A Rússia tinha vice-tsares?

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Quem substituía o tsar russo durante campanhas militares, férias ou doenças?

Este artigo começou depois de recebermos o e-mail de um leitor que perguntava: “Quem ficava no lugar do tsar russo se ele ficasse doente ou partisse para uma batalha? Por exemplo, quem ocupou o lugar de Pedro durante a Grande Embaixada [missão diplomática e educativa russa empreendida a vários países da Europa Ocidental entre março de 1697 e setembro de 1698]?” Se você também tiver dúvidas sobre a Rússia e sua história, cultura ou cotidiano envie-nos um e-mail para: info@rbth.com

Resposta curta: ninguém podia substituir efetivamente o tsar russo na tomada de decisões. No entanto, foi Pedro, o Grande, quem tentou conceder a uma instituição governamental o direito de tomar as decisões que normalmente eram feitas pelo tsar. Mas não deu muito certo.

Quem assumia a responsabilidade quando o tsar russo adoecia?

Tsar Nicolau 2° se recuperando do tifo.

Em outubro de 1900, o imperador Nicolau II teve febre tifoide e, por algum tempo, ficou tão fraco que temiam sua morta. Enquanto ele esteve doente, ninguém tomou decisões em seu lugar - o único assunto discutido na alta hierarquia era quem iria sucedê-lo.

O historiador Ígor Zimin escreve que se formaram dois grupos: um apoiava o grão-duque Mikhaíl Alexandrovitch, irmão de Nicolau, como novo imperador. Outro grupo queria esperar até que a imperatriz Alexandra Feodorovna, então grávida, desse à luz, na esperança de que um menino pudesse ser declarado herdeiro. Mas Nicolau acabou se recuperando.

Tsar Nicolau 2° (4° da dir. para esq.), general Alekseiev, general Aleksei Evert, general Kuropatkin, general Aleksei Brusilov (3° da dir. para esq.), e general Ivanov.

Nenhuma pessoa ou instituição estatal podia tomar decisões pelo tsar quando ele estava doente porque os tsares eram ungidos ao tsarismo: eles participavam de uma cerimônia religiosa especial durante a coroação. A cerimônia contribuía para a ideia de que o tsar era agraciado com uma autoridade e responsabilidade especiais, e ele era o único que podia efetivamente tomar as decisões relativas ao bem-estar e até mesmo às vidas de seus súditos, ou seja, o povo russo.

Quem assumia o controle quando o tsar estava em batalha?

Entre 1547 e 1552, Ivan, o Terrível, comandou o exército de Moscou em diversas campanhas contra o Canato de Kazan. Obviamente, o "governo" do Tsarado de Moscou, a Duma Boiar, permaneceu em Moscou, e o velho boiar Ivan Morôzov-Poplevin ficou responsável pela Duma. Mas a sede - o escritório executivo do tsar e de seus principais conselheiros - mudou-se com ele. Essa prática continuou século 17 adentro e durante os anos do Império Russo.

Sessão do Senado de Pedro 1°.

Por que Pedro, o Grande, decidiu criar o Senado Governante?

Em 20 de novembro de 1710, o Império Otomano declarou guerra à Rússia. Pedro decidiu liderar pessoalmente a campanha contra os otomanos e, obviamente, temia por sua vida. Isso é confirmado por Juel Just, o enviado dinamarquês à Rússia, que escreveu que, não muito antes de partir, Pedro apresentou sua então noiva, Catarina, à irmã e às sobrinhas e disse, segundo o relato do diplomata, que “elas deviam considerá-la sua esposa legítima e tsarina russa. [...] O tsar deixou claro que, se ele morresse antes de poder se casar, após sua morte ela ainda devia ser considerada sua esposa legítima.” Portanto, o tsar realmente temia por sua vida e decidiu criar uma instituição para substituí-lo caso morresse.

Senadores do Império Russo, 1914.

Durante as campanhas militares anteriores a 1711 (por exemplo, a Guerra Russo-Sueca, que continuava a se desenrolar na época), Pedro confiou os assuntos do Estado a seus vários conselheiros. Mas, pouco antes de sua partida para lutar contra os otomanos, em 5 de março de 1711, ele formou oficialmente o Senado Governante.

O primeiro Senado era composto por nove pessoas. “Todas elas devem obedecer às suas ordens, como se fossem minhas ordens, sob risco de punição severa ou morte”, escreveu Pedro.

Ele também deixou diretrizes sobre o que o Senado Governante deveria fazer imediatamente: “Ter um julgamento que não seja hipócrita, limitar as despesas do Estado, coletar o máximo de dinheiro possível, convocar jovens nobres [para servir ao Estado], aumentar o comércio com chineses e persas” etc. Obviamente, essas não eram responsabilidades do Senado Governante, apenas as necessidades urgentes do momento.

Pedro retornou da campanha na segunda metade de 1711, mas o Senado Governante não foi dissolvido: a instituição foi incumbida de diferentes responsabilidades, como a distribuição de cargos e a supervisão do sistema judicial. Mas o Senado governante nunca substituiu totalmente o tsar russo.

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