Mel fermentado, a cerveja artesanal da velha Rus

Comida
GUEÓRGUI MANÁEV
Não é medovukha, nem kvass e, definitivamente, não é vodca! Esta bebida antiga feita de mel foi há muito esquecida, mas surpreendia os estrangeiros e trazia imenso poder aos bogatires russos!

Volte para o século 10, para as terras da Rus (antigo Estado que antecedeu a Rússia), para a cidade de Súzdal. Um dia importante na vida da família de um rico guerreiro era aquele em que nascia seu filho. E o que era mais significativo: o avô estava por perto para vê-lo nascer. O avô estava feliz e ia ao celeiro para trazer a bebida comemorativa (que ele começou a fazer 40 anos antes!). E não era vodca!

Uma bebida sem... água

Os russos antigos não tinham vinhedos e não produziam bebidas destiladas pesadas. O mel era o principal ingrediente daqueles tempos para fazer bebidas alcoólicas. Mas, antes da popularidade da medovukha, uma bebida fermentada feita a partir da fervura de uma mistura de mel e água, havia outra. Essa bebida especial precisava de dezenas de anos para ser produzida e se chamava “stavlenni miôd” (“mel deixado”). E ela era produzida sem adicionar água!

A primeira menção a esta bebida vem de Ahmad ibn Rustah, um explorador e geógrafo persa do século 10, autor de um compêndio geográfico conhecido como "Livro de tesouros preciosos". Nele, Ahmad descreve em breve o modo de vida dos antigos eslavos, mencionando que eles prepavam uma bebida de mel em barris de madeira.

Deixe (40 anos!)

O processo era chamado de “medostav”. O mel era abundante na Rússia antiga, e o "mel deixado" exigia muito. Para fazê-lo, a pessoa pegava duas partes de mel fresco puro e misturava com suco de baga, adicionando especiarias (hoje desconhecidas) para formar uma substância não perecível. Nenhum lúpulo, fermento ou água eram adicionados. Nos primeiros meses, a mistura era deixada para fermentar em frascos abertos e vertida de um para o outro algumas vezes.

O passo seguinte era despejar a mistura em barris de madeira que eram selados hermeticamente com alcatrão e depois enterrados no chão, criando um espaço hermético. Nestes barris subterrâneos, o processo de fermentação continuaria por 15 a 40 anos!

O tempo mínimo era de 8 anos, e esse “mel deixado” era chamado de “jovem”. Lembre-se de que a fermentação de bebidas no subsolo era popular em várias culturas (por exemplo, os kvevri, são vasos usados ​​para a fermentação, armazenamento e envelhecimento do vinho georgiano tradicional).

Obviamente, apenas pessoas muito ricas podiam pagar a preparação de tal bebida. Como Ibn Rustah observou, apenas 10 jarros (com cerca de 10 litros cada) da bebida saíam de um barril (entre 80 e 100 litros). Com a passagem de dezenas de anos, os barris eram retirados do solo e a mistura interna era finalmente desepejada com água misturada com mel fresco e não fervido.

Se alguém queria que a bebida fosse preparada mais rapidamente, era necessário adicionar aceleradores de fermentação naturais, como o lúpulo - esse era o chamado mel de lúpulo, e ficava pronto em "apenas" 10 anos. Quando a mistura inicial era fervida e depois fermentada, ficava pronta para beber em um mês - a técnica era muito parecida com a fabricação de cerveja. Assim nascia a medovukha.

O “mel deixado” deixou de ser consumido por volta dos séculos 15-16, e os segredos de sua produção foram inevitavelmente perdidos. Mas, segundo as tradições russas, era o "mel deixado" que ajudava o bogatir Iliá Muromets a superar sua paralisia e se erguer novamente para enfrentar seus inimigos.

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