Príncipe Leopoldo da Baviera assinando o Tratado de Paz de Brest-Litovsk, em 3 de março de 1918
Gamma-Keystone/Getty ImagesEm 3 de março de 1918, na cidade de Brest, no sudoeste da atual Bielorrússia, foi concluído um acordo de paz entre a Rússia Soviética e as Potências Centrais: Império Alemão, Império Austro-Húngaro, Reino da Bulgária e Império Otomano. O governo bolchevique pagou um preço enorme para sair da Primeira Guerra Mundial, o país perdeu quase um milhão de quilômetros quadrados com uma população de mais de 56 milhões de pessoas e um potencial industrial colossal. O que obrigou o governo bolchevique a aceitar tais condições?
Infantaria russa durante a Primeira Guerra Mundial
Daily Mirror/Mirrorpix/Getty ImagesO desejo de Lênin e seus partidários de retirar a Rússia da Primeira Guerra Mundial o mais rápido possível permitiu atrair muitos cidadãos russos e reunir apoio entre a população. A sociedade estava cansada de anos de massacre e as Forças Armadas estavam muito mal preparadas; após a queda da monarquia, não havia ordem no exército.
Em novembro de 1917, os bolcheviques derrubaram o Governo Provisório, que defendia a continuação das hostilidades, e tomaram o poder no país. Com isso, logo enviaram aos aliados ocidentais a proposta de concluir “paz sem anexações e indenizações” com o inimigo. Porém, os aliados não reconheciam o governo soviético como legítimo e ignoraram a iniciativa.
A proposta de iniciar as negociações de paz foi então enviada diretamente aos alemães, que, por sua vez, a trataram com atenção: a guerra em duas frentes havia esgotado suas forças. Apesar de, na época, terem conseguido ocupar parte dos territórios russos (terras polonesas e lituanas, bem como as regiões ocidentais da moderna Letônia e Bielorrússia), a vitória sobre a Rússia não parecia estar no horizonte.
Negociações em Brest-Litovsk
Domínio públicoDepois de acordarem um cessar-fogo, as partes enviaram suas delegações à cidade de Brest-Litovsk (atual Brest), onde, em 22 de dezembro, começaram as negociações de paz. O chefe de gabinete da Frente Oriental da Alemanha, general Max Hoffmann, escreveu: “Pensei muito se seria melhor para o governo alemão o comando supremo rejeitar as negociações com os bolcheviques. Ao dar aos bolcheviques a oportunidade de parar a guerra e, assim, satisfazer a sede de paz do povo russo, nós os ajudamos a manter o poder”.
No entanto, naquele momento, a liderança política e militar do Império Alemão estava satisfeita com as condições da paz.
Formalmente, os alemães concordaram em discutir “um mundo sem anexações e indenizações”. No entanto, ao exigirem o reconhecimento da independência dos regimes fantoches que haviam sido criados nos territórios ocupados buscavam, na verdade, o reconhecimento da transferência dessas terras sob o domínio de Berlim.
Os bolcheviques, por outro lado, esperavam que não houvesse tropas de nenhum dos lados nesses países e que os povos locais tivessem o direito à autodeterminação. Assim, os russos rejeitaram essa proposta, e as negociações se tornaram mais longas e complicadas.
Assinatura do tratado de paz entre a Ucrânia e as Potências Centrais em Brest-Litovsk
Domínio públicoAo longo do processo, Lênin permaneceu um defensor consistente de concessões aos alemães: “Uma guerra revolucionária precisa de um exército, e não temos um exército [...] Sem dúvida, a paz que somos obrigados a concluir agora é uma paz obscena, mas, se estourar uma guerra, nosso governo será varrido e a paz será concluída por outro governo”.
A situação ficou mais complexa em 9 de fevereiro, quando as Potências Centrais assinaram um tratado de paz em Brest com a República Popular da Ucrânia – um centro de poder alternativo na Ucrânia aos bolcheviques, que entrou em conflito armado com a Rússia Soviética. Em troca de reconhecimento diplomático e assistência militar, os ucranianos prometeram fornecer alimentos e matérias-primas aos alemães e austríacos.
No dia seguinte, o lado alemão deu um ultimato à Rússia para aceitar imediatamente suas exigências. Em resposta, o Comissário do Povo (Ministro) das Relações Exteriores, Lev Trótski, que tinha aderido às negociações, apresentou a fórmula “nem paz, nem guerra”. “Paramos a guerra, desmobilizamos o exército, mas não assinamos a paz”, sugeriu.
Primeira página do tratado de paz de Brest-Litovsk
Domínio públicoEm pouco tempo, Lênin cancelou a decisão de desmobilizar o exército. Os bolcheviques começaram a prolongar as negociações, esperando uma revolução na Alemanha e convocando abertamente os trabalhadores alemães à revolta. Tudo isso acabou, porém, com uma ofensiva inesperada do Império Alemão contra a Rússia Soviética.
Em 18 de fevereiro, como parte da Operação Faustschlag, também conhecida como Guerra dos Onze Dias, as tropas alemãs e austro-húngaras lançaram uma ofensiva em larga escala no Báltico e no Mar Negro. O Exército russo praticamente não resistiu.
“É a guerra mais engraçada que já vi”, escreveu o general Hoffmann. “Um pequeno grupo de soldados de infantaria com uma metralhadora e um canhão no carro da frente segue de uma estação para outra, captura outro grupo de bolcheviques e segue em frente”.
Tropas alemãs em Kiev, março de 1918
Domínio públicoEm 21 de fevereiro, foi tomada a cidade de Minsk; em 2 de março, Kiev. O inimigo tomou controle sobre todo o território das modernas Ucrânia, Letônia, Estônia e Bielorrússia. O exército das Potências Centrais chegou a apenas 170 quilômetros de Petrogrado (atual São Petersburgo), capital da Rússia Soviética.
No contexto da crise, as opiniões da liderança bolchevique sobre as ações foram se dividindo. No final, venceu o ponto de vista de Lênin, que defendia a aceitação imediata das reivindicações do inimigo para salvar o regime político.
As partes sentaram-se novamente à mesa de negociações. As condições dos alemães se tornaram mais severas. De acordo com o tratado de paz assinado em 3 de março de 1918 em Brest, a Rússia perdeu todos os países do Báltico, a Polônia, parte da Bielorrússia, teve que retirar suas tropas do território da Finlândia e da Ucrânia e reconhecer a independência da Ucrânia. Parte do território do Cáucaso foi transferida para o Império Otomano.
Tratado de Brest-Litovsk
Domínio públicoAlém disso, a Rússia deveria desmobilizar completamente seu exército e marinha, pagar uma indenização, conceder aos alemães direitos comerciais mais favoráveis até 1925, permitir a exportação isenta de impostos de minério e outras matérias-primas à Alemanha e dar um fim à agitação e à propaganda contra as Potências Centrais.
O último Imperador alemão, Guilherme 2º, chamou o Tratado de Brest de “um dos maiores triunfos da história mundial, cujo significado será totalmente apreciado apenas por nossos netos”. Já na Rússia, o tratado virou o principal catalisador para a Guerra Civil.
“Mesmo os marinheiros bolcheviques, os assassinos de oficiais de ontem, não suportaram essa traição”, escreveu o engenheiro Nikolai Wrangel. “Eles começaram a gritar sobre a necessidade de defender a Crimeia dos alemães, correram para a cidade de Sevastopol em busca de oficiais, pedindo-lhes que assumissem o comando dos navios novamente. Nos navios, em vez da bandeira vermelha, a bandeira de Santo André voltou a ser hasteada.
Chocados com a perspectiva de transferir dezenas de divisões alemãs libertadas para a Frente Ocidental, os britânicos, franceses e norte-americanos organizaram uma intervenção em grande escala na Rússia para devolver o país ao caminho da guerra e impedir que o inimigo alcançasse a carga militar acumulada nos portos.
Cartão postal alemão: "O que vamos comer hoje? Presunto de urso russo"
Domínio públicoOs bolcheviques, por sua vez, consideravam o Tratado de Brest-Litovski uma medida temporária. Em 13 de novembro de 1918, no primeiro dia da revolução na Alemanha, o tratado foi anulado por decisão do Comitê Executivo Central de Toda a Rússia.
Logo, as tropas alemãs começaram a se retirar dos territórios ocupados do antigo Império Russo. O Exército Vermelho imediatamente correu atrás, tentando recuperar o controle sobre os territórios recentemente perdidos.
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