7 motivos para se apaixonar por Vladímir Nabôkov

Getty Images
Escritor, trilíngue e amante de múltiplas ciências. Quer mais razões para não desgrudar dos livros do autor de ‘Lolita’? Então confira nossa lista.

O escritor Vladímir Nabôkov (1899-1977) ficou conhecido por seu brilhantismo como romancista e tradutor, além de ser um destacado entomologista e talentoso enxadrista. Quase todo mundo leu, viu o filme ou pelo menos ouviu falar de “Lolita”, obra que narra o caso de amor de um homem adulto com uma adolescente de 12 anos de idade.

A controversa obra catapultou Nabôkov ao sucesso global, mas também lhe fechou as portas a um Prêmio Nobel. O escritor é, porém, muito mais do que esta obra apenas, e viveu em muitos países, fugindo inicialmente dos bolcheviques e, depois, dos nazistas. Então, fique por dentro deste panorama de suas contribuições para a cultura mundial:

1. Traduziu ‘Alice no País das Maravilhas’ para o russo

Aos 20 anos de idade, Nabôkov deixou a Rússia junto com a família, pois o pai se envolveu com a política durante a Revolução Russa, posicionando-se contra os bolcheviques. Nabôkov foi estudar no Trinity College, em Cambridge, onde fundou a Slavonic Society - que mais tarde tornou-se a Sociedade Russa da Universidade de Cambridge.

Durante o período, Nabôkov escreveu poemas em russo e fez a primeira tradução de “Alice no País das Maravilhas”, de Lewis Carroll, para o russo. É interessante notar que Carroll escreveu o romance depois de visitar São Petersburgo, onde Nabôkov nasceu.

2. Escreveu oito romances extraordinários em russo

Após estudar na Inglaterra, Nabôkov mudou-se para Berlim, onde se casou com Vera Slonim. Foi ali também que nasceu seu filho Dmítri, que mais tarde passou a defender a preservação do legado do pai, traduzindo seus romances e até mesmo publicando sua última obra inacabada “O original de Laura”.

Devido a seu apressado exílio, um dos leitmotifs de Nabôkov é a nostalgia. Alguns de seus romances escritos em russo enquanto ele vivia na Europa exploram a questão da saudade da terra natal, além de chamar a atenção para a comunidade de imigrantes russos em Berlim e Paris.

“Mashenka”, “A Defesa”, “O Presente”, “Convite para uma decapitação” e outras obras foram publicadas em russo na Europa e ganharam reconhecimentos entre os imigrantes russos. Embora as obras não tenham sido publicadas na União Soviética até a Perestroika, hoje elas são consideradas obras-primas também na Rússia.

Os romances de Nabôkov refletem sua profundidade intelectual, eles mostram um homem espiritualmente rico passando por problemas com a vulgaridade do mundo externo. Eles são altamente metafísicos, viajando entre a imaginação de Nabôkov, locações reais em Berlim, memórias de sua terra natal e o mundo das pessoas comuns.

3. Fez palestras importantes sobre literatura russa

Um crescente antissemitismo levou Nabôkov a fugir de Berlim e partir para Paris, antes de deixar completamente a Europa e se estabelecer nos Estados Unidos em 1940. Ali, ele deu palestras sobre literatura russa e lecionou no Wellesley College, onde fundou o Departamento Russo e, depois, o da Universidade de Cornell.

O pesquisador Fredson Bowers publicou o texto completo das palestras de Nabôkov em inglês com uma introdução do autor. Nelas, Nabôkov apresenta os clássicos russos mais importantes para o público norte-americano e, ao mesmo tempo, joga novas luzes sobre eles. Entre seus temas estão Nikolai Gôgol, Ivan Turguênev, Fiódor Dostoiévski, Lev Tolstói, Anton Tchékhov e Maksím Górki.

4. Foi um aclamado pesquisador de borboletas

Nabôkov com rede de caçar borboletas na Suíça, por volta de 1975.

Além de trabalhar como professor de literatura, Nabôkov foi curador da coleção de borboletas no Museu de Zoologia Comparativa da Universidade de Harvard. Ele era obcecado por borboletas e reuniu uma enorme coleção desses insetos, com a qual sua mulher Vera presenteou a Universidade de Lausanne após a morte de Nabôkov.

Ele escreveu mais de 25 artigos e livretos sobre lepidopterologia e criou uma nova classificação para o gênero Polyommatus de borboletas. Ele menciona esses insetos cerca de 570 vezes em suas obras de ficção.

Há uma grande quantidade de pesquisas sobre as borboletas na obra de Nabôkov, e críticos literários sugerem que alguns desses insetos descritos nos romances de Nabôkov fazem alusões à vida real.

Assim, por exemplo, em “O Presente”, uma borboleta amarela voa por locais de São Petersburgo que lhe relembram o pai, enquanto no autobiográfico “Outras margens” (ainda não publicado em português, mas vertido ao idioma pela tradutora e especialista em Nabôkov Graziela Schneider Urso em sua tese de doutorado, disponível aqui), a rota de uma Papilionidae simboliza o caminho que o avô de Nabôkov, revolucionário dezembrista, tomou rumo a seu exílio na Sibéria.

5. Traduziu Eugênio Onéguin para o inglês

O romance em versos de Aleksandr Púchkin é uma das peças mais desafiadoras para qualquer tradutor do russo devido a suas estrofes especiais e à estrutura das rimas. Nabôkov escolheu não seguir a estrutura de Púchkin em sua tradução, afirmando que manter a rima e ritmo original mataria o espírito de Púchkin e a essência literária do trabalho.

Assim, ele traduziu a obra em prosa com dois volumes de detalhados comentários. A obra se tornou fundamental para tradutores e pesquisadores interessados ​​em “Eugênio Onéguin”. Nabôkov criticou fortemente seu contemporâneo Walter Werner Arndt, que havia publicado uma tradução de “Eugênio Onégin” um ano antes, em 1963, mantendo a estrofe estrutura e rimas. A obra, aliás, terá uma nova versão em português saindo do forno em 2019 pelos tradutores Alípio Correia Neto e Elena Vássina - após a versão do embaixador Dário Moreira de Castro Alves, de 2010.

Além de “Eugênio Onégin”, Nabôkov traduziu o clássico de Mikhaíl Lêrmontov “O Herói do Nosso Tempo”, para o inglês. Ele também foi o primeiro a traduzir “O Conto da Campanha de Igor”, poema épico sobre o século 12 que foi escrito no século 15.

6. Escreveu ‘Lolita’

A obra, que Nabôkov escreveu durante uma viagem para coletar borboletas, ficou em quarto lugar na lista de 100 melhores romances em inglês da “Modern Library”. Isto porque Nabôkov a escreveu inicialmente em inglês, para somente depois vertê-la ao russo. O livro lhe rendeu sucesso mundial e foi adaptado para o cinema e o teatro diversas vezes.

Outra grande obra que Nabôkov escreveu em inglês foi sua autobiografia, “Fala, Memória: Uma Autobiografia Revisitada” (que, no Brasil, saiu pela Editora Alfaguara). Nela, o escritor relata sua infância em uma família nobre russa de São Petersburgo a partir de 1903 e o período de sua emigração, até 1940. Existe também uma edição anterior de suas memórias em russo intitulada “Outras margens” (disponível em português na tese de doutorado de Graziela Schneider Urso).

7. Intelectual e gênio

Como talvez já esteja claro, Nabôkov era um homem extremamente inteligente que tinha tanto habilidades científicas, como linguísticas. Ele era realmente trilíngue e, certa vez, comentou: “minha cabeça fala em inglês, meu coração, em russo, meu ouvido, em francês”.

Ele aplicou todas essas habilidades para escrever, lecionar e traduzir. Ele também tinha um dom na sinestesia, que se manifestava ao “ver” a música e tendo um determinado sentimento sobre a cor de certos sons e letras. Isto é algo bastante raro que outros intelectuais renomados experimentaram, como Isaac Newton, Goethe e Carl Jung.

Outra curiosidade sobre Nabôkov é que ele escreveu seus romances em fichas (de fichários de anotações). Ele tinha milhares delas e só ele mesmo conseguia entender sua ordem e significado. Quando o filho publicou “O original de Laura”, ele se encarregou de montar esse quebra-cabeça. Talvez não seja, portanto, de surpreender que haja muitos críticos discordando das escolhas de Dmítri.

Nabôkov também era fã de xadrez e resolvia questões do jogo. Diversos de seus romances mencionam o xadrez ou têm o xadrez como motif. O mais destacado nessa área, é, provavelmente, “A defesa”, que tem um grande enxadrista como personagem principal.

LEIA TAMBÉM: 8 escritores russos e seus bichinhos de estimação

Autorizamos a reprodução de todos os nossos textos sob a condição de que se publique juntamente o link ativo para o original do Russia Beyond.

Leia mais

Este site utiliza cookies. Clique aqui para saber mais.

Aceitar cookies