Se estiver discutindo com os russos, certifique-se de gritar mais alto – isso o ajudará a vencer. Funciona o tempo todo. Como aprendi essa lição? Bem...
Eu estava viajando de volta da ilha Olkhon, no lago Baikal, para Irkutsk. A van estava bem vazia: apenas o motorista, outro viajante, uma russa e eu. O motorista parou em um posto de gasolina e decidimos comprar comida. Obviamente, não estávamos planejando terminar nossa jornada ali, mas, quando saí da lojinha com meu colega de viagem, a van estava partindo!
Imagine só: estávamos no meio da Sibéria nevada! Todos os meus documentos e pertences estavam na van. O outro cara nem tinha colocado a jaqueta. Voltamos para a loja. As pessoas lá dentro ficaram bem preocupados com o ocorrido. Eles não falavam inglês, mas tentavam nos fazer sentir um pouco melhor. O outro cara estava quase chorando. Os locais que estavam na loja me ajudaram a ligar para o lugar onde ficamos em Olkhon, que é bem pequeno e não lotado no inverno, então, todos se conhecem. O gerente do hotel chamou o motorista e disse a ela para voltar para nos pegar. Então ele voltou e começou a gritar comigo. Comecei a gritar com ele ainda mais alto. Só então ele percebeu que eu estava com mais raiva e recuou.
Sobrevivendo ao frio
A parte mais difícil da minha viagem foi enfrentar as baixas temperaturas. Eu peguei -32°C em Ulan-Ude. Via de regra, certifique-se de usar diversas camadas de roupas. Ao aprender isso, fui capaz de fazer caminhadas quando estava até -20°C.
Além disso, quando a temperatura cai, as pessoas na Rússia estão mais dispostas a ajudá-lo. De um modo geral, aperfeiçoei minhas habilidades de sobrevivência e não tenho mais medo do frio. E eu ainda quero ir a lugares onde eu não estive: Iakutsk, Kamtchatka e aldeias próximas ao Ártico.
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Pode parecer idiota, mas você deve ser muito bom em beber álcool se quiser sobreviver na Rússia. Aceitar uma bebida oferecida é uma obrigação na etiqueta russa, não há como recusar. Por outro lado, os russos não bebem tanto quanto as pessoas pensam: nas boates, a maioria das pessoas estão sóbrias. Tem mais a ver com hospitalidade e fazer com que os convidados se sintam relaxados, estejam na mesma página que eles, mesmo que falem um idioma diferente.
Eis a verdadeira Rússia
A experiência mais russa que eu tinha foi em uma datcha (casa de campo) perto do lago Baikal. Nós comemos sushi caseiro com omul e fomos à bânia (sauna russa). E era inesperadamente quente. Não se deve usar nada além de um chapéu. Toda a cerimônia, inclusive ser ‘espancado’ por ramos de bétula, deixa você louco o suficiente para sair e rolar nu na neve. Foi fantástico. Nós só ficamos bebendo cerveja. Depois de algumas horas, eu estava me sentindo bem bêbado.
Outra experiência única na Rússia é dar um passeio a bordo de um trem em platzkart (terceira classe). Ao contrário da primeira classe ou classe econômica, onde se fica preso às mesmas pessoas em uma pequena cabine durante toda a viagem, viajar de platzkart (um vagão inteiro com camas) é mais sociável e barato.
Viajando assim, você definitivamente conhece alguns russos interessantes. Devo dizer também que a condutora do trem (provodnitsa, em russo) foi incrivelmente útil. Essas senhoras me ajudaram demais: toda vez que precisava carregar meu telefone, bastava apenas sorrir para elas.
Em comparação com os brasileiros, qualquer que seja sua profissão, nós já somos assim: “Está bom o suficiente! Vamos celebrar!”. Mas os russos realmente querem ser os melhores naquilo que fazem.
Os russos também são diferentes dos brasileiros porque são patriotas. Eles sabem sua história e se orgulham disso. Ao contrário dos brasileiros individualistas, eles têm mais senso de comunidade, senso de um país unido. Há um monumento a Lênin em todas as cidades. Há até uma grande cabeça dele no centro de Ulan-Ude. O primeiro navio nuclear, baseado em Murmansk, leva seu nome. Osrussos cantam o hino nacional na véspera de Ano Novo. Isso me surpreendeu! A maioria dos brasileiros já estão provavelmente bêbados antes de bater meia-noite.
Entrevistado por Dária Amínova
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