Existem apenas duas localidades concorrendo seriamente ao título de centro geográfico da Ásia, e a disputa já se arrasta há décadas, sem qualquer solução à vista. Então, se você realmente quiser viajar ao coração da Ásia do mundo, terá que decidir por si só!
Onde fica?
Um dos centros da Ásia em disputa fica na Rússia, na cidade de Kizil (4.706 km a leste de Moscou), na República de Tuva. O local é marcado por um obelisco alto chamado, como era de se esperar, "Centro da Ásia". Ele fica na barragem de Kujuguet Choigu, no rio Ienissei. A barragem leva o nome de um proeminente oficial de Tuva — pai do atual ministro da defesa da Federação da Rússia, Serguêi Choigu.
O outro centro geográfico do continente asiático fica na China, cerca de 700 km ao sul, em Yungfen, e foi demarcado ali muito depois do primeiro.
Como surgiu essa situação? A resposta está nos diferentes métodos de cálculo — e envolve também um pouco de política.
Como foi calculado o centro da Ásia?
Um centro geográfico é geralmente definido como um ponto equidistante dos limites de um território. A Ásia não é um continente separado nem uma massa de terra, então seus limites são calculados com base nos territórios dos países da região. Outra questão de debate é se devemos considerar certas ilhas distantes como pontos extremos da Ásia ou não.
A noção de que o centro da Ásia está em Kizil surgiu inicialmente nos escritos do engenheiro de hidrologia Vsevolod Roditchev, no início do século 20. Em 1910, ele publicou seu "Ensaio sobre Uriankhai Krai” (bacia do rio Ienissei na Mongólia), no qual contava a história de um viajante inglês que visitou a província chinesa de Uriankhai (no território da moderna Tuva), na década de 1890.
Seu destino era o centro da Ásia: o excêntrico inglês tinha viajado o mundo com o único propósito de "registrar presença" nos centros dos continentes do mundo. A Ásia ficou em quarto lugar na lista - ele já tinha visitado os pontos centrais da Europa, África e Austrália.
O nome do inglês é desconhecido, embora várias fontes se refiram à sua existência. Pelos cálculos dele, o coração da Ásia ficaria no curso superior do rio Ienissei, às margens do rio, bem no jardim de uma propriedade pertencente a Gueórgui Safianov, dono de um entreposto comercial local.
Reza a lenda que o inglês pediu autorização para erguer um monumento para assinalar o local, bem "entre as folhas de cenoura". E a obteve.
Os pesquisadores atualmente são céticos quanto à história (afinal, é estranho que o nome do inglês não apareça em nenhuma fonte). Existe a teoria de que o monumento no jardim foi erguido pelo próprio Safianov, que tinha planos próprios com isso.
Gueórgui Safianov era membro da Sociedade Geográfica Imperial Russa e praticamente todos os viajantes russos que chegavam à província chinesa de Uriankhai na época ficavam hospedados com ele. Um excelente truque para pescar turistas!
De qualquer maneira, o monumento ficou lá por várias décadas e ninguém estava realmente preocupado com o centro da Ásia. Mas, em 1964, as autoridades soviéticas decidiram dar um sopro de vida ao assunto para marcar o 20º aniversário da integração de Tuva à União Soviética (depois de deixar de fazer parte da China, a república passou a ser um Estado independente e protetorado russo até 1944).
Um obelisco do escultor Vassíli Demin, intitulado de "Centro da Ásia", foi erguido para marcar a ocasião. Naturalmente, ele não ficava mais no jardim de Safianov - o monumento de concreto, alto e majestoso, estava posicionado um pouco a leste da vila no aterro da cidade, que era considerado o lugar perfeito para isso.
Foram feitos todos os cálculos para descobrir se o centro da Ásia realmente estava pelo menos em algum lugar de Tuva, e a resposta foi afirmativa. Não há fundamento para considerar esta localização como um ponto geodésico preciso — mas apenas como símbolo.
A versão chinesa e a resposta russa
O "segundo '' centro da Ásia surgiu muito mais tarde, em 1992. Logo após a queda da URSS, cientistas chineses resolveram disputar o verdadeiro ponto central e, fazendo seus próprios cálculos, decidiram que o centro da Ásia ficava em Yungfen.
O cálculo baseava-se nos centros geográficos de 49 países, entre eles, Estados insulares como Chipre e Japão, enquanto a Palestina e Sikkim foram considerados Estados independentes por motivos políticos da própria República Popular da China.
Uma aldeia que existia no local teve que ser realocada para dar lugar ao centro chinês (a aldeia foi rebatizada de "Coração da Ásia") e o centro foi marcado por um monumento de 18 metros - uma torre em forma da letra "A" (para a Ásia).
Mas isso não mudou as coisas de maneira significativa. A resposta da Rússia veio em 2014: o obelisco russo de 1964 foi substituído por um novo, ainda mais grandioso e elegante, no espírito da cultura budista primitiva.
Desta vez, ele veio para marcar o 100º aniversário da incorporação de Tuva à Rússia (contando a partir de 1914, quando Tuva se tornou um protetorado imperial). Ele foi projetado pelo escultor da Buriátia Dachi Namdakov, com temática cita.