10 desenhos animados soviéticos ultra psicodélicos

Vladimir Tarasov/Soyuzmultfilm, 1978
De filosóficos a obscuros, os desenhos mais encharcados em ácido do final da URSS!

A partir dos anos 1970, a URSS começou a fazer cada vez mais desenhos animados livres, sem qualquer objetivo de “edificar o novo homem soviético”, como acontecia com muito da produção cultural do país para a infância até então.

Algumas dessas produções tinham um significado tão filosófico ou metafórico que nem todo mundo conseguia entender que recado o diretor queria passar. Parte desses filmes, aliás, não era para ser entendida.

  1. Porco Espinho no Nevoeiro (1975, Yuri Norstein)

Este curta-metragem é há muito um clássico da animação soviética. À primeira vista, ele pode parecer um simples conto sobre a amizade entre um porco espinho e um ursinho.

Nele, um porco-espinho vai visitar um filhote de urso e, no caminho, acaba adentrando um nevoeiro onde coisas estranhas começam a acontecer: ele encontra um lindo cavalo branco selvagem, tropeça em uma árvore que representa um portal para outro mundo, é perseguido por uma coruja e morcegos aterrorizantes e quase se afoga em um rio. No final, ele consegue encontrar o amigo e eles bebem chá e contam estrelas juntos.

Nem todo mundo sabe, mas o desenho tem uma infinidade de referências à “Divina Comédia”, de Dante Alighieri.

"Quando estávamos desenhando o porco-espinho, observamos “O Salvador”, de Andrei Rublióv. Queríamos uma sensação de protagonista mundano: seu olhar, seus movimentos...”, conta o diretor.

"É a história de como nosso estado normal pode se tornar de repente catastrófico sob a influência de circunstâncias que sequer suspeitamos existir", diz.

Mais sobre o filme aqui.

  1. A caixa do segredo (1976, Valéri Ugarov)

Este musical de dez minutos é baseado no conto "A cidadezinha na Tabaqueira", escrito pelo escritor e musicólogo russo Vladimir Odoevski (e incluso no livro “Contos Russos Infantojuvenis”, da editora Kalinka).

Na história, um garotinho tenta descobrir como funciona uma tabaqueira e entrar nela. Como em um sonho, o menino imagina que realmente entrou lá, e dentro da tabaqueira havia uma cidade inteira.

As cores brilhantes e o estilo arrojado realçam a impressão das cenas caóticas no "mundo" da tabaqueira – e tudo junto pode parecer até assustador.

  1. Contato (1978, Vladimir Tarassov)

Na história, um artista se aventura ao ar livre, mas seus planos são frustrados por uma criatura alienígena que desce à Terra e tenta entender o mundo ao seu redor através de uma cópia. Como resultado, o artista ensina o alienígena a assobiar a música "Speak Softly Love", do filme "O Poderoso Chefão".

  1. Uau, um peixe que fala! (1983, Robert Shakiants)

Robert Sahakiants dirigiu no estúdio Armenfilm os filmes que talvez tenham sido os mais estranhos desta seleção – mas, ao mesmo tempo, eles eram cheios de moralidade.

Neste título, um velho pesca um peixe falante que pede para ser solto e diz: "Faça o bem e jogue-o na água. Ele não vai sumir, ele retornará o bem a ti ".

O velho solta o peixe, mas agora não tem nada para comer e, desesperado, suspira forte, convocando acidentalmente a besta. Um viajante salva o velho quando começa a falar sobre a besta – no final das contas, ele era o peixe reencarnado que o velho soltou.

A natureza psicodélica dos desenhos animados se manifesta na arte: o monstro transforma-se sem parar de uma imagem a outra. O efeito adicional vem do diálogo surreal entre o peixe-viajante e o monstro. O peixe dá uma resposta incompreensível e complicada a cada pergunta do monstro, criando assim um discurso sem sentido e totalmente louco, que acaba irritando o monstro - ele voa para o espaço, onde é atingido por um meteoro.


  1. Em um Mar Azul, na Espuma Branca (1983, Robert Saakyants)

Neste desenho animado, o espectador encontra o mesmo velho do filme anterior pescando com seu neto, mas eles acidentalmente pegam um navio e liberam um antigo feiticeiro, que rouba o moço para fazer dele seu herdeiro.

Todo o reino dos feiticeiros convence o menino a ficar e canta a canção "Fique conosco menino, você será nosso rei". Este é o episódio mais louco de ácido do desenho animado!

Há muitas cenas estranhas no desenho animado: um ser meio homem, meio peixe, com lábios enormes, um crocodilo com um piscar de olhos maquinal, peixes com pernas humanas, monstros devoradores de navios e um aquário no fundo do mar.

  1. Caiu a neve do ano passado (1983, Aleksandr Tatarski)

O narrador, saltando de um assunto ao outro, conta a história de um homem que vai à floresta atrás de uma árvore de Natal. Ele não consegue cortar uma árvore - ele foi apanhado no turbilhão de coisas absurdas e só conseguiu fazê-lo na terceira tentativa, já na primavera.

Segundo o diretor, o estúdio rejeitou o primeiro título do desenho animado, e ele trouxe então o definitivo, que lhe veio em um sonho. Para não esquecê-lo, o diretor escreveu-o no chão com o batom de sua esposa.

  1. Asas, Pés e Caudas (1985, Aleksandr Tatarski e Igor Kovaliov)

Embora o filme tenha sido feito em 1985, ele só foi lançado nos cinemas um ano depois e em uma versão diferente. O chefe do estúdio de cinema se recusou a lançar o filme, dizendo que ele era feio e incompreensível.

O desenho tem apenas quatro minutos: um abutre tenta ensinar um avestruz a voar, mas, no final, descobrimos que o avestruz corre mais rápido do que o abutre pode voar - a "disputa" entre asas e pernas é vencida pelo avestruz.

  1. 32 de dezembro (1988, dirigido por Vladimir Samsonov)

"Acredite em mim, não há necessidade de brigar por qualquer coisinha ": esta frase é repetida muitas vezes na canção deste desenho e transmite seu espírito.

A trama gira em torno de um casal que briga por suspeitas mútuas de adultério na noite de Ano Novo. A esposa diz que eles não se entendem porque ela é um cavalo e ele é um macaco - de acordo com o calendário japonês.

Eles se transformam nestes animais e a esposa, transformada em cavalo se fica no caminho do trem do Papai Noel (sim, porque ele visita a Rússia não no Natal, mas no Réveillon).  Por isso, o Ano Novo não consegue chegar.

  1. Minha Família (1989, Natalia Martchenkova)

Um estudante está escrevendo uma redação, intitulada "Minha Família", e, ao mesmo tempo, assistindo a um popular programa de TV sobre turismo e viagens, o "Clube de Viajantes".

Os pensamentos do menino se entrelaçam com a narração do apresentador de TV e a redação vira uma viagem ensandecida: "Espalhada entre os Urais e o Altai está minha avó. Sobre ela cresce musgo, cogumelos e líquens".

Neste estilo, o menino escreve sobre cada membro da família e sua descrição é acompanhada por uma sequência de vídeo cheia de fantasia.

  1. Fru-89 (1989, dirigido por Ivan Maksimov)

O desenho começa com uma definição da palavra "frustração" e é seguido por uma imagem de um cão uivando na lua. A lua é colocada em um moedor de carne e a substância resultante produz criaturas de aspecto estranho que devoram umas as outras.

Alguns interpretaram o desenho animado como uma sátira política sobre as transformações ocorridas no país, que não teriam levado a nada. Outros, o interpretaram como uma parábola filosófica sobre a futilidade da existência.

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