- A boina oitavada de Lênin
Lênin permaneceu fiel ao seu credo “menos é mais” quando se tratava de acessórios pessoais, e sua inconfundível boina oitavada se tornou um sinônimo de vitória bolchevique. O fundador do Estado soviético, que sempre vestia um terno impecável de três peças e falava inglês fluentemente, nunca se separava de sua boina.
Ele provavelmente se apaixonou pelo acessório durante o exílio voluntário em Londres (onde trabalhou em 17 edições de seu famoso jornal Iskra, em 1902), ou estava seguindo a tendência do escritor Maksim Górki, que viveu em Capri em uma época em que os mafiosos das cidades no sul da Itália usavam boinas estilosas no dia a dia. Por outro lado, a boina de Lênin também o colocava em pé de igualdade com o proletariado – soldados, camponeses e trabalhadores que invadiram barricadas enquanto tentavam tomar o poder à força em 1917.
O carismático líder da Revolução Bolchevique, conhecido por seu dom de magnetizar grandes multidões, soube conquistar corações e mentes das pessoas com soluções rápidas e promessas sólidas. Com apenas 1,65 cm de altura, Lênin compensava a pequena estatura com força intelectual, uma gravata de bolinhas e sua famigerada boina. Esses dois pequenos acessórios eram excêntricos o suficiente para revelar o senso de estilo pessoal de Lênin.
Nos passos do líder da Revolução, membros da elite política da época também começaram a usar boinas. Apenas o ministro dos Negócios Estrangeiros, Viatcheslav Molotov, ignorou a tendência e continuou usando seus chapéus clássicos favoritos.
- A túnica de Stálin
A ascensão implacável de Ióssif Stálin ao poder promoveu uma mudança dramática em todos os setores da sociedade, e a boina de Lênin caiu em esquecimento. Na cabeça, Stálin usava um quepe militar com viseira que combinava com sua personalidade geral de líder totalitário.
Stálin permaneceu leal ao próprio estilo por décadas e trocava de quepes feitos à mão como se fossem meias.
Diferentemente de Lênin, que era um homem de gosto refinado, Stálin, que vinha de uma família humilde, recusava-se a usar gravatas ou paletós trespassados. Túnicas militares sem adornos o acompanharam ao longo da vida. Aleksandr Kerenski, líder do Governo Provisório em 1917, foi o primeiro na Rússia ser visto usando esse tipo de túnica. A vestimenta ganhou destaque na Primeira Guerra Mundial, quando foi usada por oficiais britânicos e franceses.
Nos anos 1920, Stálin vestia uma túnica cinza estilo militar com colarinho alto e quatro bolsos. Na década seguinte, o colarinho aberto tomou o centro do palco, pois o líder soviético achava o colarinho cada vez mais desconfortável.
Seu traje característico, conhecido como “stálinka”, combinava a modéstia (enganosamente) serena do comandante supremo com suas ambições militares. Stálin, que foi responsável pela morte de milhões durante seu governo, usava calças enfiadas dentro de botas até o joelho.
Mesmo depois que Stálin se declarou Marechal da União Soviética, em 1943, ele continuou a usar seu uniforme característico. Exalando força e confiança, ele gozava de um status praticamente divino na URSS e era modelo para todos, desde meninos em idade escolar até funcionários do governo. Vários de seus apoiadores, como Lazar Kaganovitch (que participou ativamente dos expurgos) ao sucessor Gueórgui Malenkov, usavam “stálinka”.
A roupa favorita de Stálin também foi adotada por várias gerações de comunistas chineses, de Mao Tsé-Tung (fundador da República Popular da China) e Zhou Enlai (figura-chave no Partido Comunista) a Deng Xiaoping (ex-vice-premiê chinês). O fundador da Coreia do Norte, Kim II Sung, usaria “stálinka” por décadas, trocando as túnicas por ternos apenas no final de sua vida. Seu filho, Kim Jong II, acabou promovendo uma alteração discreta na roupa ao adicionar um zíper, mas o neto de Kim II Sung voltaria para a versão raiz da “stálinka”.
- O chapéu de Khruschov
Nikita Khruschov lançou uma bomba política ao fazer um discurso (secreto) no 20º Congresso do Partido Comunista, onde criticou o culto à personalidade de Stálin. O processo de desestalinização da URSS também teve um enorme impacto na arte, cultura e moda.
Foi uma verdadeira batalha de gosto. O chamado “degelo de Khruschov” começou. Em primeiro lugar, a túnica favorita de Stálin foi abandonada em favor de ternos mal ajustados. Khruschov, que foi o líder da URSS entre 1953 e 1964, optava por casacos de ombros largos e ternos de tons claros que usava em qualquer época do ano. O filho de um mineiro de carvão nunca exibiu uma figura atlética, por isso, todos os seus ternos, camisas e sapatos tinham que ser feitos sob medida. Ele queria que suas jaquetas fossem confortáveis e descontraídas.
Além de manter o visual pseudocasual, Khruschov costumava aparecer em público com camisas bordadas tradicionais da Ucrânia, promovendo um estilo folclórico que parecia mais consistente com sua origem camponesa.
Khruschov, que passou de pastor para o topo da matilha, também era fã de chapéus e estimulou a moda de chapéus masculinos na URSS. O líder soviético usava chapéus simples de feltro e palha durante o outono e o verão. Graciosas e com abas largas, os chapéus combinavam naturalmente com sua figura grandiosa. Khruschov acabou se tornando um ditador de moda para pessoas comuns e imitadores dos apparatchiks (membros) do partido.
- Os ternos sob medida de Brejnev
Leonid Brejnev, que governou a URSS de 1964 a 1982, gostava de manter as coisas simples. Sempre estava vestido com elegância, em ternos escuros sob medida, desenhados por Aleksandr Igmand, o chefe de moda masculina no então principal centro de moda da URSS, a Casa de Moda de Moscou. Igmand foi alfaiate pessoal de Brejnev por quase uma década.
No início dos anos 1970, os ternos de dois botões com um decote profundo estavam na moda. Brejnev gostava tanto de seus ternos quanto de sua política conservadora. Um dia, porém, o líder soviético decidiu encomendar um tipo diferente de terno, e Igmand foi convidado a visitar Brejnev em seu apartamento. “Brejnev muitas vezes caminhava na minha frente em seu ‘negligé’, em cuecas boxer de excelente qualidade que eram impossíveis de comprar na União Soviética”, lembrou o estilista em um livro publicado em 2008. Brejnev foi então a seu armário e pegou uma jaqueta e calças feitas de tecido pesado, como jeans.
Roupas de fazendeiros norte-americano, pensou Igmand. Brejnev disse que havia sido um presente de Anatóli Dobrinin, o embaixador soviético nos Estados Unidos. “Você vê”, disse Brejnev, “Dobrinin me enviou um terno, mas é muito pequeno. Posso mandar fazer exatamente o mesmo sob medida?”. O problema era que não havia fechos de pressão na URSS naquela época. E Brejnev era o maior fã das minúsculas peças de metal arredondadas.
Às vezes, quando era impossível encontrar algo na URSS, os ministros locais encomendavam “bens raros ou deficitários” da França ou do Reino Unido. No caso dos fechos de pressão, eles acabaram sendo criados na URSS especialmente para o terno de Brejnev – que ficou emocionado ao receber seu terno feito sob medida com fechos de pressão. Inicialmente, Brejnev chegou a dizer a Igmand que duvidava ser possível copiar o design com precisão.
- Chapéu de cossaco de Gorbatchov
Ao contrário de sua esposa fashionista, Raissa, que revolucionou o vestuário feminino soviético, Mikhail Gorbatchov não se importava com moda. No início dos anos 1980, os homens na URSS eram relativamente bem vestidos. Gorbatchov, o mentor das políticas da perestroika e glasnost, preferia ternos feitos sob medida de fabricação nacional.
Este homem, cujas políticas viraram a sociedade e a economia soviética de cabeça para baixo, conservava a modéstia pessoal. Preferia manter-se em volume baixo e cultivava a falta de pretensão nas pessoas ao seu redor. Ele nunca quis se destacar da multidão. Talvez, por esse motivo, se recusasse a usar smoking.
Mesmo assim, Gorbatchov acertava em cheio com seu terno escuro e sem firulas de fabricação soviética, chapéu e sobretudo – e era certamente mais carismático e sofisticado do que os líderes soviéticos anteriores.
Na década de 1980, os chapéus de pele de bisão com abas de orelha estavam super na moda na URSS. Gorbatchov, no entanto, era uma figura distinta com seu chapéu cossaco de pele de foca. Fato é que ele tinha certo apreço por chapéus de pele e costumava ser visto usando-os nos invernos extremamente frios e nevados. Com o tempo, a moda pegou, e vários membros do Politburo soviético também começaram a usar chapéus semelhantes.