“Todos os meus filmes são sobre amor”, disse o diretor Aleksêi Balabanov, ao comentar seu perturbador filme “Cargo 200”, lançado em 2007. Na época, a declaração causou estranheza, já que os inúmeros assassinatos não são nem de longe a pior coisa que acontece no longa. Ainda assim, de certo modo, o cineasta tinha razão.
Balabanov faleceu aos 54 anos, em 2013, mas seus filmes ainda inflamam debate, lidando com questões para as quais cada espectador deve encontrar sua própria resposta.
Brat, ou Irmão (1997)
Danila Bagrov, um veterano da Guerra da Tchetchênia interpretado por Serguêi Bodrov Jr. (1971-2002), chega a sua casa para descobrir que não há chance de viver em paz. Certo dia, seu irmão Victor, que trabalha como matador de aluguel, pede a ele para fazer seu trabalho, o que desencadeia uma guerra de gangues. A sequência, ‘Brat 2’, se passa nos EUA, onde Danila tenta vingar seu companheiro de guerra.
O enredo parece prosaico, mas tanto ‘Brat’ como ‘Brat 2’ foram sucesso de bilheteria, alcançando status de ícone na Rússia. É difícil encontrar uma pessoa sequer no país que jamais tenha visto esses filmes pelo menos uma vez na vida.
Como disse Serguêi Selianov, amigo e produtor do cineasta, “Balabanov retratou o homem russo pós-soviético que aguenta firme e as pessoas adoraram”. O diretor, no entanto, era um pouco cético, qualificando esses filmes como “lixo”.
De Monstros e Homens (1998)
Depois de filmar ‘Brat’, Balabanov lançou seu filme mais estranho. Johann, o principal herói em ‘De Monstros e Homens’, é um pornógrafo na Rússia Imperial que tira fotos de humanos incomuns – “aberrações”, incluindo gêmeos siameses. A história se desenrola de uma maneira inesperada para Johann e seu trabalho sujo.
O filme não foi um sucesso comercial, mas, de qualquer modo, Balabanov nunca se importou muito com dinheiro. Vários críticos de cinema, como Victor Matizen, consideram esse longa “misantrópico e sem lógica”. Outros, porém, elogiaram o enredo com diversas referências a Dostoiévski e obras-primas do cinema russo.
Guerra (2002)
A Guerra da Tchetchênia foi uma experiência traumática na Rússia pós-soviética e é um tema importante para Balabanov. Nesse filme, ele mergulhou fundo na história, inclusive rodando cenas nos locais históricos onde o conflito se desenrolou.
‘Guerra’ é a história de um soldado russo e um casal inglês capturados por um comandante militar tchetcheno. Ele liberta o soldado e o inglês, mas pede um resgate para liberar também sua esposa. Este é apenas o começo da história.
A guerra ainda estava em curso no início dos anos 2000, quando Balabanov produziu o filme, e tropas de verdade ficaram de guarda enquanto a equipe fazia as filmagens. Balabanov chegou a confessar que estava fazendo um filme difícil e não precisou inventar nada: “O que vocês veem no filme é baseado em fatos reais”.
O Blefe do Homem Morto (2005)
Imagine só um filme de Tarantino – com gângsteres, longos diálogos e litros de sangue –, porém passado em uma cidade do interior russo na década de 1990 (famosa pelos onipotentes grupos do crime organizado). Os atores Aleksêi Pánin e Dmítri Diujev interpretam dois mafiosos violentos que enfrentam um problema após o outro.
“Para aqueles que sobreviveram aos anos 90”, propunha o slogan do filme. “‘O Blefe do homem Morto’ é engraçado, cínico e anti-intelectual, mas é uma obra tangível de sátira social que nos faz rir de nervoso”, escreveu o crítico Vassíli Koretski.
Mercadoria 200 (2007)
O ano é 1984, as tropas soviéticas estão no Afeganistão, e jovens soldados estão voltando para casa em caixões de zinco – na gíria militar, “Mercadoria 200”. Enquanto isso, coisas terríveis acontecem na fictícia cidade soviética de Leninsk, onde um psicopata sequestra a filha do chefe local do Partido Comunista.
‘Mercadoria 200’, dedicado à lenta decadência da URSS, chocou a Rússia. Alguns atores se recusaram a fazer o filme após ler o roteiro, e, às vezes, as bilheterias se recusavam a vender ingressos. Balabanov, porém, apenas lamentou: “Não é [um filme] político, não há mensagem de qualquer tipo. Só meus sentimentos em 1984.”
Eu Também (2012)
Em algum lugar ao sudeste de São Petersburgo há uma área mística onde, reza a lenda, um campanário levará a felicidade eterna.
Um bandido, um músico e alguns amigos seguem ao local, e todos repetem: “Eu também”, depois de ouvir o herói principal dizer que ele luta pela felicidade. Porém, nem todo mundo chega ao destino final, e ninguém consegue sair.
“Acho que é meu último filme”, disse Balabanov, logo após o lançamento. Menos de um ano depois, o cineasta morreu em consequência de um ataque cardíaco. “‘Eu Também’ é, ao mesmo tempo, o filme de Balabanov mais desesperançoso e um conto de fadas”, descreveu o crítico de cinema Anton Dôlin. Além disso, tornou-se uma espécie de obituário do diretor, que aparece brevemente no final só para dizer adeus.
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