O Russia Beyond recomenda: ‘O Mestre e Margarida’, de Mikhail Bulgákov

Russia Beyond (Legion Media; Editora 34, 2017)
Este misterioso romance tem fortes laços tanto com coisas tão contraditórias como os tempos de Stálin e a Bíblia... Então descubra aqui um resumo rápido do livro que vai iluminar sua mente!

 

A bela mulher soviética Margarida assina um contrato com o Diabo para que seu amado Mestre possa terminar de escrever um romance sobre Jesus.

Um estrangeiro esquisito chamado Woland chega à Moscou soviética apresentando-se como professor de magia negra. Ele tem uma pequena conversa aleatória com dois escritores soviéticos e fica surpreso que eles sejam ateus e não acreditem nem Deus, nem no diabo.

Cena de minissérie de 2005 baseada no livro.

Depois disso, coisas estranhas começam a acontecer. Um dos escritores com quem ele fala é acidentalmente morto por um bonde, enquanto o outro é colocado em um hospital psiquiátrico. Acontece que Woland é o próprio Satanás, que visita a Moscou dos anos 1930, cheia de funcionários corruptos, burocratas, aproveitadores e cínicos.

Naquele mesmo hospital, encontramos o primeiro protagonista do livro, o Mestre. Ele é um autor soviético que está escrevendo um romance sobre Jesus (Yeshua Ha-Notsri). No entanto, o manuscrito da obra de sua vida foi tão criticado que ele o queimou, depois ficou vagando e foi parar no hospital.

Cena de minissérie de 2005 baseada no livro.

Sua amada, Margarida, apoia muito o Mestre, considerando-o um gênio. Ela é, na verdade, casada com um respeitoso engenheiro militar, mas troca a vida luxuosa pelo pobre do Mestre. Depois que o Mestre desaparece, Margarida volta para o marido, mas, secretamente, ainda anseia por encontrar seu amado.

Woland a encontra nesse estado e sugere uni-la ao Mestre se ela for anfitriã de seu baile de Satanás. Ela concorda, acabando por virar uma bruxa. Depois que ela fecha o acordo, encontra o Mestre novamente e, juntos, eles encontram abrigo em algum lugar entre o céu e o inferno.

O baile de Satanás em peça encenada no teatro Bolshoi em 2021.

Os capítulos contando a história de Margarida e do Mestre são intercalados com capítulos do mencionando romance dele sobre Yeshua de Nazaré e Pôncio Pilatos, o governador da província romana da Judeia, encarregado de levar Yeshua a julgamento.

Pilatos é uma pessoa brutal, mas tem uma estranha atração por Yeshua, que considera que todas as pessoas sejam boas (e, estranhamente, cura a terrível dor de cabeça de Pilatos).

Cena de minissérie de 2005 baseada no livro.

Pilatos não quer executá-lo, pois entende que ele é apenas um ingênuo filósofo errante, mas tem que realizar o julgamento devido ao delator. No entanto, após a execução, a única coisa em que Pilatos pensa é em ser perdoado por Yeshua.

Nas entrelinhas...

Assim como o romance sobre Yeshua e Pilatos foi a “obra da vida” do Mestre, o romance sobre o Mestre e Margarida foi a obra da vida de Bulgákov: ele trabalhou no livro até sua morte, em 1940, sem poder publicá-lo.

Cena da minissérie de 2005 sobre o livro.

O romance tem muitos detalhes autobiográficos. Por exemplo, os problemas que o Mestre teve com seu livro são semelhantes aos que Bulgákov teve com suas obras — além da luta contra a censura soviética.

Assim como Margarida, Elena, a amada de Bulgákov, era casada com um homem bem estabelecido na vida, mas também o deixou pelo pobre escritor, sacrificando seu conforto e dedicando toda a vida a ele — e, depois, ao legado dele.

Alguns pesquisadores de Bulgákov acreditam que Elena fosse uma informante secreta da KGB e que, talvez, Bulgákov soubesse disso e justificasse com o romance — como se ela tivesse assinado um contrato com as “forças do mal” para salvá-lo da prisão.

Havia poucas chances de que o livro pudesse ser publicado na URSS por tratar de um tema nada realista, conter alusões à Bíblia, questões sobre Deus e o Diabo e críticas óbvias à sociedade soviética dos anos 1930.

No entanto, em 1967, uma versão resumida e censurada foi publicada. Mas a versão completa logo foi impressa no exterior e difundida, de forma ilegal, entre os soviéticos por meio dos samizdat, ou seja, cópias feitas à mão.

Em 1973, uma versão completa do livro foi finalmente autorizada a ser publicada na URSS - e fez bastante barulho.

 

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