Quem foi a bisavó de todos os Romanov no século 19?

Kira Lissítskaia (Foto: Ivan Adólski; Stepan Schúkin; Egor Botman; Vladímir Borovikôvski; Lucas Conrad Pfandzelt)
Considerada bastarda ao nascer, esta filha de Pedro, o Grande, acabou se tornando a progenitora da Casa Holstein-Gottorp-Romanov.

Quando nasceu, Anna Petrovna, a segunda filha de Pedro, o Grande, foi considerada ilegítima: sua mãe, Marta Skavronskaia (a futura Catarina 1ª), e seu pai não eram casados. Depois de 1712, quando Pedro e Catarina se casaram, suas filhas Anna e Elizaveta tornaram-se tsarevnas, o que significa que as duas meninas receberam palácios e terras.

Casamento com duque derrotado

Anna Petrovna

Anna e Elizaveta foram criadas de forma contemporânea, com ênfase em línguas estrangeiras e boas maneiras. Já aos 12 anos, as duas participavam das cerimônias da corte e conseguiam manter uma conversa formal em francês. Para fortalecer os laços entre a Rússia e a Europa, a intenção de Pedro era casar as filhas com príncipes e reis europeus.

Ao contrário de sua irmã Elizaveta, que permaneceria solteira por toda a vida, Anna se casou com um príncipe europeu, embora “muito pobre”. Seu marido, Carlos Federico, era o duque de Schleswig-Holstein-Gottorp, um pequeno ducado com 9.000 quilômetros quadrados localizado na fronteira entre a atual Alemanha e a Dinamarca.

Anna Petrovna e Elizaveta Petrovna

Carlos Frederico chegou a São Petersburgo em 1720, porque as terras de seu ducado foram subjugadas pelo rei Frederico 4º da Dinamarca, que se declarou governante de Schleswig-Holstein-Gottorp. Isso fez com que Carlos Frederico procurasse ajuda na Rússia.

Pedro, o Grande, se recusou a dar ajuda militar. Carlos Federico era neto do rei sueco Carlos 12º, arqui-inimigo de Pedro derrotado pelo tsar russo na Grande Guerra do Norte (1700-1721). No entanto, Pedro permitiu que Carlos Frederico ficasse na Rússia e até lhe concedeu a Ordem de Santo André, a maior honra da Rússia. Já em São Petersburgo, Carlos Frederico se apaixonou pela filha do tsar, Anna.

Príncipe Carlos Frederico da Suécia

Pouco antes de sua morte, Pedro deu seu consentimento ao casamento. Em novembro de 1724, o contrato de casamento foi enfim assinado. Anna Petrovna manteria a fé ortodoxa e poderia criar suas filhas na ortodoxia, mas os filhos deveriam ser criados na fé do pai. Anna e seu marido tiveram negada a possibilidade de reivindicar o trono russo, mas o contrato continha um artigo secreto segundo o qual, se desse casamento nascesse um filho do sexo masculino, ele teria então teria direitos ao trono russo.

Vida curta, porém gloriosa

Quando Carlos Frederico e Anna Petrovna se casaram, em junho de 1725, o tsar Pedro, o Grande já havia morrido. Como a mãe de Anna, Catarina, tornou-se a imperatriz Catarina 1ª, seu marido, o duque Carlos Frederico, passou a ocupar uma posição importante como um dos sete membros do Conselho Privado Supremo, que, na prática, governava o país em vez da imperatriz – já que estava passava os dias de luto por seu falecido marido.

Carlos Frederico de Holstein-Gottorp (1700-1739)

No Supremo Conselho Privado, Carlos Frederico pôde, de fato, interferir na política da Rússia. Mas, em 1727, após a morte de Catarina, Aleksandr Menchikov, presidente do Conselho Privado, expulsou Carlos Federico e Anna da Rússia. O casal partiu para Schleswig-Holstein, onde, em fevereiro de 1728, na cidade de Kiel, Anna deu à luz um menino chamado Carlos Pedro Ulrich – que viria a ser o futuro imperador russo Pedro 3º.

No entanto, Anna Petrovna morreu pouco após o parto, em circunstâncias pouco claras. Reza a lenda, contada pelo cientista Jacob von Stäehlin em suas memórias, que, assim que se recuperou do parto, Anna foi até a janela para ver melhor os fogos de artifício coloridos que celebravam o nascimento de seu filho. O ar frio e úmido do Báltico pairava na sala, porém Anna, exibindo sua herança russa, disse que não tinha medo do frio. Foi então que teria pegado um resfriado, que evoluiu para febre e culminou em sua morte aos 20 anos.

Anna Petrovna

Mas o problema é que Jacob von Stäehlin chegou à Rússia em 1735 e provavelmente estava contando a lenda que ouviu de outra pessoa – porque as cartas de Anna mostram que ela morreu em maio de 1728, três meses após o parto. Pode ter sido envenenada? Ou foram as consequências da febre do parto, muito comum na época? A única coisa que se sabe é que seu marido, Carlos Frederico, cuidou da criação do filho até 1739, quando ele morreu.

O legado

Em 1741, o filho de 13 anos de Carlos Frederico e Anna Petrovna, o duque Carlos Pedro Ulrich, partiu para a Rússia. Elizabeth Petrovna, irmã de Anna, tornou-se a imperatriz russa e queria que o filho de sua irmã – o seu sobrinho – herdasse o trono russo.

Pedro 3º e Catarina 2ª da Rússia

Como sabemos, Carlos Pedro Ulrich tornou-se Pedro 3º, o malfadado imperador russo que acabou sendo destronado por sua própria esposa, Catarina 2ª, e posteriormente assassinado. Pedro 3º foi o primeiro duque de Schleswig-Holstein-Gottorp a ocupar o trono russo e é considerado o fundador da Casa de Holstein-Gottorp-Romanov. Seu filho, Paulo da Rússia, e sua esposa, a imperatriz Maria Fiodorovna, tiveram quatro filhos e seis filhas – uma extensa árvore genealógica de descendentes que incluía membros da realeza britânica.

LEIA TAMBÉM: Como criar seus filhos: 12 regras de Catarina, a Grande

Para ficar por dentro das últimas publicações, inscreva-se em nosso canal no Telegram

Autorizamos a reprodução de todos os nossos textos sob a condição de que se publique juntamente o link ativo para o original do Russia Beyond.

Leia mais

Este site utiliza cookies. Clique aqui para saber mais.

Aceitar cookies