3 povos indígenas da Rússia que ignoram a civilização e sobrevivem como seus antepassados ​​

Legion Media
Eles fazem roupas e casas com peles de animais, caçam a própria comida e vagam livremente através das fronteiras internacionais.

Nenets

Família de nenets

Uma das mais numerosas minorias étnicas da Rússia, os nenets criam renas e fazem piadas com seus deuses. Estima-se que existam 41.302 nenets vivendo na Rússia, de acordo com o último censo de 2011.

Os nenets vivem em regiões de tundra e migram pelos vastos campos abertos na costa do Oceano Ártico, da Península de Kola à Região Autônoma de Taimir. Assim como seus ancestrais, eles se vestem com peles de animais, usam trenós puxados por renas e constroem tendas feitas, como suas roupas, de peles de renas.

No meio do “tchum” (como os nenets chamam suas casas), há um fogão móvel de ferro fundido, conhecido como “burjuika” (burguesa", em tradução literal). Acendê-lo é um dever feminino, que as meninas aprendem a fazer desde muito jovens.

Nenets com seus filhos

“A área de pré-entrada do tchum é a parte feminina. As mulheres são surpreendentemente boas em controlar o fogo. Até meninas pequenas mexem livremente com o carvão, acendem e abafam as chamas. Elas usam uma variedade de combustíveis – do musgo preto às bétulas anãs”, diz Andrei Golovnev, etnógrafo e autor de um documentário sobre a vida dos Nenets.

Os homens passam esse tempo principalmente descansando – e apenas na sua metade da casa, onde os nenets acreditam que vivem os espíritos. A divisão em espaços masculino e feminino é tão rígida que, se uma mulher acidentalmente entrar na ala masculina, um ritual de purificação deve ser realizado. Pedaços de pele de castor são colocados em um vasilha com carvão, e a mulher se purifica com a fumaça – somente dessa maneira ela pode compensar uma conduta tão grave.

Tchum

Os nenets têm um relacionamento democrático com seus deuses. Para eles, “homem e deus são dois lados de um diálogo. E até brincam com seus deuses”, diz Golovnev.

Embora os nenets não tenham escapado por completo dos benefícios da civilização (muitos têm celulares e até motoneves), eles preservam o estilo de vida dos ancestrais até hoje. A criação de renas e a pesca continuam sendo suas ocupações tradicionais.

Esquimós

Festival da Caça, na região de Magadan

Existem cerca de 150.000 esquimós pelo mundo todo, mas apenas 1.738 deles vivem na Rússia. Eles habitam a costa de Tchukotka, caçam morsas e visitam seus parentes do outro lado da fronteira nos Estados Unidos.

Os esquimós que vivem na Rússia são conhecidos como esquimós siberianos ou asiáticos. Eles estão intimamente relacionados aos esquimós dos Estados Unidos.

“A Ilha de São Lourenço (Alasca, EUA) está localizada a 60 quilômetros da Península de Tchuktchi. Eles [esquimós americanos e russos] têm parentesco. Antes da Guerra Fria, até 1948, eles tinham contatos muito próximos. Arqueólogos encontraram garrafas de uísque nos EUA nos antigos assentamentos esquimós. Antes do estabelecimento do poder soviético nas décadas de 1920 e 1930, se os esquimós asiáticos falassem algum idioma europeu, seria inglês, não russo”, conta Dmítri Oparin, etnólogo e professor da Universidade Estatal de Moscou.

Caçadores voltando para casa

Durante muito tempo, os esquimós de Tchukotka ficaram isolados da influência do resto da Rússia. “A influência russa em Tchukotka só se tornou perceptível quando o poder soviético chegou aqui na década de 1930. Antes da revolução, a influência americana era sentida com mais força. Os esquimós adultos falavam inglês e trabalhavam em botes baleeiros dos EUA. Muitos passavam algum tempo nas cidades norte-americanas da costa oeste e obtinham mercadorias ocidentais, incluindo álcool, chiclete, armas, roupas e joias”, explica Oparin.

A principal ocupação tradicional dos esquimós continua sendo a caça de animais marinhos. Os caçadores se reúnem em grupos de 3 a 12 pessoas.

“Eles não pararam de caçar. Os moradores caçam morsas, baleias, focas lebres-do-mar e raposas, em grupos. Eles são caçadores experientes, e essas habilidades são passadas de geração em geração”, diz Oparin.

Os esquimós mantêm o sistema de crenças de seus ancestrais e continuam praticando o xamanismo

Muitas pessoas pensam que os esquimós vivem em iglus, mas os esquimós contemporâneos na Rússia moram em aldeias, dentro de cabanas comuns. Eles mantêm o sistema de crenças de seus ancestrais, praticando o xamanismo.

Um fato curioso é que os indígenas de Tchukotka não precisam de visto americano para visitar o Alasca. Um acordo especial entre EUA e Rússia prevê um regime de isenção de visto para os povos indígenas que vivem nos dois lados da fronteira.

Nanai

Família tradicional nanai

Ao longo do rio Amur e seus afluentes no território de Khabarovsk, na Rússia, vive outra minoria indígena – os nanai.

Segundo o folclore local, os nanai descendem de um tigre de taiga e da filha do primeiro casal humano na Terra. Outra versão, mais factível, é que o povo nanai veio da China à Rússia, embora especialistas digam que sua etnogênese é mais complexa.

Os nanai veneram um deus do sol e rezam para ele até o amanhecer. Eles também acreditam nos espíritos de seus antepassados. Os homens caçam e pescam, enquanto as mulheres costuram e lidam com peles de animais.

Os homens caçam e pescam, enquanto as mulheres tratam e costuram peles de animais

Esses povos vivem em estreito contato com a natureza, e sua crença no mundo espiritual é muito profunda.

“Antes de derrubar uma árvore, o chefe da família (...) se aproxima da árvore, permanece na frente dela por um longo período e fala mentalmente com o espírito interior: ‘Vou machucá-lo, mas você viverá novamente em uma encarnação diferente. Vou construir um barco para transportar minha família. Por favor, me perdoe, mas eu realmente preciso de você. Deixe-me cortá-la.’ Então ele procura por sinais. Se um pássaro começa a cantar, é um bom presságio. Isso significa que a árvore deu seu consentimento”, diz a doutora em ciências históricas Evdokia Gaer, de origem nanai.

As meninas nanai podem ter o casamento arranjado na primeira infância, aos seis anos ou mais cedo. “Se alguém tem uma filha e seu vizinho ou amigo tem um filho, os pais organizam para que se tornem marido e mulher quando crescerem”, diz Gaer.

Aldeia nanai ao longo do rio Amur, ao norte de Khabarovsk

Quando o dia do casamento chega, a jovem noiva veste um traje de seda. Os tecidos são trazidos da vizinha China, onde os nanai têm parentes que foram separados após a demarcação final da fronteira russo-chinesa ao longo do rio Amur.

Assim como os povos indígenas de Tchukotka, as minorias étnicas que vivem nas regiões fronteiriças da China desfrutam de um regime especial de isenção de visto. Esses indivíduos podem obter permissão para atravessar a China no posto de fronteira, mas para isso precisam de um convite do lado chinês.

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