Cucumaria, a estranha criatura marinha que os soviéticos adoravam comer (FOTOS)

Legion Media
Esta iguaria do Extremo Oriente costumava repelir os soviéticos por sua aparência, digamos, nojenta. Mas, para quem não teve medo de experimentá-la, é pura nostalgia. O Russia Beyond explica o que realmente é, por que as pessoas adoravam e com o que consumi-la.

Quando a cucumaria em lata apareceu pela primeira vez na URSS, ninguém se empolgou.

“Naquela época, os trabalhadores recebiam periodicamente cestas básicas. Estas eram geralmente compostas por itens legais, como frango, trigo sarraceno, leite condensado, chocolate, peixe e assim por diante. Mas sempre incluía itens excedentes – coisas que ninguém estava interessado em comprar”, diz Vadim, morador do extremo norte da Rússia.

“Desta vez, o excedente continha latas de cucumaria e algas marinhas. E ninguém queria nada disso. Ficava lá no bufê, onde as cestas eram vendidas. O porão ficava cheio de caixas e latas daquela malfadada cucumaria.”

O alimento “malfadado” não ganhou inicialmente o paladar das massas. Em primeiro lugar, fora da região de Primorie e Sacalina, ninguém fazia ideia do que era. Além disso, tinha um aspecto desagradável. Por um tempo, pirâmides inteiras de latas com o item misterioso se amontoavam nas lojas, acumulando poeira (mesmo durante o déficit de alimentos), e depois desapareceram abruptamente – depois que os soviéticos enfim descobriram o que era.

Pepino-do-mar

A cucumaria é um molusco pertencente à classe Holothuroidea. É mais conhecido como pepino-do-mar, devido à sua semelhança com o fruto do pepineiro e é de cor marrom ou roxo escuro. Pode atingir 40 centímetros de comprimento e pesar até um quilo.

A espécie vive no fundo do mar e viaja por ele a profundidades de 5 a 50 metros, alimentando-se de plâncton. Este prato tradicional do Extremo Oriente é muitas vezes confundido com trepang. Os dois têm bastante em comum, como, por exemplo, habilidades regenerativas. Uma cucumaria é capaz de reconstituir seu corpo a partir de um terço de seu tamanho – isto é, se você cortar uma viva em três, obterá três novas criaturas.

À medida que os cientistas começaram a falar sobre os seus benefícios para a saúde, as pessoas começaram a se referir a cucumaria como uma iguaria, e as latas cobertas de poeira começaram a voar das prateleiras, tornando-se uma raridade na maior parte do país.

Contra o câncer

Cem gramas de cucumaria contém apenas 35 calorias, porém é rica em nutrientes: contém tanto caroteno e vitamina A quanto a carne bovina; possui mais de três vezes os ácidos graxos poliinsaturados dos peixes e 10 vezes os minerais encontrados em animais terrestres.

A carne do molusco também é valorizada por seu colágeno e baixo teor de carboidratos, e não é à toa que cientistas de todo o mundo o pesquisam por suas propriedades medicinais.

Um estudo in vitro determinou, por exemplo, que o frondosídeo A (um de seus produtos químicos) tem propriedades imunomoduladoras e de combate ao câncer. Outro analisou sua eficácia no tratamento da doença de Alzheimer devido a seu teor de polissacarídeos.

Como é consumida

Primeiramente, a cucumaria é descascada, cortada ao meio e suas vísceras são removidas. Depois, há várias opções: pode ser congelada ou fervida imediatamente. A preparação deste último prato leva de três a quatro horas.

Os russos geralmente não consomem cucumaria crua (ao contrário dos chineses e japoneses, onde é popular como sashimi). Na Rússia, eles a fervem, secam ou fazem conserva. A última opção é a mais popular, pois facilita o transporte e o armazenamento. O prato é conservado sobretudo com couve do mar – como os soviéticos se lembram.

Na realidade, porém, pode-se fazer qualquer coisa com esses moluscos: fritar, refogar ou preparar risoto e salada. “Acho que fica melhor com carne e legumes. Eu não tentaria nada muito extravagante em termos de especiarias, pois seu próprio sabor é bastante neutro”, diz Dmítri Kemiachov, chef do restaurante Ostrov Russkiy. “Sal e pimenta simples são suficientes, assim como tomates. Molho de soja e vários produtos tradicionais japoneses e chineses também se encaixam, devido à sua geografia. Você pode preparar uma salada: frite a cucumaria, adicione legumes e molho de soja”, acrescenta.

O prato de cucumaria mais tradicional do Extremo Oriente é o “raspador”. Começa com cenouras e cebolas fritas, e tomates são mais tarde adicionados à mistura. Pode-se também acrescentar caldo de carne para um sabor mais completo. Em seguida, adiciona-se a cucumaria em cubos, juntamente com a carne (carne bovina, por exemplo), seguida de alguns pimentões no final. Depois é só ferver tudo até ficar pronto.

Na lata lê-se

No entanto, embora o molusco seja capturado em escalas industriais na Rússia, encontrá-lo fora do Extremo Oriente não é fácil hoje em dia – apesar também do preço modesto, de 200 rublos (aproximadamente US$ 2,60) por lata.

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