10 personalidades russas enterradas no exterior

História
ALEKSANDRA GÚZEVA
Os russos têm uma verdadeira tara por cemitérios antigos com famosos enterrados e, quando viajam para o exterior, fazem uma verdadeira peregrinação em busca de seus compatriotas nesses locais.
  1. Anna Pavlova (1881-1931)

A prima ballerina do Teatro Marínski ganhou fama mundial graças a sua participação nos “Ballets Russes”, de Sergei Diaghilev. Mais tarde, Pavlova montou sua própria companhia de balé e criou seu próprio estilo na dança. Com o início da Primeira Guerra Mundial, ela se mudou para a Inglaterra, mas continuou a fazer turnês ativamente.

Na década de 1920, Anna Pavlova viajou meio mundo, visitando Ásia, América Latina e até Austrália e Nova Zelândia. No Brasil, onde em 1918 já havia se apresentado no Teatro da Paz, em Belém do Pará, na década de 1920 ela tomou o palco do Teatro Municipal de São Paulo e do Teatro Municipal do Rio de Janeiro.

Alguns países que a receberam então assistiam pela primeira vez a uma apresentação de balé. Pavlova morreu após pegar um resfriado em uma sala de ensaios gelada. Suas cinzas estão no columbário do crematório Golders Green, o primeiro de Londres.

  1. Ivan Búnin (1870-1953)

O primeiro russo a ganhar o Prêmio Nobel de Literatura deixou a Rússia em 1920, após a Revolução e a Guerra Civil. Sucessor da tradição literária de Tolstói e Dostoiévski, Búnin se estabeleceu em Paris e reuniu um círculo de escritores emigrados da Rússia ao seu redor.

Após a Segunda Guerra Mundial, o governo soviético o convidou a retornar à terra natal ou, pelo menos, fazer uma visita, mas ele se recusou, usando a idade como desculpa. Nos últimos anos de vida, o escritor teve uma grave doença pulmonar. Ele foi enterrado no cemitério parisiense de Sainte-Genevieve-des-Bois, local de descanso de muitos imigrantes russos no país.

  1. Dmítri Merejkóvski (1865-1941) e Zinaída Guippius (1869-1945)

Assim como Búnin, este brilhante casal da Era de Prata da literatura russa se recusou a aceitar a Revolução Bolchevique e se estabeleceu em Paris, em 1920. Os dois acreditavam que a principal missão do Ocidente era a de libertar a Rússia do bolchevismo, e para isto estavam prontos até mesmo a apoiar Mussolini e Hitler.

Devido a seu radicalismo, foram expulsos de seu apartamento em Paris e a maioria dos emigrados russos se recusou a ter qualquer ligação com eles. Merejkóvski morreu em 1941 e Guíppius, quatro anos depois. Eles estão enterrados juntos no cemitério de Sainte-Genevieve-des-Bois.

  1. Vaslav Nijínski (1889-1950)

Outra estrela dos “Ballets Russes” de Sergei Diaghilev, Nijínski era também seu amante. Mas, durante uma viagem ao exterior em 1913, ele se casou secretamente com uma fã. Diaghilev expulsou Nijínski de sua companhia de balé e o grande dançarino teve dificuldade em estabelecer carreira solo por conta própria.

No início da Primeira Guerra Mundial, Nijínski, com a mulher e os dois filhos partiram para São Petersburgo. Diaghilev o perdoou e ofereceu-lhe vários papéis brilhantes, assim como a possibilidade de viajar para o exterior.

Mas o sucesso de Nijínski no palco durou pouco: logo ele foi diagnosticado com uma doença psíquica e passou muitos anos em tratamento em uma clínica em Viena. Ele morreu em Londres, mas três anos depois seus restos mortais foram transferidos para Paris e enterrados no Cemitério de Montmartre.

  1. Mathilde Kschessinska (1872-1971)

A famosa bailarina e amante do último tsar russo foi forçada a deixar sua luxuosa mansão no centro de São Petersburgo, que foi ocupada pelos bolcheviques. Kschessinska tinha uma villa no interior da França, mas se estabeleceu em Paris, onde abriu um estúdio de balé. Ela viveu quase 100 anos e foi enterrada no cemitério de Sainte-Genevieve-des-Bois com o marido, o grão-duque Andrêi Vladímirovitch Romanov, e o filho.

  1. Ígor Stravínski (1882-1971)

Um dos compositores russos mais destacados do século 20, Sttavínski compôs muitos sucessos do “Ballets Russes”, de Diaghilev. Seus balés “O Pássaro de Fogo”, “Petrúchka” e “A Sagração da Primavera”, escritos em estilo neo-russo, levaram fama mundial a Stravínski. Quando a Primeira Guerra Mundial começou, o compositor e sua família estavam na Suíça e decidiram não retornar à Rússia, que logo foi tomada pela Revolução.

Stravínski continuou a compor e obteve muito sucesso. Morou na Suíça e em Paris, e viajou pelos Estados Unidos, onde decidiu emigrar com a eclosão da Segunda Guerra Mundial. O compositor morreu em Nova York, mas foi enterrado no cemitério de San Michele, em Veneza.

  1. Vladímir Nabôkov (1899-1977)

O pai de Nabôkov era político e adversário dos bolcheviques. Por isso, com o início da Guerra Civil, toda a família teve que deixar a Rússia. Nabôkov estudou na Inglaterra e, depois, morou em Berlim e Paris. A mulher do escritor, Vera, era judia e, por isso, com a eclosão da Segunda Guerra Mundial, a família fugiu para os Estados Unidos.

Nos Estados Unidos, Nabôkov lecionou literatura russa na universidade e escreveu vários romances famosos em inglês. Em 1960, ele retornou à Europa e passou seus últimos anos em Montreux, na Suíça, dedicando-se a sua atividade favorita: colecionar e estudar borboletas. Ele foi enterrado no cemitério da aldeia de Clarens, perto de Montreux.

  1. Andrêi Tarkóvski (1932-1986)

Depois de uma viagem de trabalho à Itália, Tarkóvski, que era um dos diretores soviéticos mais famosos da época, decidiu não retornar à terra natal e tornou-se persona non grata na URSS.

Tarkóvski conseguiu rodar apenas dois filmes no exterior: em 1985, ele foi diagnosticado com câncer de pulmão e, em 1986, morreu no apartamento de um amigo, em Paris, onde estava hospedado. Tarkóvski também está enterrado no cemitério de Sainte-Genevieve-des-Bois. Sua lápide foi criada pelo renomado escultor Ernst Neizvestny.

  1. Rudolf Nureyev (1938-1993)

Eis outro dançarino brilhante em um famoso cemitério parisiense. Nureyev foi um dos primeiros artistas soviéticos a desertar durante uma viagem ao exterior. Ele se tornou uma superestrela no Ocidente, se apresentando na Dinamarca, Inglaterra, Áustria.

Mais tarde, ele passou muitos anos liderando a trupe de balé da Ópera de Paris. Ele era abertamente gay e morreu por complicações decorrentes da AIDS. O mosaico de tapete oriental sobre seu túmulo no cemitério de Saint-Genevieve-des-Bois é um retorno a suas raízes tártaras e à infância, que passou em Ufá.

  1. Joseph Brodsky (1940-1996)

Este é outro vencedor do Prêmio Nobel de Literatura e um poeta que ainda goza de incrível popularidade na Rússia. Sua personalidade “não batia” com o regime soviético e a estrutura social local: ele chegou até a passar um tempo na prisão por “parasitismo social”, já que era poeta e não tinha oficialmente emprego.

Posteriormente, as autoridades o forçaram a deixar o país, embora ele próprio estivesse buscando meios de emigrar e até considerando um casamento falso para esse fim. Brodsky mudou-se para os EUA e lecionou literatura russa ali.

Mas ele tinha especial carinho por Veneza, que visitava todos os invernos, vagando pelos canais que lhe remetiam à terra natal, Leningrado. Dedicado à cidade, escreveu o livro “Marca d’água”. Brodsky morreu nos EUA, mas foi enterrado em Veneza, no cemitério de San Michele.

LEIA TAMBÉM: 4 cemitérios altamente culturais que vale visitar em Moscou