A partir dos anos 1970, a URSS começou a fazer cada vez mais desenhos animados livres, sem qualquer objetivo de “edificar o novo homem soviético”, como acontecia com muito da produção cultural do país para a infância até então.
Algumas dessas produções tinham um significado tão filosófico ou metafórico que nem todo mundo conseguia entender que recado o diretor queria passar. Parte desses filmes, aliás, não era para ser entendida.
Este curta-metragem é há muito um clássico da animação soviética. À primeira vista, ele pode parecer um simples conto sobre a amizade entre um porco espinho e um ursinho.
Nele, um porco-espinho vai visitar um filhote de urso e, no caminho, acaba adentrando um nevoeiro onde coisas estranhas começam a acontecer: ele encontra um lindo cavalo branco selvagem, tropeça em uma árvore que representa um portal para outro mundo, é perseguido por uma coruja e morcegos aterrorizantes e quase se afoga em um rio. No final, ele consegue encontrar o amigo e eles bebem chá e contam estrelas juntos.
Nem todo mundo sabe, mas o desenho tem uma infinidade de referências à “Divina Comédia”, de Dante Alighieri.
"Quando estávamos desenhando o porco-espinho, observamos “O Salvador”, de Andrei Rublióv. Queríamos uma sensação de protagonista mundano: seu olhar, seus movimentos...”, conta o diretor.
"É a história de como nosso estado normal pode se tornar de repente catastrófico sob a influência de circunstâncias que sequer suspeitamos existir", diz.
Mais sobre o filme aqui.
Este musical de dez minutos é baseado no conto "A cidadezinha na Tabaqueira", escrito pelo escritor e musicólogo russo Vladimir Odoevski (e incluso no livro “Contos Russos Infantojuvenis”, da editora Kalinka).
Na história, um garotinho tenta descobrir como funciona uma tabaqueira e entrar nela. Como em um sonho, o menino imagina que realmente entrou lá, e dentro da tabaqueira havia uma cidade inteira.
As cores brilhantes e o estilo arrojado realçam a impressão das cenas caóticas no "mundo" da tabaqueira – e tudo junto pode parecer até assustador.
Na história, um artista se aventura ao ar livre, mas seus planos são frustrados por uma criatura alienígena que desce à Terra e tenta entender o mundo ao seu redor através de uma cópia. Como resultado, o artista ensina o alienígena a assobiar a música "Speak Softly Love", do filme "O Poderoso Chefão".
Robert Sahakiants dirigiu no estúdio Armenfilm os filmes que talvez tenham sido os mais estranhos desta seleção – mas, ao mesmo tempo, eles eram cheios de moralidade.
Neste título, um velho pesca um peixe falante que pede para ser solto e diz: "Faça o bem e jogue-o na água. Ele não vai sumir, ele retornará o bem a ti ".
O velho solta o peixe, mas agora não tem nada para comer e, desesperado, suspira forte, convocando acidentalmente a besta. Um viajante salva o velho quando começa a falar sobre a besta – no final das contas, ele era o peixe reencarnado que o velho soltou.
A natureza psicodélica dos desenhos animados se manifesta na arte: o monstro transforma-se sem parar de uma imagem a outra. O efeito adicional vem do diálogo surreal entre o peixe-viajante e o monstro. O peixe dá uma resposta incompreensível e complicada a cada pergunta do monstro, criando assim um discurso sem sentido e totalmente louco, que acaba irritando o monstro - ele voa para o espaço, onde é atingido por um meteoro.
Neste desenho animado, o espectador encontra o mesmo velho do filme anterior pescando com seu neto, mas eles acidentalmente pegam um navio e liberam um antigo feiticeiro, que rouba o moço para fazer dele seu herdeiro.
Todo o reino dos feiticeiros convence o menino a ficar e canta a canção "Fique conosco menino, você será nosso rei". Este é o episódio mais louco de ácido do desenho animado!
Há muitas cenas estranhas no desenho animado: um ser meio homem, meio peixe, com lábios enormes, um crocodilo com um piscar de olhos maquinal, peixes com pernas humanas, monstros devoradores de navios e um aquário no fundo do mar.
O narrador, saltando de um assunto ao outro, conta a história de um homem que vai à floresta atrás de uma árvore de Natal. Ele não consegue cortar uma árvore - ele foi apanhado no turbilhão de coisas absurdas e só conseguiu fazê-lo na terceira tentativa, já na primavera.
Segundo o diretor, o estúdio rejeitou o primeiro título do desenho animado, e ele trouxe então o definitivo, que lhe veio em um sonho. Para não esquecê-lo, o diretor escreveu-o no chão com o batom de sua esposa.
Embora o filme tenha sido feito em 1985, ele só foi lançado nos cinemas um ano depois e em uma versão diferente. O chefe do estúdio de cinema se recusou a lançar o filme, dizendo que ele era feio e incompreensível.
O desenho tem apenas quatro minutos: um abutre tenta ensinar um avestruz a voar, mas, no final, descobrimos que o avestruz corre mais rápido do que o abutre pode voar - a "disputa" entre asas e pernas é vencida pelo avestruz.
"Acredite em mim, não há necessidade de brigar por qualquer coisinha ": esta frase é repetida muitas vezes na canção deste desenho e transmite seu espírito.
A trama gira em torno de um casal que briga por suspeitas mútuas de adultério na noite de Ano Novo. A esposa diz que eles não se entendem porque ela é um cavalo e ele é um macaco - de acordo com o calendário japonês.
Eles se transformam nestes animais e a esposa, transformada em cavalo se fica no caminho do trem do Papai Noel (sim, porque ele visita a Rússia não no Natal, mas no Réveillon). Por isso, o Ano Novo não consegue chegar.
Um estudante está escrevendo uma redação, intitulada "Minha Família", e, ao mesmo tempo, assistindo a um popular programa de TV sobre turismo e viagens, o "Clube de Viajantes".
Os pensamentos do menino se entrelaçam com a narração do apresentador de TV e a redação vira uma viagem ensandecida: "Espalhada entre os Urais e o Altai está minha avó. Sobre ela cresce musgo, cogumelos e líquens".
Neste estilo, o menino escreve sobre cada membro da família e sua descrição é acompanhada por uma sequência de vídeo cheia de fantasia.
O desenho começa com uma definição da palavra "frustração" e é seguido por uma imagem de um cão uivando na lua. A lua é colocada em um moedor de carne e a substância resultante produz criaturas de aspecto estranho que devoram umas as outras.
Alguns interpretaram o desenho animado como uma sátira política sobre as transformações ocorridas no país, que não teriam levado a nada. Outros, o interpretaram como uma parábola filosófica sobre a futilidade da existência.
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