Quando o cristianismo chegou às terras russas, entre os séculos 10 e 11, foram alteradas ou apagadas completamente as tradições pagãs anteriores dos diversos povos que habitavam o território hoje pertencente à Rússia moderna. Com o desenvolvimento da Rússia como Estado, os cristãos locais conquistaram e subjugaram as terras ao leste: os Urais e, depois, a Sibéria.
A cristianização dos territórios recém-conquistados foi uma tática fundamental do processo de conquista. Assim, os ritos fúnebres cristãos pouco a pouco substituíram os indígenas. Ainda assim, fontes arqueológicas e históricas preservam muitas informações sobre como esses povos enterravam seus mortos antes disso.
Sepultamentos “suspensos”
Ao que parece, os sepultamentos “suspensos” eram realizados por povos da Rússia muito antes do cristianismo. Os contos folclóricos russos preservam menções de tais rituais. Bába Iagá, uma bruxa malvada, vive em uma cabana que tem “pernas de frango” e se sustenta sobre elas no meio da floresta. A cabana não tem janelas ou portas, e Bába Iagá tem uma “perna de osso” — parece que neste ponto o conto descreve o sepultamento “suspenso”, com uma carcaça enterrada em um caixão de madeira colocado em estacas de madeira.
Os “mokchas”, um grupo étnico mordiviano que vive na Rússia Central, são conhecidos por terem praticado o sepultamento de seus xamãs dessa maneira. Mais tarde, quando da cristianização da Rússia, a maioria desses túmulos foi destruída, mas a prática do sepultamento em si continuou em voga na Sibéria durante os séculos seguintes, já que o Estado russo ainda levou muito tempo para conquistar e controlar a Sibéria.
O povo “nenets” é o maior grupo étnico da Sibéria. No imaginário dos “nenets” sobre a vida após a morte, no pós-vida a alma do ser humano continua a levar o modo de vida que tinha antes. Assim, era muito importante para o povo “nenets” enterrar seus mortos rápido — diferentemente da tradição contemporânea russa. No dia seguinte após a morte, o corpo era levado ao cemitério usando cervos como meios de transporte.
Os cemitérios dos “nenets” ficavam nos topos das colinas. Depois que o corpo era levado para lá, era colocado dentro de um caixão de madeira junto com ferramentas, armas e outros objetos que o falecido poderia precisar na vida após a morte — tudo isso era dobrado ou quebrado antes para poder ser usado no outro mundo.
Os cervos que transportavam o corpo eram sacrificados no local do enterro. Mas não eram enterros, no sentido estrito, porque as gélidas terras do norte não permitiam que se cavassem buracos profundos. Assim, o caixão era coberto com galhos e deixado no local. Os aldeões também não faziam a manutenção dos túmulos: os corpos eram deixados ali para se decomporem naturalmente. Se bebês ou crianças morressem, seus corpos eram pendurados, dentro de sacos, em galhos de árvores, como uma espécie de "enterro no céu".
O povo “buriato”, que vive na região de Baikal e nas proximidades, também praticava enterros acima do solo. Eles vestiam seus parentes mortos com as melhores roupas, colocavam-nos no chão com armas, ferramentas e objetos de arreios de cavalo e então os cobriram com terra, pedras ou galhos. Eles tentavam colocar o corpo onde havia animais selvagens, para que a alma pudesse partir mais rapidamente rumo a seus ancestrais.
As tumbas de Altai
Na década de 1990, no planalto de Ukok, na República de Altai, vastos cemitérios foram descobertos por arqueólogos russos. Os túmulos do tipo “montículo” ou “kurgan”, como são chamados na Rússia, pertencem à cultura Pazirik, uma antiga sociedade cita que habitou o território entre os séculos 5 e 4 a.C.
O achado mais notável foi a chamada "Donzela do Gelo Siberiana", uma xamã tatuada que foi enterrada com seis cavalos sacrificados e muitos tesouros. Mas este foi apenas um dos muitos locais de sepultamento na região cujo corpo se apresentava surpreendentemente bem preservado. Isso se deveu às águas que inundaram os cemitérios e, depois, congelaram, preservando o conteúdo das sepulturas incrustado no gelo.
Os “kurgans” da cultura Pazirik eram realmente casinhas feitas para os mortos. Uma cabana de toras era colocada no subsolo com uma sala separada para abrigar o corpo. Completamente vestido, o corpo era colocado em um caixão de toras e, ao redor do caixão, eram depositados os pertences necessários para a vida após a morte: cavalos, arreios, tapetes, armas e até mesmo carroças e carruagens. Claro, apenas membros da cultura Pazirik nobres e ricos eram enterrados de forma tão cara e complicada.
“Kurgans” eslavos
O “kurgan” é um tipo de túmulo (um “montículo” funerário) construído sobre a sepultura. Os “kurgans” eram construídos sobretudo para as pessoas ricas e nobres — guerreiros, príncipes etc. —, e geralmente eram apenas pequenas colinas íngremes formadas sobre o túmulo. Os “kurgans” se espalharam por grande parte da Ásia Central e da Europa durante o terceiro milênio antes de Cristo.
Ainda há muitos “kurgans” eslavos na Rússia Central, mas todos eles são apenas sítios “kurgan” hoje — durante sua longa existência, todos os “kurgans” possíveis de localizar foram saqueados em busca de tesouros. Ainda assim, é possível saber como os enterros eram realizados em “kurgans”.
Era possível construir rapidamente um “kurgan” colocando terra sobre a fundação de pedras ou toras de madeira. O corpo do morto era vestido com as melhores roupas e era realizado um banquete fúnebre, juntamente com a cremação do corpo. Os restos mortais eram enterrados dentro do “kurgan” e cobertos com terra e pedras. Junto com o corpo, armas, armaduras, utensílios domésticos, dinheiro e outros itens podiam ser enterrados. Nenhuma lápide ou outros sinais eram colocados junto aos “kurgans” eslavos.
Dolmens
Os “dolmens”, túmulos megalíticos remotos, são tão antigos que sequer sabemos de quais culturas se originaram. Há “dolmens” que datam de 3000 a 2000 anos antes de Cristo. Na Rússia, a maioria está localizada no Cáucaso do Norte.
Criadas com arenito e calcário, as tumbas dos “dolmens” geralmente têm quatro paredes e telhado. Um orifício é aberto em uma das paredes, provavelmente para colocar o corpo dentro da câmara fechada. Grandes pedra eram então usadas para fechar esses orifícios. Os “dolmens” também podiam ser cobertos com “kurgans” (montículos) de terra.
Não foram encontrados vestígios de “kurgans” ou restos humanos no interior dos “dolmens” devido à antiguidade de suas estruturas. Mas podemos ter certeza de que eles foram usados como tumbas: eles são astronomicamente orientados e alguns eram claramente usados como criptas familiares e outros, como santuários.