“Se seguirmos exemplo italiano, pandemia vai durar, na melhor das hipóteses, até setembro”

Denis Protsenko

Denis Protsenko

Sergey Vedyashkin/Moskva Agency
Médico-chefe de novo hospital na região de Moscou responde a principais dúvidas sobre o coronavírus e a situação na Rússia.

Embora haja relativamente poucos casos de coronavírus na Rússia, e especificamente em Moscou, o governo federal decidiu abrir às pressas um hospital recém-construído em Kommunarka e utilizá-lo para tratar pessoas com covid-19. O médico-chefe da instituição, Denis Protsenko, respondeu ao canal RT as perguntas mais comuns da população sobre a infecção por coronavírus.

Quais são os principais sintomas?

Todos os nossos pacientes de covid-19 têm febre de, pelo menos, 38ºC. A febre pode desaparecer com o tempo ou após uma dose única de paracetamol. Os pacientes que apresentam apenas febre não recebem tratamento especial. Eles acabam se recuperando por conta própria.

A manifestação preocupante de infecção por coronavírus vem com a combinação de febre, tosse seca sem expectoração, falta de ar e queda da saturação (oxigênio no sangue arterial). Esta última ocorre porque um volume bastante significativo de tecido pulmonar é afetado pelo vírus, e os pulmões deixam de desempenhar a sua função principal – o fornecimento de oxigênio para o sangue.

Como está a situação em Moscou?

Há, atualmente, 262 casos confirmados de infeção por coronavírus em Moscou [438 pessoas na Rússia], não escondemos isso. A situação é tensa, a tendência é que a idade média dos pacientes comece a crescer.

Denis Protsenko

Se antes havia apenas jovens oriundos da Itália, e, por isso, não havia pacientes em estado crítico, hoje, a idade média começou a crescer de 35 para 37-39 anos. Já temos seis pacientes idosos, mas ninguém está em ventilação pulmonar mecânica.

Por que há poucas pessoas doentes na Rússia?

Em Moscou o número de doentes está crescendo, mas não tão rapidamente como na Itália. Estamos nos preparando. O baixo número de pessoas com teste positivo para infeção por coronavírus não é um milagre, mas o resultado das medidas extremamente severas tomadas pelo governo de Moscou.

Como estão sendo tratados os infectados que necessitam de hospital?

A maioria dos infectados por coronavírus tomam apenas uma dose única de paracetamol porque são jovens.

Um paciente de 44 anos, que é fumante, passou nove dias na terapia intensiva.Iniciamos o tratamento desse paciente com antibióticos (aminopenicilinas ‘protegidas’). Não houve melhora e então mudamos os antibióticos. Naquele momento, ainda não havia confirmação de coronavírus, tratamos com drogas contra todos os tipos de gripe. Após a confirmação, começamos a terapia antirretroviral usada para tratamento do HIV, com a droga Kaletra (Lopinavir/ritonavir).

O coronavírus não é a mesma coisa que retrovírus, é diferente, mas estamos tratando com Kaletra porque já existe uma experiência positiva, principalmente chinesa.

Como os chineses conseguiram conter a epidemia em Wuhan?

Acho que é o resultado de medidas muito rigorosas de quarentena. Mas não sei ao certo. Falei com os especialistas que voltaram de Wuhan. Os chineses não mostraram nada. Aparentemente, houve medidas de quarentena bem rígidas e impopulares.

Quando essa pandemia vai acabar?

Se [o resto do mundo] seguir o cenário chinês, espero que tudo acabe em maio ou junho. Se seguirmos o exemplo italiano e houver uma explosão de vírus, isso tudo vai durar, na melhor das hipóteses, até setembro.

Três coisas que todos temos que fazer agora

Não entrem em pânico. É preciso seguir as instruções emitidas pelas autoridades médicas oficiais e cuidar dos idosos. Se tiver febre e dor de garganta, você deve se isolar. Não é para sair de casa para fazer um teste de coronavírus.

LEIA TAMBÉM: Como a Igreja Ortodoxa Russa está respondendo ao coronavírus?

Autorizamos a reprodução de todos os nossos textos sob a condição de que se publique juntamente o link ativo para o original do Russia Beyond.

Leia mais

Este site utiliza cookies. Clique aqui para saber mais.

Aceitar cookies