“Presto um juramento solene à terra polonesa, encharcada de sangue, ao povo polonês que sofre sob o jugo de Hitler. Juro que não mancharei o nome polonês e servirei fielmente à Pátria”, estas foram as palavras proferidas pelos voluntários que se juntaram às fileiras da 1ª Divisão de Infantaria Polonesa Tadeusz Kościuszko.
Esta unidade militar lutou na frente soviético-alemã em 1943, subordinada operacionalmente ao Exército Vermelho. No final da guerra, já havia dois exércitos poloneses lutando ombro a ombro com soviéticos contra os nazistas.
A formação de unidades polonesas na URSS começou no verão de 1941, segundo o acordo entre os governos soviético e polonês no exílio. O exército sob o comando de Władysław Anders incluía poloneses que viviam nos territórios da Polônia cedidos à União Soviética em 1939, militares do exército polonês, exilados e refugiados.
Devido a diferenças políticas e ideológicas entre a URSS e a Polônia, o exército de Anders, de 115.000 homens, nunca participou nas batalhas na Frente Oriental. Por sugestão da Grã-Bretanha, em março de 1942, esse exército foi levado do território soviético para a Frente Ocidental para combater os alemães sob o comando do quartel-general britânico.
No entanto, nem todos os militares poloneses deixaram a URSS. Um grupo liderado pelo ex-coronel Zygmunt Berling expressou o desejo de lutar ao lado das forças soviéticas.
Na primavera de 1943, o governo soviético decidiu formar unidades polonesas leais à URSS. Em 14 de maio, perto da cidade de Riazan, começou a criação da 1ª Divisão de Infantaria Polonesa que recebeu o nome de Tadeusz Kościuszko. Berling, que havia sido condenado à morte por um tribunal militar do governo polonês no exílio por deserção, foi nomeado comandante.
A divisão sofreu uma grave escassez de pessoal de comando. Muitos oficiais morreram em 1940 durante as repressões soviéticas ou fugiram do país com o general Anders.
Para resolver os problemas, o Exército Vermelho começou a transferir oficiais das unidades soviéticas para as unidades polonesas. Entre maio de 1943 e julho de 1945, quase 20 mil oficiais do Exército Vermelho, entre os quais apenas 3.500 eram poloneses por nacionalidade, foram enviados para servir nas divisões polonesas.
Um dos oficiais russos apresentou em 1944 um pedido de transferência da 2ª divisão polonesa “para qualquer setor da frente”, explicando: “Não conheço nada da língua polonesa e não compreendo o que os soldados me dizem”.
Em agosto de 1943, a divisão polonesa foi transformada em um corpo. Além das unidades de infantaria, o corpo recebeu o 1º Regimento de Tanques “Heróis de Westerplatte” e o 1º Regimento de Aviação “Varsóvia”.
Os poloneses receberam o batismo de fogo em 12 de outubro do mesmo ano, perto da cidade de Lênino, na região de Mogilev (atual Bielorrússia). As perdas da divisão de Kościuszko em mortos, feridos e desaparecidos chegou a 25% de seu pessoal.
Na primavera de 1944, o tamanho das unidades polonesas cresceu ainda mais; assim, apareceu o 1º Exército Polonês, que incluía brigadas de artilharia, regimentos de tanques, aviação, de comunicações, batalhões de engenharia, reconhecimento e lança-chamas.
Operacionalmente, o Exército Polonês estava subordinado à 1ª Frente Bielorrussa e participou ativamente na libertação da sua pátria. Durante a Revolta de Varsóvia, foram os seus combatentes que cruzaram o rio Vístula para ajudar os rebeldes. Mas, sob pressão do inimigo, eles logo recuaram.
Em 21 de julho de 1944, o governo polonês pró-soviético criado na cidade de Lublin, chamado de Comitê Polonês de Libertação Nacional, anunciou a unificação do 1º Exército Polonês com o grande Exército Partidário Ludowa em um único Exército Popular Polonês.
A mobilização anunciada no território libertado da Polônia permitiu recrutar dezenas de milhares de novos soldados e criar o Segundo Exército Polonês sob o comando do general Karol Świerczewski.
O Segundo Exército Polonês operou sob a subordinação operacional da 1ª Frente Ucraniana do marechal Ivan Konev. Em abril de 1945, junto com unidades soviéticas, o Segundo Exército avançou para Dresden — Świerczewski estava obcecado com a ideia de que os poloneses deveriam ser os primeiros a entrar na cidade.
Por causa desse desejo, as tropas polonesas se distanciaram demais, afastando-se da retaguarda. Os alemães lançaram um contra-ataque bem-sucedido e isolaram o 2º Exército polonês das forças principais.
Świerczewski, porém, ignorou o perigo e ordenou que o exército continuasse avançando para o oeste. Mais tarde, um dos oficiais poloneses comentou com emoção as ações de seu comandante: “Świerczewski devia estar bêbado quando ordenou isso”.
Somente graças à intervenção pessoal de Konev a ofensiva foi interrompida e as unidades polonesas voltaram aos soviéticos com grandes perdas. O Exército Vermelho entrou em Dresden apenas em 8 de maio de 1945.
O 1º Exército Polonês, por sua vez, participou da captura de Berlim. No momento, os poloneses representavam cerca de 10% de todas as forças que atacaram o “covil da besta fascista”.
O comandante do Exército, general Stanisław Popławski, descreveu as ações de seus soldados em batalhas urbanas: “Metralhadoras pesadas inimigas dispararam do porão de um edifício. Tivemos que deitar. Mas o cabo Levtchichin se aproximou do prédio e jogou duas granadas no porão. As metralhadoras silenciaram. Logo, o prédio foi capturado. Uma bandeira branca e vermelha apareceu em seu telhado. Foi a primeira bandeira polonesa sobre as ruínas de Berlim! Não se sabe qual dos soldados trouxe a bandeira e que herói a colocou como símbolo da vitória completa iminente, mas todos os soldados sentiram seu envolvimento nesse evento”.
Ao longo de anos de combates, os exércitos poloneses perderam cerca de 70 mil soldados, entre mortos e feridos. No verão de 1944, restava em torno de 400 mil. Estes militares formaram a base das Forças Armadas da República Popular da Polônia.
Em 1945, o secretário-geral do Comitê Central do Partido dos Trabalhadores Poloneses, Władysław Gomułka, perguntou a Stálin quanto a Polônia estava devendo à União Soviética por todas as armas que recebeu durante a guerra.
“Não há preço para o sangue. Os aliados não vendem sangue”, respondeu o líder soviético.
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