As primeiras revistas femininas da URSS

História
ALEKSANDRA GÚZEVA
As revistas para as trabalhadoras das fábricas, camponesas e políticas surgiram após a Revolução. Elas traziam artigos das figuras mais proeminentes do Partido e muitas delas eram dirigidas por Nadejda Krúpskaia, a esposa de Lênin.

As revistas femininas também eram publicadas na Rússia tsarista, mas falavam de assuntos muito restritos: moda, notícias da sociedade, bordados e tarefas domésticas ou, no máximo, publicavam novidades literárias.

Importantes questões sociais eram abordadas, quando muito, superficialmente. Essas revistas também eram acessíveis e lidas por um círculo bastante restrito de mulheres instruídas. Mas tudo mudou após a queda da monarquia.

Após a Revolução de 1917, os bolcheviques se colocaram a missão de alfabetizar as grandes massas e fundaram meios de comunicação de massa que o Partido Bolchevique tomou sob seu controle.

Uma resolução foi emitida sobre a "necessidade de intensificar o controle do Partido sobre a imprensa feminina". Os bolcheviques eliminaram as revistas dedicadas às donas de casa. O objetivo da nova imprensa era "recrutar mulheres operárias e camponesas para a luta pelo comunismo e pela construção soviética".

Para os bolcheviques, era importante que as mulheres se tornassem membros igualitários da sociedade e parte da força de trabalho.

A maioria das revistas era publicada sob a supervisão da esposa de Lênin, Nadejda Krúpskaia, que presidia o comitê de educação política do Ministério da Educação e era responsável por todo o trabalho de agitação e propaganda.

As revistas publicavam artigos de proeminentes mulheres revolucionárias e feministas como Inessa Armand e Aleksandra Kollontai, e da irmã de Lênin, Anna Uliánova-Elizárova, assim como de políticos, entre eles, o primeiro Comissário do Povo para a Educação, Anatóli Lunatchárski, e o secretário pessoal de Lênin e membro do conselho editorial do jornal Pravda, Vladímir Bontch-Bruiévitch.

Eis, a seguir, algumas das revistas femininas da época:

"Kommunistka" (Mulher Comunista)

Esta era uma revista política e o órgão de imprensa do Jenotdel (Departamento da Mulher) do Partido Bolchevique. Ela tinha uma tiragem relativamente pequena, entre 20.000 e 30.000 cópias de cada edição entre 1920 e 1930, até o Jenotdel ser abolido por Stálin.

A missão desta revista era a educação política das mulheres militantes do Partido. Ela descrevia como as mulheres podiam realizar o trabalho de propaganda sozinhas, ou como se tornar líderes e treinar novos quadros partidários.

A historiadora do jornalismo Elena Kolomitseva lista exemplos de algumas colunas da revista: "Questões de organização", "Questões da propaganda", "Questões da educação comunista"

Algumas manchetes típicas eram: "Fortalecer o crescimento do Partido Leninista", "Adotar uma abordagem de classe no trabalho", "Preparar quadros de ateus" e "Ser mais decisivo nas promoções a cargos de liderança".

A "Kommunistka" também elaborou um projeto geral para a imprensa feminina, definiu sua missão (a educação comunista das mulheres) e identificou quais públicos precisavam de publicações direcionadas - mulheres camponesas, mulheres trabalhadoras e as mulheres “partaktiv” (ativistas do partido).

Além disso, a "Kommunistka" dava conselhos sobre como administrar essas revistas e convocava correspondentes entre trabalhadoras e camponesas para escrever artigos para essas publicações.

Também optou-se por criar revistas regionais. Como resultado, surgiram revistas como a "Krásnaia sibiriátchka" (A Mulher Vermelha Siberiana), "Trujenitsi Severnogo Kavkaza" (Trabalhadoras do Norte do Cáucaso) e outras.

"Rabótnitsa" (A Trabalhadora)

Vladimir Lênin iniciou a publicação da primeira revista proletária para mulheres, a "Rabótnitsa", já em 1914, com o objetivo de "defender os interesses do movimento operário feminino".

Ela tinha sido fechada pela polícia tsarista anteriormente, mas sua publicação foi retomada após a Revolução. Na revista, lia-se sobre a importância de "cumprir as ordens de (Vladímir) Ilitch (Lênin)" e sobre a educação comunista. Mas os principais temas estavam ligados a questões trabalhistas.

Na revista, lia-se também sobre as heroínas da produção e sobre as profissões que as mulheres podiam exercer (por exemplo, uma edição da revista aconselhava as leitoras a consideraram a profissão de montadoras de máquinas, que não exigia tanta força física). Também havia conselhos sobre roupas de trabalho confortáveis, os malefícios do salto alto e outros assuntos.

Um dos temas mais importantes da revista era a revolução no cotidiano das mulheres - as mulheres precisavam se libertar da "servidão" masculina e familiar e se tornarem construtoras da sociedade comunista e de uma "grande e nova vida".

"O crescimento intelectual é impedido por cuidados mesquinhos, panelas e frigideiras, gamelas, baldes de lixo e outras coisas detestáveis. Se deixassem tudo isso de lado, as mulheres rapidamente progrediriam e se sentiriam completamente livres e felizes", escreveu Nadejda Krúpskaia na "Rabótnitsa", em 1925.

Em 1917 a revista tinha uma tiragem de cerca de 30.000 exemplares, que aumentava continuamente: em 1941, era de 425.000 exemplares, chegando a 23 milhões, em 1990.

"Krestianka" (A Camponesa)

A revista "Krestianka" foi publicada de 1922 a 2015, e suas tiragens chegaram a milhões - em 1989, cada edição saía em 21 milhões de cópias. A missão da revista era "o ativismo entre as camponesas, a promoção das ideias comunistas e a instilação nas mentes das camponesas de conhecimentos essenciais para sua vida cotidiana e trabalho".

Na revista lia-se sobre como a família devia ser administrada, como realizar o trabalho agrícola e como criar os filhos. Além disso, descrevia-se como viviam as camponesas de outros lugares e como facilitar a vida dos trabalhadores.

As camponesas também se informavam por ela sobre como era importante aumentar a produção de grãos para o pão e o que era necessário para conseguir isso.

A "Krestianka" também publicava histórias de ficção sobre mulheres de autoria dos melhores autores soviéticos, de Maksim Górki a Aleksandr Tvardóvski, especialmente para a revista. Havia também uma "Página Humorística" que, de forma poética, zombava dos velhos costumes e dos infratores da nova ordem.

"Batratchka" (Lavradora)

A revista "Batrachka", publicada após a morte de Lênin, de 1925 a 1929, era semelhante, em alguns aspectos, à "Krestianka". Ela era distribuída entre trabalhadoras agrícolas e florestais. As assinaturas da revista aumentavam todo ano, e sua tiragem saltou de 10.000 para 40.000.

A revista teve vida curta, em parte, porque a própria ideia do "batrak" (e da “batrachka”) - um trabalhador contratado - só existiu nos primeiros anos da URSS e no período da Nova Política Econômica (NEP).

A "Batrachka" continha artigos que tratavam do trabalho feminino e do papel da mulher na sociedade. Ela promovia a ideia de que as mulheres deviam servir principalmente aos interesses do proletariado e do comunismo, e não da família.

A revista também trazia artigos com conselhos sobre cuidados com os filhos, questões básicas de saúde e prevenção de doenças sexualmente transmissíveis. A publicação era voltada para mulheres rurais de baixa escolaridade, por isso explicava, por exemplo, o que era sífilis e os males do “samogon” (bebida alcoólica caseira).

 

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