Morre Borís Komissárov, renomado brasilianista russo

Borís Komissárov (1939-2021).

Borís Komissárov (1939-2021).

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Pesquisador foi responsável por recuperar e divulgar documentos da primeira expedição russa ao Brasil, comandada pelo Barão de Langsdorff entre 1824 e 1829 e ilustrada por Hercule Florence.

No último 4 de setembro, morreu em São Pestersburgo um dos mais renomados brasilianistas russos contemporâneos, Borís Nikoláievitch Komissárov (1939-2021; clique aqui para ler entrevista dele ao Russia Beyond em 2012).

Komissárov foi autor de 18 livros e mais de 600 artigos, em russo e em português, principalmente sobre a expedição Langsdorff, organizada e chefiada pelo barão Georg Heinrich von Langsdorff, que percorreu, entre os anos de 1824 e 1829, mais de dezesseis mil quilômetros pelo interior do Brasil.

Com registros dos aspectos mais variados da natureza e da sociedade brasileira, inclusive com ilustrações de Hercule Florence, a expedição Langsdorff constituiu o mais completo inventário do Brasil.

Viajando do Rio de Janeiro ao Pará, Langsdorff coordenou uma equipe de artistas, botânicos, naturalistas e cientistas que cruzaram o Brasil por oito anos e produziram mais de duas mil páginas de anotações manuscritas, diários, desenhos, aquarelas e registros cartográficos.

Nascido na Leningrado soviética, Komissárov recebeu o título de doutor em história no ano de 1970, com a tese “Materiais da Expedição Langsdorff ao Brasil entre 1821-1829 como Fontes Históricas”, e, em 1980, defendeu a dissertação “Fontes russas sobre a história do Brasil no primeiro terço do século 19 na Academia de Ciências”.

Ele trabalhou por um ano e meio como pesquisador no Arquivo Estatal Russo de História com documentos sobre a história das relações entre Rússia e América Latina.

A partir de 1964, ele começou a trabalhar no departamento de história moderna e contemporânea da Universidade Estatal de Leningrado (rebatizada posteriormente como Universidade Estatal de São Petersburgo), onde ficou 40 anos, passando de pós-graduando a professor. De 1993 a 2003, chefiou o departamento.

Komissárov dedicou muitos anos de sua vida a pesquisar os arquivos de Langsdorff e os materiais por ele coletados durante a expedição ao Brasil, entre 1821 e 1829, assim como documentos de arquivo de outros diplomatas, viajantes e marinheiros russos no Brasil no início do século 19.

Ele também foi diretor do Centro Luso-brasileiro da Universidade de São Petersburgo, membro-correspondente do Instituto Brasileiro de História e Geografia do Rio de Janeiro e chefe do departamento de história do conhecimento geográfico da Sociedade Geográfica Russa.

Em 2002, Komissárov foi condecorado com a Ordem de Rio Branco, em reconhecimento aos seus mais de quarenta anos como brasilianista, com foco especial nas expedições conduzidas pelo Barão de Langsdorff.

Os documentos de arquivo sobre Langsdorff reunidos por Komissárov  sobre o Brasil do século 19 e sobre a origem e o desenvolvimento das relações entre o Brasil e a Rússia são de riqueza inestimável e estavam esquecidos nos porões do museu do Jardim Botânico de São Petersburgo.

Komissárov foi um dos grandes responsáveis por sua redescoberta e divulgação para o mundo, por meio de seus livros e artigos científicos, publicados em cinco línguas.

Suas obras mais conhecidas publicadas em português são: “A expedição científica de G. I. Langsdorff ao Brasil, 1821-1829: catálogo completo do material existente nos arquivos da União Soviética” (da qual foi co-autor); “Da Sibéria à Amazônia: a vida de Langsdorff”; “Expedição Langsdorff: acervo e fontes históricas” (co-autor); e “Os diários de Langsdorff” (I, II, III; co-autor). 

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