O tsar Aleksêi Mikhailovitch (1629-1676), também conhecido como Aleixo da Rússia em português, foi o primeiro monarca russo a transformar seu aniversário em feriado nacional.
Durante seu reinado, a principal lei da Rússia, chamada "Sobórnoie Ulojénie" ("Código da Catedral", em tradução livre), de 1649, listava os dias em que era proibido efetuar negócios nos tribunais e nos prikazi (ministérios).
Além disso, um feriado à parte foi dedicado ao "aniversário do Tsar de Toda a Rússia e Grão-Duque Aleksêi Mikhailovitch, da sua nobre Tsarina e Grã-Duquesa Maria Iliínichna, e dos seus nobres filhos".
No entanto, naquela altura, os russos não celebravam aniversários. Pelo contrário, eles comemoraram o “dia do nome”, que era dedicado aos seus santos padroeiros — e um nome santo podia ser celebrado várias vezes por ano. O nascimento espiritual era considerado mais importante que o corporal.
Essa tradição começou durante o reinado do primeiro tsar da dinastia Romanov, Miguel 1º (Mikhail Fiódorovitch Romanov), que nasceu em 12 de julho, no "dia do anjo Mikhail". Miguel se tornou o tsar de Toda a Rússia na véspera do seu "dia do nome", em 11 de julho de 1613, e, desde então, iniciou-se a tradição na família Romanov de celebrar o "dia do nome" como feriado.
Como os tsares celebravam os ‘dias do nome’?
Como qualquer cristão, no dia de seu nome o tsar era obrigado a comparecer à liturgia na igreja pela manhã e comungar e, depois, realizar uma festa. Logo após a liturgia, apenas o círculo íntimo dos boiardos da mais alta hierarquia era convidado para o "dia do nome" do monarca, a quem era oferecida uma “mesa pequena”, enquanto à noite era organizado um "grande jantar" com a participação de todos funcionários mais altos do Estado.
Sempre por tradição, o aniversariante distribuía bolos do "dia do nome". O tsar geralmente os dava aos dignitários mais próximos após o término da missa de aniversário na igreja.
Os presentes para o monarca aniversariante eram obrigatórios. No "dia do nome" do tsar, os convidados do Kremlin traziam louça de ouro, bordados, joias, enquanto a nobreza não convidada enviava presentes ao Kremlin "em nome do tsar". A ausência de presentes podia ter um efeito muito negativo sobre a carreira de uma pessoa.
Os "dias do nome" das tsarinas eram celebrados de uma forma mais modesta: os boiardos mais altos e o patriarca vinham parabenizar a esposa do monarca em sua Câmara Dourada da metade feminina do palácio de Kremlin e uma missa solene era feita na igreja. Os "dias do nome" de príncipes e princesas eram celebrados seguindo este mesmo modelo, mas em escala menor.
Quando os tsares passaram a comemorar seus aniversários?
A comemoração de aniversários era um costume europeu. Na Rússia, o primeiro tsar a celebrar seu aniversário foi Teodoro 3º (Fiódor Aleksêevitch), o filho mais velho de Aleixo 1º, que gostava da Europa.
Pedro, o Grande, comemorava seu aniversário regularmente e, a cada vez, organizava uma grande festa, que durava até dois dias. Em seu 38º aniversário, que foi celebrado na casa de seu amigo mais próximo, Aleksandr Ménchikov, em São Petersburgo, o tsar ordenou que todos os convidados pulassem no fosso da mansão e bebessem a sua saúde.
Muitos, incluindo o príncipe Ménchikov, pegaram um resfriado e adoeceram depois da festança. Em 1718, o 46º aniversário do tsar foi comemorado no Jardim de Verão e muitos convidados adormeceram nos becos.
O primeiro imperador russo celebrou seu último aniversário em 30 de maio de 1724, no Jardim Golovínski, em Moscou, no bairro Lefortovo. Após a missa na igreja, Pedro convidou todos para um jantar festivo no jardim. Das seis às onze da noite, os convidados e o tsar festejaram ao ar livre, e a festa terminou com fogos de artifício na lagoa Golovínski. À meia-noite, os convidados foram para casa.
Após Pedro, o Grande, os aniversários e os "dias do nome" dos imperadores russos e de membros de suas famílias passaram a ser comemorados obrigatoriamente com bailes. Ao mesmo tempo, os "dias do nome" dos membros da família real continuaram sendo feriados e, em todas as igrejas do Império, eram realizadas missas pela saúde dos aniversariantes mais importantes.
Os aniversários, por outro lado, eram feriados mais familiares. Nicolau 1º comemorava seus aniversários modestamente. Sua filha Olga Nikolaevna escreveu: “Ele não nos deixou presenteá-lo, exceto com lenços e, de vez em quando, o mimávamos com algum tipo de arma, que ele invariavelmente transferia para o Arsenal. De nós, crianças, ele gostava de aceitar desenhos feitos à mão."
Porém, o aniversário da imperatriz Alexandra Feodorovna, esposa do último imperador russo, Nicolau 2º, foi celebrado com um baile e uma enorme procissão em Peterhof.
“Dizem que, no dia da homenagem à imperatriz, seis mil carruagens, trinta mil pedestres e inúmeros barcos partiram de São Petersburgo e todas essas multidões, ao chegarem a Peterhof, acamparam à sua volta”, escreveu o marquês Astolphe de Custine.
O "dia do nome" de Nicolau 2º, como feriado, foi celebrado "com uma missa solene, um baile e um jantar no Salão Branco do Palácio de Inverno, onde geralmente se reuniam cerca de mil pessoas", escreve o historiador Leonid Vískotchkov.
Além disso, os "dias do nome" costumavam ser "duplos": todos os membros da família real com o mesmo nome celebravam o feriado no mesmo dia. Assim, por exemplo, Alexandre 2º e seu filho, o grão-duque Aleksandr Aleksándrovitch, futuro imperador Alexandre 3º, comemoraram o "Dia de Alexandre" de maneira especialmente solene e com o dobro do número de convidados.
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