Como Aliados ajudaram Rússia durante Primeira Guerra Mundial

Nikolai Pashin/Sputnik
Campanha foi terrível para a Rússia, que dificilmente poderia competir com potencial industrial de inimigos. País contou, porém, com apoio do Reino Unido, França e Estados Unidos.

"Não há comida suficiente. As pessoas estão morrendo de fome. Muitos soldados não têm botas. Eles envolvem seus pés em bandeiras... Há grandes perdas entre a infantaria e os oficiais. Existem regimentos onde restam apenas alguns soldados. Particularmente preocupante é o estado dos fornecimentos de artilharia. Recebi a ordem de um comandante de não gastar mais de 3 a 5 projéteis de artilharia por canhão. Nossa artilharia não ajuda a infantaria, que sofre com centenas de projéteis do inimigo. Foram enviados 14 mil soldados e eles não têm rifles", escreveu um dos comandantes militares russos em seu diário, no final de 1914, cinco meses após o início da Primeira Guerra Mundial.

Na primavera de 1915, ficou claro que a guerra era um desastre para a Rússia. Os alemães e austríacos lançaram uma grande ofensiva, colocando o exército russo em fuga.

As tropas russas perderam muitos soldados nos territórios a oeste. O general Alekséiev, futuro chefe do Estado Maior da Rússia, apontou cinco principais razões para o desastre, dentre as quais a primeira foi a falta de artilharia: "Este é o déficit mais importante e preocupante, que tem consequências fatais".

Além disso, faltava artilharia pesada, bem como rifles e munições.

Sem canhões

A Rússia estava terrivelmente despreparada para a guerra. Além da baixa industrialização, o país enfrentava sérios problemas econômicos e não conseguia tornar as indústrias militares mais ativas.

A Rússia recorreu a Grã-Bretanha, França e EUA para receber armas de fogo, rifles, canhões e munições.

A artilharia pesada da Rússia estava na pior situação possível. O país começou a fabricar canhões apenas em 1916, no terceiro ano da guerra. No entanto, o país não produzia projéteis de 8, 9, 10 e 11 polegadas, como os que eram usados na maioria das armas de artilharia.

Assim, a Rússia começou a importar essas armas, mas nunca recebeu o volume necessário.

No início de 1917, a Rússia tinha 5 vezes menos armas de artilharia de campo e 9 vezes menos armas pesadas do que os Aliados. Por exemplo havia dois canhões na frente russa por quilômetro e 12 na frente francesa.

Sem projéteis

Havia também uma terrível escassez de munições de artilharia.

"Lembro-me da batalha de Przemyśl, em meados de maio de 1915. Onze dias de combates violentos... Onze dias do terrível ruído da artilharia pesada alemã que destruía trincheiras junto com os soldados. Quase não respondemos ao fogo, não tínhamos nada. Os regimentos esgotados responderam aos ataques com baionetas ou atirando à queima-roupa. O sangue corria... Aumentou o número de túmulos, pois dois regimentos foram quase completamente destruídos pelo fogo da artilharia alemã", escreveu o general do exército russo Anton Deníkin.

A Rússia aumentou drasticamente a própria produção de projéteis de artilharia, mas não conseguia produzir o volume necessário. Os Aliados forneciam até 75% das munições para o país.

Limitação da demanda

Receber ajuda externa também não era fácil. Quando uma missão diplomática russa chegou à Grã-Bretanha no outono de 1915 para informar Londres sobre as necessidades do exército russo, o primeiro-ministro britânico, Lloyd George, disse: "Nossas próprias necessidades [em armas] são maiores que as de nossos aliados".

Os Aliados começaram começaram a estender as mãos aos russos apenas no final de 1915. Em 1917, a Rússia adquiriu quase 4 milhões de fuzis dos Estados Unidos, pagando em ouro.

Dentre muitas empresas, apenas a Winchester cumpriu o acordo, fornecendo 300 fuzis à Rússia, enquanto as outras empresas entregaram cerca de 10% do que havia sido pago.

O ex-ministro da Defesa, Mikhaíl Beliaev, revelou que as empresas norte-americanas aceitaram as encomendas com "uma facilidade criminosa", por que simplesmente não havia capacidade de produção para fornecer a quantidade de armas prometida.

Também houve reclamações sobre encomendas da Grã-Bretanha: os produtos eram de baixa qualidade e muito caros.

Em fevereiro de 1917, a Rússia enviou novos pedidos aos Aliados para a importação de mais armas, mas os países ocidentais aceitaram entregar apenas um terço do que os russos solicitaram.

Assim, a ajuda dos Aliados foi extremamente importante para a Rússia, mas foi insuficiente, e levou a Rússia a sair da guerra em março de 1918.

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