1. Com permissão do imperador Alexandre 2º
Em 1791, a imperatriz Catarina, a Grande, emitiu um decreto segundo o qual os judeus só poderiam residir em uma determinada área — no sudoeste do Império Russo —, onde tinham vivido quando receberam cidadania russa. Essa região corresponde aos territórios atuais da Polônia, Lituânia, Letônia, Bielorrússia, Ucrânia e Moldávia.
A fronteira desse território ficou conhecida como “Tchertá Ossiédlosti”, ou “Zona de assentamento [judeu na Rússia]”, em português. A maior parte dos judeus falava iídiche e vivia em “mestiatchki”, ou seja, cidades apropriadas para a classe comercial e artesanal.
Leia mais sobre a história dos judeus na Rússia aqui.
Na década de 1850, o imperador Alexandre 1º cancelou as restrições à residência de judeus, assim, cada vez mais comerciantes, cientistas, estudantes e artesãos judeus começaram a se mudar para Moscou e para a capital da época, São Petersburgo.
Casas de oração pequenas foram aparecendo nas cidades, mas a crescente comunidade, que já contava com cerca de 10.000 pessoas, precisava de uma casa de culto maior. Em 1869, o imperador concedeu aos judeus de São Petersburgo o direito de construir uma sinagoga.
2. Financiada pelo judeu mais rico do Império
Primeiramente, demorou muito para os judeus encontrarem um lugar adequado na capital imperial. A construção do edifício começou apenas em 1883 no bairro região de Kolomna, perto do Teatro Mariínski.
Depois, houve problemas de financiamento e, no final, a maior parte da verba foi alocada pelo barão Horace Günzburg, uma das pessoas mais ricas do Império Russo. Günzburg vinha de uma dinastia de banqueiros e foi cônsul do Ducado de Hesse em São Petersburgo, onde recebeu o título de barão.
Segundo as memórias do poeta russo Óssip Mandelstam, Günzburg fez uma grande contribuição para a vida da comunidade judaica e sempre ocupou o lugar mais importante e de honra nos serviços religiosos da sinagoga.
O magnata ferroviário Samuil Poliakov também contribuiu com uma quantia considerável para a construção do templo.
3. Construída em estilo mourisco
O crítico de arquitetura e historiador de arte Vassíli Stassov propôs que a sinagoga fosse construída segundo o modelo berlinense em estilo mourisco. O projeto do concurso foi vencido pelos arquitetos Ivan Chápichnikov e Lev Bakhman. Porém, o esboço não foi aprovado pelo imperador, que ordenou “refazer o projeto em tamanho mais modesto”.
A construção levou dez anos, a sinagoga foi concluída apenas em 1893. Como resultado, o edifício ainda surpreende pelo seu tamanho: é a maior sinagoga da Rússia, com uma sala de orações para 1.200 pessoas, e a segunda maior da Europa, depois da de Budapeste. Sua enorme cúpula é visível de longe; o edifício se destaca no aspecto arquitetônico da cidade e se distingue pela cor terracota e pelo estilo oriental, incomum para São Petersburgo.
No interior da sinagoga encontra-se uma Aron Kodesh (“Arca da Aliança”) ricamente decorada, que contém sete rolos da Torá levados para lá durante a consagração do templo.
4. Nos tempos soviéticos, ficou fechada apenas por um curto período de tempo
Após a revolução bolchevique, aqueles que professavam o judaísmo na Rússia foram perseguidos, assim como representantes de outras religiões. No entanto, a comunidade judaica existiu até o verão de 1929, quando foi encerrada, sob acusação de burguesia e nacionalismo. Em 17 de janeiro de 1930, o governo de Leningrado (atual São Petersburgo) fechou a sinagoga, alegando que os trabalhadores judeus não a frequentavam. Diante da medida, os judeus apresentaram uma queixa ao Comitê Executivo Central de Toda a Rússia, uma das agências governamentais mais importantes da URSS.
Para surpresa de todos, isso funcionou: em junho de 1930, a sinagoga foi reaberta. Os bolcheviques, entretanto, ganharam tempo para confiscar e nacionalizar todos os bens valiosos da sinagoga.
No início da década de 1940, as autoridades fizeram outra tentativa de fechar a sinagoga e propuseram abrir uma sala de concertos dentro do edifício. Isso não aconteceu devido à guerra. Durante o Cerco a Leningrado, cadáveres de judeus mortos foram levados para o pátio da sinagoga.
5. Reformada para as Olimpíadas de 1980
Durante a época soviética, a sinagoga esteve sob a atenção estrita da KGB. Agentes do serviço secreto estavam presentes em todos os eventos. Quando foi definida a realização dos Jogos Olímpicos em Moscou, esta sinagoga surpreendentemente entrou na lista dos principais locais de excursões da antiga capital. Dois anos antes das Olimpíadas de 1980, foi reformada com verbas do orçamento da URSS — pela primeira vez desde a revolução.
Após o desmantelamento da União Soviética, a sinagoga e a comunidade judaica iniciaram uma nova página na história. Para o tricentenário de São Petersburgo, em 2003, foi realizada uma nova restauração.
Hoje, a Grande Sinagoga Coral é um importante centro cultural para a comunidade judaica russa com jardins de infância, escolas, refeitório, lojas de produtos kosher e restaurantes.
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