Os 10 melhores livros russos sobre o período tsarista

Cultura
ALEKSANDRA GÚZEVA
A vida da dinastia Românov instiga leitores de diversos países. Mas como vivam as pessoas comuns, fossem nobres ou camponesas, no Império Russo? Selecionamos os livros que melhor passam uma ideia de como eram aqueles tempos.

1. "Eugênio Onéguin", de Aleksandr Púchkin

Este romance em versos é apelidado de "enciclopédia da vida russa". Realmente, ali podem-se encontrar descrições da vida de proprietários de terras das províncias, de recepções e bailes reais, das noites de teatro na capital e dos casamentos arranjados.

Da mesma forma, Púchkin também inicia o leitor nos sonhos secretos das moças da nobreza, nos costumes das senhoras de coração frio da sociedade e até na rotina diária de um jovem dândi.

2. “A Filha do Capitão”, de Aleksandr Púchkin

A obra descreve o período histórico da revolta camponesa liderada por Emelián Pugatchov, que se fazia passar por tsar. Na trama, um jovem nobre sai de casa para servir em uma fortaleza remota. Ele é acompanhado do tutor que o criou, que fica horrorizado com como o jovem perde uma grande quantia nas cartas e, depois, entrega seu casaco de pele de carneiro a um estranho (como se descobre mais tarde, esse gesto imprudente salva a vida do protagonista). No final das contas, ele participa de um duelo e é preso por engano, confundido com um espião de Pugatchov.

O livro descreve a vida em uma pequena fortaleza, o amor inocente, um levante russo "sem sentido e sem piedade" e a rigorosa, porém justa, Catarina, a Grande.

3. "Guerra e Paz", de Lev Tolstói

É difícil encontrar um livro que fale sobre a vida russa de maneira mais minuciosa. Ali há descrições de Moscou, de São Petersburgo e da vida no campo. Proprietários de terras, alta sociedade, camponeses e militares: escritor parece incorporar todos os seus personagens e falar em nome de cada um deles.

Tolstói descreve um salão da alta sociedade, conversas sobre política e preocupações com a guerra contra Napoleão. Ele não poupou palavras para mostrar as cenas de batalha em detalhes ou para retratar as conversas que os soldados têm nas trincheiras.

Tolstói mostra como era ser um hussardo, bebendo champanhe e trazendo ursos para as festas. Em geral, tudo é muito entretenimento, a vida militar e os costumes da alta sociedade.

4. “O capote”, de Nikolai Gógol

À maneira fantasmagórica que lhe é típica, Gógol descreve a vida da pessoa mais simples possível: um funcionário público da baixa hierarquia, Akáki Akákievitch. Ele vive em São Petersburgo e salário é tão baixo que ele usa o mesmo capote há muitos e muitos anos. Akáki é solteiro e não tem filhos – então imagine que proventos vergonhosos ele recebe!

Um dia, o alfaiate diz que não é mais possível consertá-lo para o próximo inverno e que Akáki terá que encomendar outro. Isto é um verdadeiro drama para o protagonista, que dedica toda sua energia e dinheiro para conseguir um novo capote. Quando ele finalmente recebe a peça, protege-a como a joia mais preciosa.

5. "Oblómov", de Ivan Gontcharóv

E se você pudesse ficar deitado no sofá o dia inteiro e não precisasse trabalhar? Todo mundo provavelmente já sonhou com isso! Mas como um homem adulto saudável não servir para nada e não trabalhar?

Tinha muita gente assim no Império Russo. Bastava receber uma herança e a pessoa podia viver sozinha, organizar bailes e ler livros o dia todo, todos os dias. Se você teve sorte de ter uma propriedade rural com servos, a vida era ainda melhor.

Só o amor pode nosso personagem, um desses preguiçoso, Iliá Oblómov, do sofá - mas não por muito tempo. O romance discorre sobre a ociosidade e os sentimentos de um proprietário de terras nobre e sobre outras nascidas fora da nobreza, mas ativas e enérgicas – das quais o autor claramente gosta mais.

6. “Ninho de Nobres”, Ivan Turguêniev

O título do romance tornou-se uma expressão na Rússia: o "ninho de nobres" é uma propriedade onde vivia uma grande família nobre e que ficou de herança. Além disso, é um local familiar para onde os filhos sempre podem retornar.

Em casas tão nobres, sempre havia um certo modo de vida tradicional e atividades definidas. Turguêniev percebeu, com tristeza, que esse estilo de vida estava chegando ao fim: os filhos não queriam mais ser proprietários de terras. Eles queriam decidir seu próprio destino e não mais seguir as instruções e tradições de seus pais.

7. "Os demônios", de Fiódor Dostoiévski

Dostoiévski, que era profundamente religioso, estava interessado em uma nova geração: a dos jovens que cresceram após a abolição da servidão em 1861, um tipo de revolucionários que desafiavam os padrões sociais. Neste romance, as ideias prejudiciais deles são como demônios que voam e envenenam a mente e a vida das pessoas comuns das províncias.

Nikolai Stavroguin, um dos personagens principais e uma pessoa sombria, é comunista e ateu. Ele é insolente e não se importa com as regras de comportamento: tem casos de amor abertos com moças solteiras, uma insolência ainda inédita no século 19. Quando volta do exterior, muitas desgraças ocorrem em uma cidadezinha de província: incêndios, duelos e disputas.

Outro revolucionário é o esperto manipulador Piotr Verkhovenski, que cria uma sociedade secreta cuja principal ideia é a de que as pessoas é que são portadoras da vontade de Deus (e não o tsar). Para fortalecee o grupo, ele organiza o assassinato de uma pessoa inocente.

8. “O jardim das cerejeiras”, de Antôn Tchékhov

Tchékhov mostra como os nobres empobrecem, perdem suas propriedades e posições na sociedade em "As três irmãs". Já em “O jardim das cerejeiras”, ele mostra uma diversidade de nobres, tanto os que seguem visões e tradições antiquadas, quanto os novos: sejam emigrantes vagabundos ou empreendedores pioneiros.

A partir do início do século 20, as classes mais baixas – como os criados - começam a desempenhar um papel mais importante na literatura. Eles são como membros da família, apesar de não terem tido grande importância antes.

9. “Anticristo. Piotr e Aleksêi”, de Dmítri Merejkóvski

“Anticristo. Piotr e Aleksêi” é a última parte da trilogia mística, "Cristo e o anticristo", escrita pelo filósofo Merejkóvski. Pedro, o Grande, decidiu reformar a igreja russa e colocá-la sob controle do Estado.

Os russos, profundamente religiosos, ficam chocados com a forma como o novo tsar age, violando tradições seculares. Os círculos mais próximos de Pedro e pessoas simples (entre elas, monges, marinheiros desertores, velhos crentes e outras pessoas marginalizadas) consideram Pedro como o anticristo e preveem o Apocalipse. Quem se opõe ao tsar é também seu filho, Aleksêi, que promete restabelecer a verdadeira fé.

10. "Pedro, o Grande", de Aleksêi Tolstói

Outro romance sobre Pedro, o Grande, relata seus primeiros anos no poder. O Tolstói soviético retrata magistralmente as pessoas próximas ao tsar, envolvidas em intrigas e contando mentiras pelo bem do trono. De um lado está a irmã traiçoeira de Pedro, que governa o país de fato, e, do outro, a comitiva de Pedro, que ignora suas ordens.

Pedro procura cercar-se de pessoas simples em quem pode confiar, seja alemão Lefort ou Aleksandr Menchikov – os quais antes não podiam ir à corte devido a suas origens simples.

Ao ler o romance, lembre-se de que ele foi escrito pelas ordens de Stálin, por isto o autor simpatiza claramente com a personalidade forte de Pedro, que não poupa a vida das pessoas simples em busca de seu objetivo principal: a criação de um império e o rápido desenvolvimento do governo.

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