Surpresa na Rússia: como Depardieu enfim encontrou uma ‘vida pacífica’

Estilo de vida
ALEKSÊI TIMOFEITCHEV
O ator Gérard Depardieu, que decidiu trocar a cidadania francesa pela russa em 2013, já confessou estar mexido pelo país. Veja as 3 coisas que mais o impressionam.
  1. ‘Vida pacífica’

Conhecido por seu temperamento, o ator francês encontrou na Rússia algo que, segundo ele, falta na Europa, a “tranquilidade do tradicionalismo”.

Em seu último livro, “Monstre”, o ator confessa estar impressionado com a “vida pacífica” das regiões interioranas russas.

O livro menciona Saratov, uma cidade às margens do rio Volga (cerca de 860 quilômetros a sudeste de Moscou). Seus habitantes, que “passam tempo com prazer”, lembraram-no das cenas de “La Dolce Vita”, de Fellini.

No Volga, conheceu “vovós russas encantadoras” que “recordavam com nostalgia os tempos comunistas e a irmandade das nações, ainda que vivessem em aldeias, onde o comunismo, essencialmente, não chegou a existir”.

O ator gostou especialmente da cidade de Saransk, na República da Mordóvia (500 quilômetros a sudeste de Moscou). Lá, Depardieu se apaixonou por seu estilo de vida bucólico, elogiando o fato de que as pessoas da região ainda “pescam os góbios [espécie de peixe] nos rios, ordenam vacas e usam jarros de leite. Suas fazendas leiteiras não se parecem com as nossas: elas não se parecem com centrais atômicas”.

“As pessoas aqui vivem do que elas próprias cultivam. As famílias não se separam: irmãos e irmãs e seus primos moram a poucos quilômetros uns dos outros. (...) Problemas e medos são apenas aqueles que afetam as pessoas ou seus vizinhos e não aqueles criados pela imprensa. (...) As pessoas não carregam todas as dificuldades do mundo em seus ombros. Seus sorrisos e lágrimas pertencem apenas a elas”, explicou Depardieu, alegando que essas coisas não existem mais na França.

  1. Ao telefone com Putin

A afeição de Depardieu pelo país anda de mãos dadas com o afeto por seu líder.

O presidente russo Vladimir Putin concedeu em 2013 a nacionalidade russa ao ator, que estava insatisfeito com o aumento de impostos para os ricos na França.

“Não só estou tendo uma aventura com a Rússia, [o país] realmente me encanta. Estando no exterior, moro muito fora da França, me sinto um verdadeiro russo. Com o tipo de presidente que temos agora na França [na época, fevereiro de 2016], não é de se surpreender que eu me sinta mais russo. Não há comparação [entre o presidente Putin e seu então homologo francês Holland]. Eu não quero me envolver em política aqui; sou indiferente à política. Mas tenho um enorme respeito por Vladimir Putin e pelo que ele faz, e eu respeito a nação russa”, declarou o ator há dois anos.

Depardieu menciona com frequência sua amizade com Putin. “Eu sou um amigo de Vladimir Putin. Ele tem uma personalidade muito forte. A Rússia precisa de um líder exatamente como ele”, disse, em junho de 2013.

Em outra entrevista, no ano passado, também destacou os pontos fortes do presidente russo: “Putin tem liberdade real e não segue nenhum protocolo. O que eu gosto em Putin é que ele se comporta como ele é. Ele é uma pessoa solitária que chega a sentir dor física. Eles dizem que ele tem muito dinheiro. Não!”.

Segundo Depardieu, os dois trocam telefonemas regularmente, nos quais discutem questões políticas prementes, como a participação de Putin nas eleições presidenciais. “Falei com Vladimir Putin por telefone há dois dias. Ele disse que planejava concorrer [como candidato]”, disse Depardieu, em dezembro de 2017.

Putin participou das eleições de 18 de março de 2018 e conquistou uma vitória esmagadora. O ator cumpriu seus deveres cívicos como cidadão russo e foi até a embaixada russa em Paris para votar.

  1. A misteriosa alma russa

Depardieu e Putin não só trocam telefonemas, como o presidente também está envolvido no trabalho artístico do ator. Pelo menos foi o caso do filme “Raspútin”, em que o francês interpreta o personagem principal.

“Eu dei a ele o roteiro para ler e perguntei se havia alguma distorção da história do país. Putin aprovou o roteiro e isso nos abriu as portas de Tsárskoie Selô e do Palácio de Iussúpov”, disse ele, em 2013, ao apresentar o filme na Rússia.

No caso de Raspútin, o místico próximo à última família real russa, Depardieu foi atraído pelo “mistério da alma russa incorporado àquela figura”, reconheceu. “Pensei que havia um pouco de Raspútin em cada um de nós. O que é Raspútin? É a energia da vida. É a vitalidade que vive em todos. Nesse sentido, todos temos um pouco de Raspútin dentro de nós. É um personagem eterno, como o Corcunda de Notre-Dame.”

Depardieu também já confessou que “adora história russa”, em uma carta aberta aos jornais russos no início de 2013, quando ganhou a cidadania russa.

“Eu amo a cultura e a maneira de pensar. Meu pai era comunista e ouvia a Rádio Moscou. Também faz parte da minha cultura. É bom viver aqui”, escreveu o ator.

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