Os costumes mais esquisitos (e perigosos) da Rússia antiga

História
MARIA AZÁLINA
Por que uma pessoa escureceria os dentes de propósito ou fecharia negócios em saunas e esconderia as unhas cortadas?

Dentes pretos

Hoje, ter dentes pretos é motivo de repulsa, mas, na Rússia Antiga, era considerado um sinal de alto status social. Esse costume surgiu no século 17, durante o reinado de Aleixo da Rússia, o segundo tsar da dinastia Romanov, e perdurou até o início do século 19.

Nobres, comerciantes e camponeses ricos escureceram intencionalmente os dentes com carvão, enquanto as classes menos abastadas tentavam imitá-los. A moda esteve em voga juntamente com a das sobrancelhas negras, rostos pálidos e bochechas coradas.

“Seus rostos eram significativamente estragados pelo uso de tinta branca, além dos dentes completamente pretos, imitando os comerciantes da cidade, que naquela época tinham essa moda”, lê-se no conto “Antiguidade Pochekhônskaia”, de Saltikov-Schedrin, publicado em 1888.

Uma das hipóteses do motivo dos russos fazerem isso era que eles queriam esconder a diferença entre os dentes saudáveis e os não saudáveis. Não era possível clarear os dentes naquela época, o branco à base de mercúrio usado então destruía o esmalte dos dentes e, com o tempo, levava ao seu escurecimento. Então era mais fácil deixar todos os dentes pretos iguais.

Outra hipótese era a de que os dentes pretos podiam ser um indicador de riqueza. Os dentes ficavam naturalmente pretos em pessoas que podiam comprar açúcar, um produto extremamente caro, e cujos dentes eram estragados pelas cáries. Os outros escureciam os dentes de propósito com carvão para parecer que também podiam tomar chá com açúcar.

Fazer negócios em saunas

A “bânia”, ou seja, tradicional sauna russa, era um lugar sagrado: além da limpeza do corpo, esse lugar era usado para batizar crianças, arranjar casamentos, tratar doenças e, antes do Cristianismo, realizar ritos pagãos. Além disso, todos os negócios comerciais importantes também eram fechados nas bânias. Cada comerciante devia ter uma bânia própria perto da sua fazenda.

Os comerciantes estabeleciam relações comerciais em outros lugares: em festas de chá, viagens, igrejas... Mas a última etapa do acordo sempre era discutida em uma bânia. O parceiro era convidado para bânia na fase final do fechamento do acordo e, assim, em um ambiente informal, eram discutidos os detalhes. O costume de chamar um parceiro de negócios para a bânia existe na Rússia até hoje, embora já não seja tão comum.

Preservar e esconder cabelos e unhas

Ninguém sabe de onde veio o costume de esconder cabelos e unhas cortados e não existem registros dessa tradição em nem fontes religiosas ortodoxas, nem nas tradições pagãs.

No entanto, na Rússia antiga, muitas superstições estavam associadas a cabelos e unhas. As pessoas acreditavam que feiticeiros podiam amaldiçoar as pessoas com a ajuda de cabelos ou unhas, “portadores” da energia humana que conectam os homens com o outro mundo.

Assim, cabelos e unhas nunca eram simplesmente jogados fora, mas escondidos em um local mais isolado, queimados ou enterrados.

Enviar comida para quem não pode ir a uma visita

Na Rússia havia uma etiqueta que regulava estritamente a relação entre os anfitriões e os convidados, a ordem em que os pratos eram servidos e os arranjos de assentos para os convidados.

Por exemplo, convidados eminentes e ricos eram recebidos na varanda, enquanto convidados com um status social mais baixo eram convidados diretamente para a mesa.

A sequência dos pratos servidos também era muito diferente: primeiro serviam-se os “pirogui”, ou seja, pasteis com recheios diversos, depois pratos de carne ou peixe, depois pratos de caça silvestre, e, no final, sopas. Em seguida, vinha uma pausa, após a qual os convidados eram convidados a "lanchar": beber chá com doces, frutas secas e mel.

O hóspede não podia recusar a comida, por que isso era recebido como um insulto. Mesmo quem era convidado, mas não atendia o convite, também não tinha como escapar da comida: de acordo com a etiqueta russa, a comida era enviada à casa do convidado faltante.

“Assar crianças”

Este rito antigo era feito com crianças doentes ou fracas: a criança era amarrada a uma pá e levada ao forno quente três vezes. “Assar uma criança” estava associado à “limpeza pelo fogo” e acreditava-se que o seu calor expulsaria qualquer doença do corpo. Ao mesmo tempo, a criança era frequentemente coberta com massa.

Esse rito é descrito pelo etnógrafo Vassíli Magnítski: “É assim que, por exemplo, eles tratavam a magreza das crianças. Uma criança doente era colocada em uma pá coberta com uma camada de massa e depois a própria criança era coberta com massa por cima, deixando apenas um buraco para a boca. Depois disso, o feiticeiro colocava [e tirava] três vezes [rapidamente] a criança no forno".

Os estudos de outro etnógrafo, Piotr Denissov, mostram que, depois do rito, a criança era “tirada da pá e deixada em frente à entrada para casa, onde os cachorros comiam a massa que a cobria”. Durante todo o procedimento eram proferidos feitiços.

Em alguns lugares, uma criança saudável também podia ser “assada”, para ficar ainda mais forte. Mas, via de regra, isso era feito com crianças que estavam à beira da morte. Às vezes, as crianças morriam neste processo durante o rito, mas acreditava-se que elas não tinham chance de sobreviver, mesmo sem o rito.

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