Os 7 filmes russos mais premiados de todos os tempos

Nikita Mikhalkov/Estúdio Trite, 1994
O Russia Beyond compilou os sucessos produzidos na União Soviética e na Rússia que causaram sensação em festivais e entraram nos anais da história do cinema mundial.

1. A infância de Ivan (1962), Andrei Tarkóvski

Quando Tarkóvski apresentou esse roteiro para os estúdios Mosfilm, todos pensaram que o filme seria sobre o jovem espião do exército Ivan, que havia perdido todos os seus entes queridos na guerra e acabou se tornando uma espécie de “filho do regimento”. Quando o filme foi rodado, ficou evidente que eles estavam absolutamente errados.

‘A infância de Ivan’, com seu ritmo neurótico e narração sob o ponto de vista de uma criança com a psique irremediavelmente danificada, não era de forma alguma um drama de guerra patriótico. Enquanto os críticos soviéticos continuavam escrevendo sobre a “infância chamuscada pela guerra”, Jean-Paul Sartre foi o único que ousou descrever com precisão as estranhas emoções que o filme evocava: “Na guerra, todos os soldados são loucos, essa criança monstro é um testemunho objetivo dessa loucura, pois foi ele quem foi mais longe.”

O primeiro longa-metragem de Tarkóvski foi um de seus filmes de maior sucesso comercial, com 16,7 milhões de ingressos vendidos apenas na URSS. Já no exterior, o longa ganhou um Leão de Ouro em Veneza e um Golden Gate Award no Festival Internacional de Cinema de San Francisco, além de mais de 15 outros prêmios em diferentes países.

2. Quando Voam as Cegonhas (1957), Mikhail Kalatozov

Esta é uma história sobre duas pessoas apaixonadas cuja felicidade é destruída pela guerra. Em 1958, ‘Quando Voam as Cegonhas’ recebeu a Palma de Ouro no Festival de Cinema de Cannes, e o diretor de fotografia do filme Serguêi Urussêvski e a atriz Tatiana Samóilova foram imediatamente convidados para Hollywood. O filme não embeleza a realidade soviética nem retrata um “povo forte” enfrentando um conflito terrível, carecendo, assim, do heroísmo e do didatismo tão característicos dos filmes daquela época. Em vez disso, mostra as dificuldades da guerra tanto na frente como na vida das pessoas comuns, com suas experiências individuais. É um filme humano e comovente com um final paradoxalmente feliz. Também se tornou um símbolo do início do chamado degelo de Khruschov.

3. Guerra e Paz (1966), Serguêi Bondartchuk

Este filme épico sobre a sociedade russa durante as guerras contra Napoleão, baseado no romance homônimo de Lev Tolstói, ganhou um Oscar e uma dúzia de outros prêmios internacionais. Foi o primeiro Oscar concedido a um longa-metragem soviético e um dos filmes mais caros já produzidos em toda a história.

Bondartchuk seguiu à risca as intenções de Tolstói em sua adaptação do romance – tanto é que o fez em quatro partes e as filmagens se arrastaram por seis anos. Seu ritmo excessivamente prolixo e lento foi o motivo pelo qual “Guerra e Paz” acabou sendo bastante criticado. Mas, paralelamente, a escala das sequências – milhares de pessoas foram contratadas como figurantes e unidades militares inteiras participaram das filmagens – é impressionante até mesmo para os padrões modernos.

4. Urga - Uma Paixão no Fim do Mundo (1991), Nikita Mikhalkov

Esta coprodução franco-soviética nasceu da ideia de fazer um documentário sobre tribos mongóis nômades na China – e evoluiu para um longa com enredo quase ridículo: um mongol da estepe vai à cidade para comprar preservativos, porque, por lei, ele não pode ter mais de três filhos. Ele volta para sua estepe natal sem os preservativos, mas com uma TV, um boné e uma bicicleta e segue imediatamente para mais um ritual de amor.

Atores amadores interpretaram os papéis principais e há apenas um profissional em todo o elenco. Talvez por isso o filme seja tão sincero: a jornada do nômade mongol à cidade grande se transforma em uma comovente reflexão sobre o destino dos povos nômades e suas tradições. O filme ganhou um Leão de Ouro em Veneza, o Nika Award na Rússia e o título Melhor Filme da Academia de Cinema Europeu, além de uma indicação ao Oscar.

5. Sol Enganador (1994), diretor Nikita Mikhalkov

Os acontecimentos em ‘Sol Enganador’ se desenrolam às vésperas das repressões stalinistas. É um dia ensolarado de verão em 1936. O país inteiro está comemorando o aniversário do programa de construção de aeronaves de Stálin e a família de um “verdadeiro comunista”, um queridinho do próprio Stálin, está passando o dia de maneira perfeitamente idílica em sua datcha. Isto é, até aparecer um convidado inesperado.

É o único filme em língua russa que trata do Grande Expurgo que ganhou simultaneamente um Oscar (Melhor Filme Estrangeiro) e o Grand Prix em Cannes. O longa não é exatamente denunciatório, afirmam seus criadores, mas está impregnado da carga dramática que caracterizou o modo como o povo soviético vivia. História, amor, tragédia, paixão, nostalgia, ódio de classe – em o ‘Sol Enganador’, drama não falta.

6. O Retorno (2003), Andrei Zviáguintsev

O longa de estreia de Andrei Zviáguintsev foi aclamado no Ocidente, onde o diretor acabou sendo apelidado de sucessor de Tarkóvski. Na época, recebeu nada menos que cinco prêmios no Festival de Cinema de Veneza, incluindo o principal, o Leão de Ouro. Também conquistou dois prêmios da FIPRESCI – um em Palm Springs e outro em Tessalônica.

Este drama austero de dois irmãos e o retorno inesperado de um pai que os dois não viam há tanto tempo – e que poderia ser considerado como seu primeiro encontro – não é sobre a feliz reunião de uma família desfeita. Eles fazem uma viagem de carro psicologicamente quase insuportável, mas para onde estão indo e o motivo da jornada só são revelados no final. De acordo com os críticos, o filme marcou o tão esperado retorno do cinema arte russo, e desde então os principais festivais de cinema acompanham o trabalho do diretor.

7. Fausto (2015), Aleksandr Sokurov

Este filme é o ponto alto da tetralogia de Sokurov sobre os tiranos do século 20, que também inclui ‘Moloch’, ‘Touro’ e ‘O Sol’. O longa fornece a chave para as três primeiras partes: todos os protagonistas principais se tornam como Fausto, pois interiormente fazem um pacto com o Diabo. Mas este Fausto se afasta notavelmente do personagem clássico criado por Goethe.

A história é centrada no interesse amoroso entre Fausto e Margarete, mas os enredos tradicionais são dispensados ​​e a lenda de Fausto é dotada de novas variações e temas. O filme é acima de tudo a história da perda da alma e os limites do que o ser humano é capaz. Filmado em alemão, o longa ganhou um Leão de Ouro em Veneza, um prêmio da associação católica SIGNIS e do Future Film Festival Digital, além do russo Nika.

LEIA TAMBÉM: ‘O ouriço no nevoeiro’, a animação mais necessária de todos os tempos

Autorizamos a reprodução de todos os nossos textos sob a condição de que se publique juntamente o link ativo para o original do Russia Beyond.

Leia mais

Este site utiliza cookies. Clique aqui para saber mais.

Aceitar cookies