“Eu realmente pensei que alguém tinha colocado efeitos especiais extravagantes... Uau.”
Este comentário surge frequentemente quando um vídeo intitulado “Gelo do Baikal rachando” aparece na Internet. O lago mais profundo do mundo, congelado no inverno, é capaz de emitir sons curiosos, mas eles nada têm a ver com o barulho do gelo quebrando.
“Achei muito estranho que as pessoas comentassem sobre como eram geniais os ruídos, quando eram obviamente falsos. Lolol, eu não fazia ideia de que era o barulho real do gelo quebrando”, escreveu um usuário do Reddit.
Ouça você mesmo: soa mais como laser tag do que gelo quebrando sob os pés:
Este vídeo foi feito pelo fotógrafo local Aleksêi Kolganov. Em fevereiro deste ano, ele atravessou a camada de gelo sobre esquis e filmou o gelo rachando sob seus pés (sim, é uma imagem bem assustadora).
“Um turista normal, ao ver o gelo do Baikal pela primeira vez, tem medo exatamente disso: da profundidade sob a casca transparente e do som inesperado e cósmico do gelo”, escreveu Kolganov na época.
O fotógrafo explicou ao “Siberian Times” que reduziu a velocidade da gravação e aumentou o volume, pois capturar o som característico com o microfone de uma câmera pode ser difícil.
Mas as longas rachaduras e a água límpida sob o gelo são perfeitamente visíveis na superfície lisa e cristalina – este é o lago de água doce mais limpo do mundo, e por isso se pode ver tão bem através da superfície do gelo.
Kolganov explica que o gelo sobre o qual patinou tinha meio metro de espessura, motivo pelo qual as rachaduras não eram tão assustadoras ao vivo.
Muitas pessoas viajam ao lago no inverno justamente para capturar o “milagre do Baikal”: dezenas de variedades de gelo, de fendas verticais esbranquiçadas a montes pontiagudos e montículos de bolhas congeladas.
Voltemos, porém, ao som que parece tão irreal. O nome desse fenômeno físico é dispersão acústica. O som, que se parece com disparos de armas laser, é produzido quando certas frequências de som viajam através de um meio mais rápido do que outras. Quando o som viaja pelo ar, suas frequências tendem a viajar na mesma velocidade e atingir o ouvido humano ao mesmo tempo. No entanto, as ondas sonoras viajam de maneira diferente por um meio sólido, e as frequências altas e baixas são separadas. Como resultado, pode-se ouvir uma brecha entre as notas altas e baixas – a dispersão acústica.
O gelo tende a se dilatar e contrair, fazendo-o rachar e criar vibrações (também é afetado pela atividade sísmica). Essa vibração se move de forma irregular pelo gelo e é então que se ouve esses estranhos ruídos.