Dymka, o brinquedo medieval que virou tradição no norte da Rússia

Pavel Smertin/TASS
Nascido no vilarejo de Dymkovo, na região de Kirov, há mais de 400 anos, esse brinquedo é um dos tipos de artesanato mais antigos da Rússia. Até hoje, porém, os mestres dessa técnica mantêm as mesmas tradições em sua fabricação.

Dymka é um brinquedo realmente único porque, em sua produção, não há cópias exatas – cada um tem seu próprio tema e ornamentação.

“Normalmente, o brinquedo é composto por vários detalhes. A argila vermelha oferece a possibilidade de ‘colar’ todos os detalhes sem qualquer outro recurso. O que é necessário é um instrumento que suavize as áreas de articulações para que essas linhas de junção não fiquem aparentes”, explica Oksana Romanova, instrutora de escultura e pintura de dymka na Academia de Cerâmica Ânfora.

O brinquedo acabado fica secando por 5 a 7 dias e, em seguida, é colocado em um forno a 900ºC. Enfim, o objeto passa por um processo de clareamento.

Ninguém sabe exatamente quando e quem idealizou a cobertura branca para o dymka. Os seus predecessores – apitos e bolas de argila – eram negros, ou vermelhos (da mesma cor da argila). Acredita-se, porém, que o processo de clareamento teve início no começo do século 19, quando a porcelana virou moda entre os membros da elite.

“Os camponeses, ao verem a porcelana nas casas de seus senhores, adotaram o mesmo aspecto esbranquiçado, que era feito de giz em pó que diluído em leite. O brinquedo era mergulhado na mistura e depois deixado para secar. Ao secar, o leite coalhava, permitindo que a primeira demão aderisse bem”, diz Romanova.

As pessoas também eram muito inventivas na preparação das cores: usavam desde gema de ovo a kvass. Apesar das possibilidades limitadas dos camponeses, a gama de cores era ampla e vívida. Tons pálidos nunca são usados ​​na fabricação de dymka, e os padrões tendem a ser bastante simples. Os primeiros mestres desse artesanato não dispunham de instrumentos especiais e, às vezes, nem sequer tinham pincéis.

Retratos da realidade

Os artesões de dymka eram inspirados por temas da vida cotidiana. “Eles esculpiam tudo o que existia ao redor: animais, cenas da vida camponesa, pescadores, mulheres e cavalheiros bonitos que observavam em feiras da época”, conta Romanova.

Já nos tempos soviéticos, os mestres retratavam temas relacionados às conquistas científicas e espaciais; por exemplo, a imagem de um homem e uma mulher em trajes espaciais debaixo de uma macieira, como Adão e Eva, é muito popular entre os colecionadores. A ideia é que os personagens representassem Gagárin e Tereshkova.

Acontecimentos engraçados e tolos da vida dos próprios mestres também eram recontados por meio dessa arte. Zoia Penkina, uma mestre hereditária de dymka, foi, por exemplo, inspirada por suas primeiras impressões do metrô de Moscou e criou uma composição com uma mulher empolgada que ficara presa no catraca.

O dymka, em sua forma mais tradicional, poderia ter sido extinto há 100 anos, mas, graças aos artistas Anna Mezrina e Aleksêi Denchin, esse brinquedo medieval foi salvo do esquecimento. Natural da cidade de Vyatka, Denchin popularizou esse tipo de artesanato, publicou álbuns sobre o tema, organizou exposições internacionais e nacionais, realizou oficinas e forneceu ferramentas necessárias aos novos mestres.

Dymka hoje

Mais tarde, a União de Artistas de Kirov criou um Conselho Artístico para monitorar o uso de cânones tradicionais na fabricação de dymka. Brinquedos não preparados conforme a tradição eram imediatamente destruídos com um martelo. Por meio disso o objetivo era impedir o surgimento de um novo ramo de artesanato.

Inicialmente, a produção de dymka era ensinada em famílias, e o conhecimento era transmitido de mãe para filha. Porém, na década de 1960, a filosofia tornou-se menos rígida, e alunos de fora também começaram a ser aceitos. Os futuros mestres tinham que passar em uma prova de pintura, desenho e composição e, enfim, fazer um teste único: uma figura simples era colocada perante os alunos, a partir da qual tinham que produzir uma cópia exata. Eles copiavam esses brinquedos comuns até alcançarem a perfeição e criarem suas próprias formas. No passado, muitas pessoas queriam se tornar mestres da fabricação de Dymka, mas hoje há apenas 7 a 15 alunos por escola.

A maior coleção desses brinquedos pode ser encontrada no Museu de Dymka e no Museu de Arte Vyatka Vasnetsov. Também é possível adquiri-los pelo site oficial.

Autorizamos a reprodução de todos os nossos textos sob a condição de que se publique juntamente o link ativo para o original do Russia Beyond.

Leia mais

Este site utiliza cookies. Clique aqui para saber mais.

Aceitar cookies