O sonho do criador desta galeria, Pável Tretiakov, era organizar o maior museu público de arte russa, já que, antes dele os nobres colecionavam principalmente pinturas e esculturas provenientes da Europa Ocidental.
Esse bem-sucedido comerciante colocou em voga os artistas russos e comprava suas pinturas apaixonadamente. No final das contas, ele não só realizou seu sonho, como até acrescentou quatro anexos a sua mansão no centro de Moscou, para abrigar as obras.
Na década de 1980, um novo prédio foi construído especificamente para a arte do século 20: é chamado de Nova Galeria Tretiakov.
O acervo do museu conta hoje com mais de 190 mil obras. Selecionamos algumas das mais importantes:
1. Andrêi Rubliov. Trindade. 1411
Até os nossos dias só sobreviveram algumas obras que os cientistas atribuem com certeza ao lendário Andrêi Rubliov. O ícone da Trindade é a relíquia mais famosa e valiosa. Anteriormente, o ícone ficava no monastério da Trindade-Sérgio, mas, após a Revolução, entrou para a coleção da Galeria Tretiakov.
2. Karl Briullov. Cavaleiro. 1832
Karl Briullov viveu na Itália por muito tempo, e este quadro foi pintado em Milão, encomendado pela Condessa Iúlia Samóilova. Os contemporâneos admiravam a habilidade e graça do retrato equestre. Pavel Tretiakov comprou a pintura em um leilão em que os bens de Samóilova foram vendidos.
3. Aleksandr Ivanov. Aparição de Cristo ao Povo. 1837-1857
Esta pintura de Ivanov foi comprada pelo imperador Alexandre 2° e doada ao Museu Rumiantsev, e passou para a Galeria Tretiakov, em 1924. Para a tela, de enormes dimensões, com 5,4 x 7,5 metros, chegou a ser construído um corredor separado na galeria.
4. Pável Fedotov. Café da manhã do aristocrata, 1849-1850
Fedotov é um verdadeiro mestre da pintura de gênero. Em cada tela sua, pode-se observar os detalhes sem fim, praticamente como nas obras do pequeno holandês.
5. Konstantin Flavitski. Princesa Tarakanova. 1864
Uma das primeiras obras que Tretiakov comprou para sua galeria. Nela, é retratado um tema histórico da princesa Tarakanova, que fingiu ser a filha da imperatriz Elizaveta e foi presa na Fortaleza de Pedro e Paulo, onde, segundo a lenda, morreu durante uma enchente. Podemos ver na pintura a água subindo, os ratos e o desespero no rosto da prisioneira.
6.Vassíli Perov. Troica (Aprendizes carregam água). 1866
Vassíli Perov foi um dos primeiros a pintar telas sobre temas sociais e a levantar questões delicadas. Aqui, vemos crianças sofrendo, carregando pesados barris de água, mostrando o desespero da situação. Tretiakov comprou a pintura logo após o artista terminá-la.
7. Vassíli Verescháguin. A apoteose da guerra. 1871
Verescháguin foi militar e ganhou fama como pintor de batalhas. Ele pintou esta tela após uma viagem à Ásia Central. A ideia da foto está ligada à lenda do mongol Cã Tamerlane, que deixou no campo de batalha montanhas de crânios. “Dedicado a todos os grandes conquistadores — passados, presentes e futuros”, lê-se na inscrição da moldura da imagem.
8. Aleksêi Savrasov. As gralhas chegaram. 1871
Esta paisagem é considerada inovadora na arte russa. Ninguém antes de Savrasov retratou a natureza de forma tão realisticamente “triste”. Bétulas cinzas, cheias de primavera e uma pequena igreja: seus contemporâneos acreditavam que o artista refletia a própria alma russa. Pável Tretiakov foi ver Savrasov em Iaroslavl especialmente para comprar esta pintura.
9. Arkhip Kuindji. Bosque de bétulas, 1879
Kuindji é considerado um verdadeiro mestre da luz. Toda esta pintura é feita com verde e o artista brinca com o contraste das manchas solares e a profundidade das sombras das bétulas. A tela foi exibida em uma exposição de artistas itinerantes e, depois disso, foi comprada imediatamente por Tretiakov.
10. Víktor Vasnetsov. Aliônuchka, 1881
A Galeria Tretiakov tem várias obras do principal artista folclorista russo, e uma das mais conhecidas é "Bogatires". Por muito tempo Vasnetsov alimentou a ideia por trás de "Aliônuchka" e, uma vez, no lago da propriedade de Abrámtsevo viu por acaso uma camponesa de cabeça descoberta que o inspirou.
11. Ivan Kramskoi. Desconhecida. 1883
Uma das obras mais famosas de Kramskoi retrata uma garota em uma carruagem aberta na avenida Nevsky, em São Petersburgo. Os historiadores ainda se perguntam quem serviu de modelo para o artista.
12. Vassíl Súrikov. Boiarinia Morozova, 1884-1887
Esta poderosa composição multifacetada retrata um fato histórico: como punição por se recusar a aceitar a reforma da Igreja, uma jovem algemada é enviada ao mosteiro e mostra à multidão um sinal dos Velhos Crentes: a persignação com dois dedos. Tretiakov comprou o quadro na exposição e a tela de 3 metros por 5,8 metros ocupa um lugar especial na galeria.
13. Iliá Répin. Ivan, o Terrível, e seu filho Ivan em 16 de novembro de 1581. 1885
Graças, principalmente, à pintura de Répin, é amplamente divulgada a lenda de que o tsar Ivan, o Terrível, matou o próprio filho, apunhalando-o com raiva no templo com um bastão. O imperador Alexandre 3° chegou até a proibir a exibição da assustadora imagem, mas Tretiakov a comprou mesmo assim. Mais tarde, convenceram o imperador a retirar a proibição de exibição da tela.
14. Valentin Serov. Menina com Pêssegos, 1887
Uma das pinturas mais famosas do artista, esta tela foi pintada em Abrámtsevo. A modelo foi a filha do patrono Savva Mámontov, que posou para a pintura. O motivo pelo qual o público ama esta tela reside no incrível frescor e despreocupação da infância, que rendem brilho à imagem. O retrato foi comprado pela galeria em 1929, dos descendentes da família de Mámontov.
15. Ivan Chíchkin. Manhã em uma Floresta de Pinheiros. 1889
A floresta de coníferas perenes é o motivo favorito do artista Chíchkin. Os filhotes de urso na foto foram retratados por outro artista, Konstantin Savitski, mas, posteriormente, ele retirou sua assinatura e renegou os direitos autorais. O tema da tela é familiar para todo e qualquer um que tenha vivido na URSS e na Rússia contemporânea, a imagem estampou uma famosa embalagem de bombons.
16. Mikhaíl Nésterov. Visão para o adolescente Bartolomeu, 1890
Esta pintura retrata um tema muito importante para a história da Igreja e abre um ciclo de obras sobre a vida de São Sérgio de Radonej. No mundo laico, ele se chamava Bartolomeu, e não foi alfabetizado na infância, até que conheceu, por acaso, um monge que o encheu de sabedoria... O artista considerava esta pintura o ápice de sua criatividade. Tretiakov a comprou na exposição dos Itinerantes.
17. Mikhaíl Vrúbel. Demônio (sentado), 1890
Existe um salão inteiro na Galeria Tretiakov dedicado a este artista, um dos mais místicos da Rússia. Este é apenas um dos demônios de Vrubel e uma obra-prima do simbolismo russo. A pintura personifica a luta eterna do espírito rebelde: um belo e poderoso demônio olha com tristeza para o mundo ao seu redor, que está mudando e parece refratado por cristais. A pintura chegou à Galeria Tretiakov após a Revolução, proveniente de uma coleção particular.
18. Isaac Levitan. Na paz eterna, 1894
Estudante de Savrasov, autor de “As gralhas vieram”, Levitan imitou e aperfeiçoou a paisagem russa, melancólica e comovente. Esta pintura é considerada uma das mais "russas" existentes.
19. Natália Gontcharova. Autorretrato com lírios amarelos. 1907
Natália é considerada a amazona da vanguarda russa, junto com o marido Mikhaíl Lariônov. Os dois foram membros de várias sociedades de arte progressistas e participaram de muitas exposições modernistas na Rússia e na Europa. O autorretrato reflete a paixão de Gontcharova pelo expressionismo.
20. Zinaída Serebriakova. Atrás do banheiro. Autorretrato. 1909
Serebriakova pintou quadros cheios de ternura: meninas, camponeses, paisagens idílicas e membros da família. Este autorretrato no espelho foi muito apreciado por seus contemporâneos, que o caracterizaram como uma obra fresca, terna e altamente artística.
21. Kuzmá Petrov-Vódkin. O nado do cavalo vermelho. 1912
Petrov-Vódkin foi um artista que reinterpretou a pintura de ícones russos. Seus contemporâneos interpretaram esta imagem de maneiras diversas, mas, no início da Revolução russa, acreditava-se que o cavalo vermelho simbolizasse o novo caminho da Rússia. A tela ficou na Suécia por muito tempo e chegou à Galeria Tretiakov apenas em 1961, a partir de colecionadores privados.
22. Wassily Kandinsky. Composição VII. 1913
O principal abstracionista russo viveu e trabalhou na Alemanha por muitos anos. Ele foi um dos primeiros artistas a abandonar a figuratividade e a se concentrar na cor. "A cor é um meio pelo qual se pode influenciar diretamente a alma", dizia. Os críticos de arte consideram esta composição o pináculo da criatividade de Kandinsky e encontram aí uma combinação de temas diversos: ressurreição dos mortos, Dia do Juízo, Dilúvio e Jardim do Éden.
23. Kazimír Maliêvitch. O quadrado negro, 1915
O quadro mais famoso e escandaloso da vanguarda russa tornou-se uma verdadeira sensação na exposição dos futuristas, onde foi exibido pela primeira vez. Ele foi pendurado no “canto vermelho”, onde normalmente os ícones eram colocados nas casas dos russos. Em 2015, estudos que incluíam análises de raios-X mostraram que várias outras camadas estão ocultas sob a imagem final e, inicialmente, a imagem parecia uma composição cubo-futurística. Mas, no processo de pensar sobre forma e cor na pintura, o autor chegou a um supremo completo, isto é, o domínio da cor. Posteriormente, o autor fez várias outras versões das pinturas – uma delas, especialmente para a Galeria Tretiakov, porque a original estava coberta de pequenas rachaduras.
24. Boris Kustodiev. O bolchevique, 1920
Kustodiev é conhecido principalmente por cenas da vida dos comerciantes e das aldeias russas, pintadas em cores brilhantes. Sua atenção está voltada principalmente para cidades antigas, igrejas e festividades. "O Bolchevique" é uma obra tardia do autor e um reflexo de suas impressões sobre a Revolução de 1917, que ele assistiu da janela de uma casa, confinado em uma cadeira de rodas.
25. Aleksandr Deineka. Futuros pilotos, 1938
Aleksandr Deineka é um dos mais famosos artistas soviéticos, autor de muitas obras de propaganda em um distinto estilo de pôster. Sua tela "Futuros Pilotos" é uma das pinturas mais emblemáticas do realismo socialista, a corrente artística oficial soviética.
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