Raíssa Gorbatchova e a reviravolta na imagem da primeira-dama soviética; veja fotos

Casal Gorbatchov chega a Paris, 1985.

Casal Gorbatchov chega a Paris, 1985.

Michel SETBOUN/Gamma-Rapho/Getty Images
Última primeira-dama da URSS foi, sem dúvida, a mais brilhante de todas.

Sofisticada e elegante, Raíssa (também grafada como Raisa) Gorbatchov era admirada pela imprensa estrangeira, mas pela própria população soviética.

Segundo as ideias do Partido Comunista da URSS, a mulher tinha que ser e parecer, antes de mais nada, uma camarada, uma membra igual da sociedade, trabalhadora, mãe e, apenas em último lugar, mulher. A feminilidade, o interesse por roupas bonitas, penteados e maquiagem eram considerados vícios da burguesia. Assim, quase todas as esposas dos líderes soviéticos tinham uma aparência bastante modestas.

Jacqueline Kennedy e Nina Khruschov.

A esposa do último líder da URSS, Mikhail Gorbatchov, era completamente diferente. Elegante e sofisticada, ela se tornou um símbolo da Perestroika em termos de moda e estilo, inspirou muitas jovens, mas também causava irritação entre a maioria da população feminina soviética.

Última primeira-dama

Raíssa Maksímovna Titarenko nasceu na Sibéria, em 1932, filha de um engenheiro ferroviário. Depois de terminar a escola com um boletim brilhante ela entrou na Faculdade de Filosofia da Universidade de Moscou sem precisar sequer passar por exames. Lá, conheceu o futuro marido, que estudava na Faculdade de Direito.

Após a Universidade, Raíssa sacrificou sua carreira científica e a pós-graduação na capital e seguiu o marido para a região de Stavropol, para onde ele fora enviado a trabalho. Ali, ela ensinou filosofia em universidades locais e deu à luz sua única filha, Irina. 

Raisa Gorbatchov.

A família voltou a Moscou quase 20 anos depois, quando, em 1985, Mikhail Gorbatchov foi eleito secretário-geral do Comitê Central do Partido Comunista da União Soviética, ou seja, se tornou o líder da URSS.

Mikhail e Raíssa Gorbatchov em Tiumen, 1985

Gorbatchov era diferente de seus predecessores: ele era alegre, discursava fluentemente sem usar anotações, conversava com as pessoas nas ruas e, talvez o mais importante, era relativamente jovem. Foi ele quem começou a Perestroika, uma série de reformas no sistema político soviético que ficariam conhecidas internacionalmente.

Mikhail e Raíssa Gorbatchov em reunião com a rainha Elizabeth 2°, em Londres, 1991.

A primeira-dama também era diferente: acompanhava o marido em todas as viagens e reuniões com líderes estrangeiros. Ao contrário do próprio marido, Raíssa era fluente em inglês e podia se comunicar com políticos estrangeiros sem intérpretes. Ela conheceu Margaret Thatcher, a rainha Elizabeth 2° e os presidentes dos Estados Unidos.

Mikhail e Raisa Gorbachev durante encontro com Margaret Thatcher em Londres, 1989.

Ela se preocupava não apenas com seu próprio estilo, mas também com a aparência do marido, e escolhia os trajes dele. O relacionamento deles muitas vezes ia além do protocolo — quase toda a URSS sabia de seu grande amor. Até tentaram apontar nisso uma fraqueza de Gorbatchov, e muitos críticos achavam que a primeira-dama tinha poder demais nas mãos.

Mikhail e Raisa Gorbachev na Polônia, 1988.

Mitos sobre uma vida luxuosa

As soviéticas comuns não gostavam de Raíssa. Naqueles tempos difíceis, muitos consideravam um desperdício a frequência com que ela trocava de roupa. Circulavam ainda rumores de que ela comprava diamantes e roupas caras no exterior.

Raisa Gorbacheva em frente da antiga casa inglesa Anne Hathaway, 1984.

“Existem muitos mitos e especulações sobre meu extraordinário gosto por vilas, datchas, roupas luxuosas, joias”, disse a própria Gorbatchov em uma entrevista.

Ao contrário da crença popular, não era Yves-Saint Laurent (que ela amava), mas a estilista soviética Tamara Makeeva, que costurava roupas para Gorbatchov. "Raíssa gostava muito de blusas de seda com laços ou golas macias combinadas com ternos formais. Ela tinha suas próprias preferências. Por exemplo, quanto às cores, ela gostava muito de borgonha, cinza", lê-se na  versão russa da revista Vogue.

Raíssa Gorbatchova, chefe do Fundo Cultural Soviético, antes de reunião do Partido Comunista e do Soviete Supremo da URSS dedicada ao aniversário da Revolução. Kremlin de Moscou, 1987

Muitos também criticavam sua posição pública ativa — Raíssa apoiava uma variedade de projetos humanitários e hospitais, e criou o Fundo Cultural Soviético, que financiou muitos museus em tempos difíceis no final dos anos 1980.

 “Queremos ser úteis para o nosso país”, disse ela quando eu marido já tinha deixado o cargo de presidente da URSS.

Raíssa Gorbatchov morreu em 1999, após uma longa doença. Em 2022, ela completaria 90 anos.

Raíssa Gorbatchov na Índia, 1986.
Raíssa Gorbatchov mostrando à esposa do primeiro-ministro indiano Sonia Gandhi a vista do Kremlin de Moscou, 1989.
Mikhail e Raíssa Gorbatchov no aeroporto de Xangai, 1989.
Mikhail e Raíssa Gorbatchov no aeroporto de Madri, 1990.
O presidente e a primeira-dama da URSS durante a recepção do rei espanhol, de sua esposa e da herdeira do trono.
Mikhail Gorbachev and George H. W. Bush with their wives at the USA President’s country residence in Camp David, 1990.
Raíssa Gorbatchov visita uma família americana.
Raíssa Gorbatchov e a esposa de Ronald Reagan, Nancy, em Moscou, 1988.
Raíssa Gorbatchov e Nancy Reagan em Moscou, 1988.
Raíssa Gorbatchov e Barbara Bush durante a visita do presidente dos Estados Unidos, George W. Bush, em Moscou, em 1991.
Raíssa Gorbatchov e a esposa do primeiro-ministro britânico, Norma Major, antes da cúpula do G7 em Londres, 1991.
Raíssa Gorbatchov no Hospital Infantil de Londres, 1991.
Raíssa Gorbatchov durante uma visita ao Japão, 1991.
Raíssa Gorbatchov e a Imperatriz Michiko durante a visita do presidente da URSS para o Japão, 1991.

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