Pioneira do documentário de arquivo terá memórias publicadas no Brasil

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Soviética Esfir Chub esteve entre as desbravadoras do cinema no início do século 20, e seu trabalho precursor permeia memórias que sairão pela editora Kinoruss, que está com campanha de financiamento aberta para publicação da obra.

A editora Kinoruss lançou uma campanha de financiamento coletivo para o lançamento do livro “Minha vida é o cinema”, da cineasta soviética Esfir Chub (1894-1959). Publicado na Rússia inicialmente em 1959, o livro foi republicado ali em 1972, ficando esquecido por décadas.

Com o intuito de reviver a obra dessa precursora do cinema documental, a editora Kinorus traduziu, pela primeira vez para uma língua estrangeira, o título de Chub.

Chub: vida e obra

Esfir Chub é uma cineasta vital para a história do cinema. Ainda nos anos 1920 criou princípios de montagem fundamentais para o cinema, até hoje amplamente usados mundo afora — apesar do silêncio em torno de seu nome. Tanto sua vida, como o imenso trabalho deixado por ela sofreram um inacreditável processo de apagamento.

O livro da editora Kinoruss, de aproximadamente 500 páginas, trará detalhes sobre a história e a teoria do cinema e da arte soviética narrada por quem participou ativamente desse momento. Chub nos confia suas ricas memórias por meio de um relato dos mais fascinantes, a partir de 1918, na Moscou que ela percorria, impávida, a plenos pulmões, ainda no calor da Revolução.

Ficamos sabendo como a jovem russa estreita, rapidamente, laços com figuras do mundo artístico revolucionário e dentre elas, Lunatchárski, então recém-nomeado por Lênin para comandar os rumos da educação e das artes na nascente União Soviética. Ela também começa a trabalhar com Meyerhold, então à frente da cena teatral soviética.

Seguimos suas conjecturas enquanto ela anota as reuniões com artistas e intelectuais e sentimos até sua respiração quando se vê diante do poeta Maiakóvski a ler, pela primeira vez, “O Mistério-Bufo” para seleta plateia de bolcheviques, especialistas em teatro e críticos.

Chub nos conduz ainda aos meandros da LEF (Frente de Esquerda das Artes) da qual se aproximara a convite de Maiakóvski, que ficara fascinado com o primeiro filme dela, “A queda da dinastia Románov”, de 1927.

Com ela nos acercamos da produção artística e intelectual do seu grupo de amigos, além de Maiakóvski: Chklóvski, Eisenstein, Óssip e Lília Brik, Vera e Serguêi Tretiakóv, Ródtchenko e Stepánova.

Ainda que o contexto soviético dos anos 1920, 1930 e 1940 nos surpreenda com a riqueza de detalhes, o "plano fechado" de sua vida será mesmo o cinema e essa paixão irrefreável transpira em todo o livro, desde o estilo de sua escrita, como se fosse um roteiro, até a inclusão de fragmentos de roteiros de seus próprios filmes. Por meio dessa "montagem textual", ela expõe claramente suas perspectivas, métodos e parcerias de trabalho no cinema.

Assim somos apresentados à sua mesa de montagem, e ficamos sabendo que junto a ela foram dados os primeiros passos de Eisenstein pelo caminho do cinema. Além desse amigo, Chub faz referência àquelas e àqueles que percorreram com ela esse momento do cinema revolucionário: Kulechóv, Pudóvkin, Khokhlóva, Svílova, Dovjênko, Vichniévski e Kauffman, dentre outras figuras notáveis.

Sobre seu trabalho como diretora, são muito bem descritos os percalços de toda ordem sofridos por ela, então montadora, para conceber e produzir o seu primeiro e mais conhecido filme, “A queda da dinastia Románov”, realizado para celebrar os dez anos da Revolução de Outubro (hoje, dessa película histórica quase centenária restam apenas imagens fugidias).

Chub escreve também sobre os caminhos que a conduziram a realizar “Espanha”, em 1939, preciosidade documental sobre a revolução espanhola, cujos fragmentos foram apropriados de forma infinitamente poética por Andrei Tarkóvski em seu filme “O Espelho”, de 1975.

A tradução de “Minha vida é o cinema” ficou a cargo de Priscila Marques, com poemas vertidos ao português por Letícia Mei.

Quem apoiar o livro de Esfir Chub por meio do financiamento coletivo no Catarse receberá benefícios exclusivos (confira aqui!).

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