estes são os espaços onde a vida existe, como o autor parece argumentar.

O texto, que abrange desde a descoberta do sexo ao enraizamento da família à vida nas trincheiras, forma um convite para refletir sobre os relacionamentos que temos com os outros, com nossos entes queridos e com nossas pátrias, com as quais talvez nunca possamos nos reconciliar.

4. ‘Den oprítchnika’, Vladímir Sorókin (2006)

Apesar de já ter inclusive visitado o Brasil durante uma Flip, Vladímir Sorókin só teve vertido ao português seu “Dostoiévski Trip” até hoje. Mas ‘Den Oprítchnika’ (em tradução livre, “O dia do Oprítchnik”, que saiu em espanhol como “El día del oprichnik” pela Alfaguara) é uma obra imperdível do polêmico Sorókin.

Um futuro distópico que parece um passado distante não tem nada de novo, mas Vladímir Sorókin chacoalhou o estilo imaginando um Império Russo ressuscitado. Muito antes de a geopolítica se mostrar estranhamente profética, Sorókin detalhou uma Rússia cada vez mais isolada que usa os sonhos de sua antiga glória como base para uma grandiosa visão social.

Os “oprítchnik” eram a guarda particular de Ivan, o Terrível, e ganharam uma reputação assustadora enquanto atravessavam o território em seus cavalos negros e aterrorizavam o povo. Assim, os oprítchnik modernos de Sorókin têm atualizações, empunham armas de laser e dirigem carros esportivos, mas continuam a tradição de estupros e pilhagem desenfreada.

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O escritor focou um dia na vida de um oficial, conferindo um imediatismo à devassidão e ao terror que transforma o que poderia ter sido um desfile grotesco em uma exploração íntima e inusitada dos fantasmas que assombram a Rússia moderna.

5. ‘Venerin volos’, Mikhaíl Chíchkin (2005)

Grande parte deste romance, que é o mais aclamado de Mikhaíl Chíchkin pela crítica, é organizado em forma de perguntas e respostas. Ainda sem tradução para o português, o título, que está ligado ao nome da planta Capillus-veneris, saiu em inglês como “Maidenhair”.

O protagonista do livro trabalha como intérprete de entrevistas em um campo de refugiados na Suíça. Os que solicitam refúgio chegam de lugares problemáticos mundo afora, principalmente da Tchetchênia, e precisam provar suas trágicas circunstâncias, o que os reduz a respostas quantificáveis.

Mas esta é só uma parte do romance. A prosa de Chíchkin se entrelaça com fatos antigos, anotações de diários e desvios filosóficos para destacar o lugar do intérprete na história. Os causos que ele traduz se misturam com as histórias de que ele se lembra e o romance se transforma em um caleidoscópio que, apesar de tornar a leitura desafiadora, mostra-se profundamente recompensador.

7. ‘Lavr’, Evguêni Vodolázkin (2012)

Este é outro título que ainda não foi lançado em português. Em inglês, ele saiu sob o título "Laurus". Nele, um curandeiro medieval chamado Arsêni é incapaz de salvar um ente querido seu e decide perambular pela Rússia antiga em busca de consolo e redenção.

Ele chega a fazer uma peregrinação a Jerusalém, onde conhece diversas pessoas em busca de uma conexão com o divino. Eles são considerados “iurôdivi”, ou seja, “loucos por Cristo”, e Arsêni se torna um deles, renunciando ao próprio nome e se auto intitulando Lavr.

Ao contrário de outros romances desta lista, o de Vodolázkin aborda temas como fé, morte, culpa e história com sem ironia. O que resta é a impressão de uma imaginação profundamente humana que sonda as profundezas do que frequentemente - e talvez preguiçosamente - é rotulado de “alma russa”.

7. ‘Zuleikha’, Guzél Iákhina (2015)

O livro, que saiu em inglês sob o mesmo título e também ainda não foi publicado em português retrata a vida de uma mulher tártara em um mundo dominado por uma mistura de islamismo e folclore, além dos limites estritos da vida na aldeia.

Um dia, tudo muda drasticamente: durante as brutais repressões de Stálin, ela é enviada a um campo de prisioneiros na Sibéria, onde dá à luz, tem que aprender a caçar e passa o inverno dormindo em uma cabana gelada na taiga.

Muitos escritores tentaram compreender os momentos mais sombrios da história soviética, mas Iákhina encontra uma maneira de renovar o tema.

Seguindo sua jornada em um tipo de inferno inconcebível, a analfabeta Zuleikha lança um novo olhar sobre a história que todos achavam conhecer. E, em um campo stalinista, a personagem se mostra mais livre do que na vida que levava anteriormente.

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