"Rebocadores de barcaça no Volga", pintura de Iliá Répin (1844-1930).
Iliá Répin/Museu Estatal RussoGravura retratando soldados-serventes uniformizados da Guarda Imperial (esq.) e do Exército Imperial (dir.), 1825-1855.
Domínio públicoNo exército imperial russo, um “soldado-servente” (também um ordenança ou armador designado a um oficial comissionado como “servo pessoal”) era chamado de “dênschik” (palavra proveniente derivado de день, "dia"; isso significava que ele era um servo para o dia-a-dia). Os “dênschik” eram contratados com salário oficial pago pelo exército.
Normalmente, eles eram contratados em fileiras de soldados. Eles eram responsáveis pelos seguintes itens: o uniforme do oficial, as armas e pertences pessoais dele, o cavalo dele etc. O “dênschik” cumpria as ordens do oficial, protegia-o e, não menos importante, fazia-lhe companhia durante as adversidades da guerra.
Oficiais de alta patente, coronéis e generais podiam até mesmo ter nobres como “dênschik”, e esses “dênschik” podiam ser promovidos a cabos ou sargentos. No entanto, a posição passou a ser proibida no Exército Imperial Russo a partir de 1881.
Um “raiók” e seu operador em gravura do século 19.
Domínio públicoNão existe nenhuma palavra em inglês para essa peculiar ocupação russa. O “raiók” (раёк, “pequeno paraíso”) era um “peep show” (caixa de perspectiva ou de entretenimento) russo: uma grande caixa de madeira com lentes de aumento na frente e um rolo de papel preso a cilindros na parte de trás. O “raióchnik” (operador do “raiók”) girava a manivela, fazendo as imagens “se moverem”, e contava piadas em rima (prosa rimada, conversas etc.) sobre o que os espectadores viam. Dependendo do público, o “raióchnik” podia instalar divers cilindros com diferentes imagens diferentes.
Os primeiros “raiók” geralmente recontavam histórias relacionadas à Bíblia, por exemplo, "A Expulsão de Adão e Eva do Jardim do Éden" – e daí, aliás, que vem o nome “pequeno paraíso”. Mais tarde, diversos outros temas surgiram. Havia conteúdo infantil, fotos de batalhas e países estrangeiros para os adultos e até obscenas.
O “raiók” era feito para as pessoas simples e era popular em feiras russas e durante grandes feriados. As engenhocas, assim como os “raióchnik”, tornaram-se obsoletos no final do século 19, junto com a crescente alfabetização da população e o desenvolvimento da fotografia.
"Rebocadores de barcaça no Volga", pintura de Iliá Répin (1844-1930).
Iliá Répin/Museu Estatal RussoOs “burlák” eram homens que transportavam barcaças e outras embarcações nos rios do Império Russo entre os séculos 17 e 20. Esses trabalhadores se uniam em “artels” - grupos de trabalho com 10 a 100 homens) que tinham certa hierarquia, regras e técnicas. Eles rebocavam embarcações usando cordas de cânhamo amarradas ao corpo da embarcação. A corda era ligada a cintos de couro que eram presos em torno do peito e dos ombros dos “burlák”.
Mas por que não usavam cavalos para isso? Porque, naquela época, muito poucas margens de rios tinham estradas que permitissem o transporte eficaz de cavalos. Ao mesmo tempo, uma barcaça podia ser puxada por até 300 “burlák”!
Os rios eram o principal meio de transporte de carga na Rússia Imperial. Assim que as ferrovias e as embarcações a vapor surgiram, em meados do século 19, o ofício dos “burlák” caiu em desuso e acabou desaparecendo.
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Transportador de água.
Domínio públicoNas aldeias russas, a água potável estava disponível para todos nos poços. Nas cidades, porém, a situação era mais complicada. Os primeiros canos de água surgiram em Moscou apenas no final do século 18, enquanto a água de torneira tornou-se amplamente disponível em residências urbanas apenas no início do século 20.
Até então, as pessoas que viviam nas cidades russas tinham que comprar água de "carregadores de água", que dirigiam carruagens com dois cavalos levando tanques de água: os verdes tinham água do rio (para lavar etc.) e os brancos, água potável. Além disso, os transportadores de água a pé levavam barris menores aos lugares onde as carruagens não chegavam, transportando a água em trenós, no inverno, ou carruagens puxadas à mão, no verão.
“Ofênia” em pintura de Nikolai Kochelev.
Nikolai Kochelev/Galeria Tretiakov“Ofênia” era o nome dado a vendedores ambulantes na Rússia antes do surgimento das ferrovias. Mas eles não eram como os ambulantes contemporâneos e não andavam pelas vilas e cidades vendendo mantimentos, doces e outros itens pequenos. O “ofênia” vendia principalmente livros e ícones, e a categoria se concentrava em várias aldeias das regiões de Vladímir e Níjni Nôvgorod.
Os “ofênia” viajavam a pé para todas as regiões do país, inclusive para lugares muito remotos. Muitos dos ícones que eles vendiam eram de “Velhos Crentes”, proibidos pelo Estado. Os “ofênia” eram, assim, espécies de mecenas, a seu modo, contatando pintores de ícones clandestinos que produziam essas pinturas religiosas. Depois de prontas, eles as transportavam secretamente para as aldeias remotas dos “Velhos Crentes”, onde podiam vendê-las por preços muito altos — já que era, oficialmente, um contrabando que faziam e crime.
Em parte, os “ofênia” eram membros do submundo do crime. Eles criaram um “língua ofênia”, uma versão distorcida do russo, em gíria, usada para se comunicar na presença de pessoas "não ofênia", a fim de disfarçar o assunto.
De maneira inacreditavelmente, essa gíria “ofênia” ainda é usada entre alguns russos, já que se tornou a base para ao jargão do mundo do crime russo contemporâneo, entrelaçado com a gíria russa cotidiana. Muitos russos contemporâneos sequer sabem que estão usando jargão “ofênia” o tempo todo!
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