‘General Inverno’: como o frio intenso aterrorizou os inimigos da Rússia

O cruel e implacável inverno russo ajudou frequentemente as tropas russas a brecar e esmagar o inimigo que avançava. No entanto, houve casos em que o caprichoso “General Inverno” se voltou também contra seu aliado.

Este importante aliado russo tem vários nomes: General Gelo, General Inverno ou General Neve. O rigoroso inverno russo foi uma arma poderosa com a qual a Rússia contou contra seus inimigos, geralmente acostumados com os invernos europeus mais amenos.

Primeira página do jornal

A primeira vez que o nome ‘General Inverno’ apareceu foi em 1812 em uma charge britânica dedicada à catastrófica campanha russa de Napoleão. Na época, os piadistas britânicos escreveram: “General Inverno barbeando o pequeno Boney”. Desde então, o nome pegou.

General Inverno Barbeando Pequeno Boney

Os generais de Napoleão escreveram em suas memórias que o inverno russo foi a principal razão pela qual o Grande Armée foi derrotado. Mas este também foi um truque para salvar as aparências. As tropas francesas foram esmagadas pela coragem dos soldados russos, nos confrontos com guerrilheiros e pelas estratégias do comando russo, que exauriram o inimigo.

Cruzando o rio Berezina River em 17 (29) de nomvembro de 1812

Ainda assim, não dá para negar que o “General Inverno” desferiu um golpe mortal contra os franceses. A forte geada teve grande efeito sobre o mal preparado Grande Armée em sua retirada da Rússia. Somente algumas dezenas de milhares dos 600 mil soldados franceses voltaram para casa, e o inverno desempenhou um papel importante nisso.

Retirada francesa da Rússia em 1812

A verdade é que o “General Inverno” se apresentou um século antes de o nome ser cunhado. Em 1708, durante a Grande Guerra do Norte entre a Suécia e a Rússia, o exército de Carlos 12º enfrentou o inverno na Ucrânia - o mais frio que a Europa havia registrado em 500 anos.

Para os guerreiros escandinavos, o frio intenso não era nenhuma novidade, mas este, definitivamente, não era páreo para os invernos que já haviam enfrentado. Quase metade dos soldados e cavalos suecos morreram congelados. Isso ajudou significativamente o tsar Pedro, o Grande na batalha decisiva de Poltava, quando os suecos foram esmagados.

Batalha de Poltava

O que poucos sabem é que nem sempre o “General Inverno” esteve do lado russo. Durante a Guerra de Inverno, por exemplo, as tropas soviéticas enfrentaram um dos invernos mais cruéis do século 20. Divisões inteiras isoladas e cercadas pelos finlandeses morreram congeladas em meio a neve profunda. A União Soviética venceu a guerra, mas pagou um alto preço, com mais de 126 mil mortos (contra 25 mil mortos entre os finlandeses).

Outro caso em que o inverno russo dificilmente poderia ser chamado de aliado da URSS aconteceu durante a Batalha de Moscou. Os generais da Wehrmacht alegaram que o frio intenso de -30ºC e até -50ºC teria interrompido sua ofensiva. Os dados meteorológicos, entretanto, mostraram que novembro de 1941 foi bastante moderado e propício a um avanço. O frio congelou o solo e, assim, ajudou as divisões blindadas alemãs a realizar manobras.

“O frio congelou os pântanos, e os tanques e unidades motorizadas alemãs - as principais forças de ataque do inimigo - ficaram mais livres para se locomover. Sentimos isso imediatamente. O comando inimigo começou a usar tanques fora das estradas”, relembrou o marechal Konstantin Rokossovski em suas memórias.

Mais tarde, quando as tropas soviéticas partiram para a contraofensiva, em dezembro e janeiro, um clima extremamente frio se fez presente. Os soldados soviéticos que avançavam acabaram congelando nos campos e afundando na neve profunda, enquanto os alemães se agarravam a suas posições nos assentamentos tomados nos entornos de Moscou.

De um modo geral, no entanto, o inverno russo ajudou os soviéticos na defesa da pátria. As tropas alemãs não tinham uniformes de inverno quentes o suficiente, e seu equipamento militar muitas vezes ficava preso no frio cortante. O “General Inverno” literalmente destruiu o 6º Exército na Batalha de Stalingrado, o que representou uma reviravolta no conflito.

Após a capitulação das tropas fascistas alemãs, em 31 de janeiro e 2 de fevereiro, 91 mil sobreviventes tornaram-se prisioneiros de guerra

Além do mais, o General Inverno contou com uma poderosa aliada - a General Lama. Para o inimigo que avançava, o outono russo não era muito melhor do que o inverno russo. As tropas foram obrigadas a marchar com lama até os joelhos causadas ​​por chuvas persistentes. Considerando as condições precárias das estradas naquela época, esses avanços pelo interior do território russo se transformaram em verdadeiros pesadelos.

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