Vacinação de trabalhadores contra a gripe em Leningrado em 1978.
V. Baranóvski/SputnikO sistema de saúde soviético foi considerado um dos melhores ou até mesmo o melhor do mundo. De acordo com estatísticas do governo, no período do pós-guerra, a URSS foi altamente eficaz no combate a doenças virais e o sistema de saúde nunca enfrentou nada que pudesse ser denominado como uma crise epidemiológica.
A propaganda do governo em prol da higiene pessoal e as campanhas a favor da vacinação contribuíam muito para a saúde dos habitantes locais. No entanto, a julgar pelos hábitos de vida do povo soviético, é muito difícil ter certeza de que o número de casos infecciosos era realmente baixo.
Principais desafios
Segundo ano de campanha de vacinação contra a gripe em fábrica soviética, em 1977.
V. Baranóvski/SputnikO primeiro desafio do sistema de saúde soviético foi a chamada gripe russa, que foi registrada pela primeira vez em 1977 e se estendeu até 1979. Apesar de esta nova cepa ter sido identificada pela primeira vez na China, o vírus recebeu o nome de "russo" ou "vermelho", porque a URSS foi o primeiro país a informar oficialmente sobre a doença.
A cepa da gripe russa era 99% semelhante ao H1N1, que também causou a pandemia de gripe espanhola em 1918 e a pandemia de gripe suína em 2009. A maioria dos pacientes eram jovens com menos de 25 anos de idade, que nunca haviam sido expostos ao H1N1, que tinha circulado no mundo nas décadas de 1940-1950. No entanto, devido à falta de informações e estatísticas oficiais é impossível avaliar o número de pessoas infectadas e mortas devido à gripe russa na URSS.
Envio de doente infectado com cólera a hospital de Astrakhan em 1970.
M. Natchinkin/SputnikA falta de dados sobre o surto também incentivou a divulgação de inúmeros rumores sobre a doença. Segundo diversos cientistas, o número de mortos pela doença na União Soviética ultrapassou 1 milhão de pessoas. Os defensores de teorias da conspiração afirmavam que a gripe russa tinha origem artificial e visava exterminar a juventude.
No entanto, comparando a taxa de mortalidade da gripe russa registrada em outros países do mundo, que não ultrapassa 5 ou 6 em cada 100 mil pessoas, é possível afirmar que o número de mortos na URSS foi baixo.
Combate à cólera em Astrakhan.
Mai Natchínkin/SputnikNo verão de 1970, iniciou-se um surto de cólera no sul da URSS. A cidade de Astrakhan se tornou o centro da doença virulenta. Até o final de agosto daquele ano, o governo da URSS vacinou quase 200.000 pessoas na região e colocou em quarentena milhares de residentes locais e turistas. Graças a medidas severas e oportunas, a propagação da doença cessou no início de setembro.
O que hápor trás do sucesso da URSS em deter epidemias?
Segundo especialistas, medidas oportunas foram a chave para o sucesso. Além disso, o governo soviético não tomou meias medidas e recorreu a métodos rigorosos para conter os surtos. Por exemplo, no caso da cólera, 3 mil soldados foram enviados a Astrakhan para manter a ordem e monitorar o cumprimento da quarentena. Tropas também foram enviadas para a Crimeia e Odessa.
No pôster de propaganda, lê-se: "Cidadão, vacine-se contra a cólera".
Sverdlov/SputnikOutro fator crucial foi a campanha de vacinação em massa. Após a Segunda Guerra Mundial, todos os nascidos na URSS passaram a ser vacinados obrigatoriamente contra tuberculose, difteria e poliomielite. Mais tarde, as vacinas contra coqueluche, tétano, sarampo e parotidite foram adicionadas à lista obrigatória. Durante surtos de vírus, o governo sempre iniciou campanhas de vacinação adicionais, interrompendo a proliferação de doenças já nos estágios iniciais.
A vacinação também era acompanhada por propaganda do governo quanto à higiene pessoal.
Slogans como: “Condicione-se ao frio para ficar forte e saudável" ou “Viva as toalhas e esponjas! Viva a espuma com sabão!” entraram no repertório de todos os cidadãos soviéticos.
Animação soviética para promovera vacinação
A animação soviética foi um componente integral da campanha. É quase impossível encontrar uma pessoa nascida na URSS que nunca tenha assistido ao desenho animado “Moidodir”, por exemplo.
O filme é baseado nos versos do renomado poeta infanto-juvenil Kornêi Tchukôvski e tem como objetivo encorajar boas práticas de higiene.
Outro exemplo é o desenho animado soviético "Sobre o hipopótamo que tinha medo de vacinas". A animação conta a história de um hipopótamo que tinha medo de injeção e fugiu do hospital. No entanto, ele logo adoeceu e foi levado de volta em uma maca para o hospital, onde corou de vergonha diante de um médico. A ideia do filme é fazer com que as crianças saibam que não há nada de assustador na vacinação.
O que havia de errado com os hábitos dos soviéticos?
Porém, no que diz respeito à higiene e saneamento, nem tudo era tão perfeito. A começar com as máquinas de água gaseificada em aeroportos, estações de trem, hotéis, cinemas, shoppings e, muitas vezes, na rua. Essas máquinas de venda automática tinham uma característica impensável nos dias atuais: ficavam disponíveis nelas apenas um ou dois copos de vidro que eram compartilhados pela multidão.
As máquinas funcionavam de maio a setembro, ou seja, no período mais quente do ano na Rússia. No inverno, elas eram trancadas em caixas especiais de metal. No verão, as filas eram enormes.
Os copos podiam facilmente transportar vírus e, por exemplo, no final dos anos 1970, a gripe russa poderia ter sido facilmente transmitida por meio deles. Não há dados oficiais sobre isso, uma vez que os estudos sobre a ligação entre essas máquinas e a disseminação de infecções nunca foram publicados ou discutidos publicamente.
De acordo com Elena Utenkova, professora do Departamento de Doenças Infecciosas da Universidade Estadual de Kirov, “há o risco de infecções respiratórias e, se o indivíduo também tiver herpes inflamada, sua saliva pode transmitir o vírus por meio de utensílios de cozinha que não tenham sido bem higienizados”. O que dizer então sobre utensílios que não foram higienizados nem bem, nem mal, nem de maneira alguma?
Outro problema chocante na atualidade eram as seringas reutilizáveis, parte integrante dos kits médicos de muitos cidadãos soviéticos. O método mais comum de desinfecção das seringas era fervê-las. No entanto, a fervura não garante que ela tenha sido esterilizada, já que muitos vírus podem sobreviver a temperaturas de ebulição, como por exemplo a hepatite B ou C.
Apesar da falta de dados sobre os casos de infecção, o sistema soviético de controle de epidemias mostrou-se eficiente no controle e propagação de doenças infecciosas. Mas ainda há muitas questões a serem solucionadas sobre a influência dos costumes da época sobre a saúde da população.
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