1st June 1923: Children demonstrating in Moscow.
Getty ImagesAntes mesmo da Revolução já existia a ideia de reformar a língua russa, mas a Academia Russa de Ciências demorou muito para dar o primeiro passo nesse sentido. Após a Revolução de 1917, o novo governo foi muito mais rápido: sua intenção era se livrar de tudo que era “velho”: o regime, a religião, a economia e as regras da escrita.
Em 1918, foi emitida uma resolução sobre novas regras de ortografia e todas as publicações impressas foram obrigadas a segui-las. A grafia pré-revolucionária foi destruída.
Para que reformar a língua?
A ortografia pré-revolucionária era bastante difícil, e os bolcheviques precisavam da reforma da língua, entre outras coisas, para facilitar o aprendizado. Afinal, uma de suas principais tarefas era a eliminação do analfabetismo.
Alguns anos antes da Revolução, só 40% da população russa sabia ler e escrever. Mas a nova classe dominante proclamada por Vladímir Lênin – ou seja, os proletários e camponeses – devia trabalhar ativamente em todas as esferas. Assim, o novo governo soviético ordenou que toda a população com idade entre 8 e 50 anos aprendesse a ler e escrever.
Um censo realizado em 1926 mostrou que, em poucos anos, subiu para 50% a porção alfabetizada da população em áreas rurais.
O alfabeto foi limado de algumas letras
Antes da Revolução, o alfabeto russo tinha 35 letras e não havia um conjunto fixo de regras de ortografia. O que havia era apenas uma escrita civil aprovada por Pedro, o Grande, que a estabeleceu buscando limitar o poder da Igreja. Para tanto, ele inventou um modo mais simples de usar as letras em decretos governamentais, em documentos seculares e nos primeiros jornais.
Os bolcheviques tiraram algumas letras do alfabeto e substituíram várias outras por formas simplificadas. Assim, logo após a Revolução, o alfabeto russo passou a ter 32 letras. Mais tarde, a letra "ё" foi aprovada como um caractere separado, então o número de letras aumentou para 33. E assim continuou desde então.
Lênin (esq.) e Anatóli Lunatcharski (dir.).
SputnikNo decreto sobre a nova ortografia liam-se ordens de:
Mas a “limpeza” do alfabeto permitiu economizar até 4% de texto impresso. O linguista Lev Uspenski chegou a calcular que o “ъ” consumia 8,5 milhões de páginas desnecessárias ao ano.
No entanto, a letra "ъ" foi mantida no meio das palavras como um sinal de separação (o "sinal duro") (съемка, разъяснить, адъютант). E a letra ainda é usada dessa maneira hoje - você pode aprender mais sobre ela aqui.
Curiosamente, o decreto não fazia menção a outra letra do alfabeto antigo, o "ѵ" (“ijitsa”). Ela raramente era usada: era difundida nos textos religiosos, mas gradualmente se transformou na letra "и".
O que mais mudou?
Alfabetização de adultos em Moscou, 1932.
Getty ImagesAlém do alfabeto, várias regras de ortografia também foram alteradas.
Por exemplo, prefixos que terminam em "з" (из, воз, раз, роз, низ, без, чрез, через) passaram a ser escritos de forma diferente, dependendo de qual letra os seguia: antes das vogais e consoantes sonoras, eles terminavam com "з", mas antes das consoantes surdas, o "з" foi substituído por "с" (escreve-se, portanto, a partir de então: разбить, разораться, MAS расступиться)
Ao mesmo tempo, o prefixo "c" permaneceu inalterado, independentemente da letra que o seguia.
Também foram alteradas regras complexas para terminações em algumas declinações:
- No genitivo de adjetivos, particípios e pronomes, passou a ser necessário declinar como “ого” e “его”, ao invés dos anteriores “аго”, “яго” (добраго - доброго, ранняго - раннего).
- Nos casos nominativo e acusativo em adjetivos femininos e neutros, particípios e pronomes, as desinências “ыя” e “ія” foram substituídas por “ые”, “ие” (добрыя - добрые, синія - синие).
- O pronome plural “они” costumava ter uma forma feminina (“онѣ”) e uma forma masculina (“они”). A partir de então, apenas uma forma, o "они", permaneceu. O mesmo aconteceu ao numeral “один” no feminino (Одне - одни, однехъ - одних e assim por diante).
- O pronome possessivo “ея” no genitivo singular transformou-se em “ее” (“её”).
Como a sociedade recebeu as mudanças?
Alfabetização em Tcheboksari, nos anos 1930.
Domínio públicoOs emigrados partidários do exército branco que deixaram o país a depois da Revolução, recusaram-se a aceitar a nova ortografia: eles chegaram a acusar os bolcheviques de mutilar a língua russa. Até o período entre 1940 e 1950, as publicações de emigrantes russos no exterior eram impressas usando a grafia antiga. Os emigrantes de anos posteriores, porém, passaram a aplicar as novas regras e já haviam se acostumado a elas.
Outras pessoas que já eram alfabetizadas à época das reformas também tiveram dificuldades. Em correspondências pessoais, muitos continuaram a usar a grafia antiga, enquanto outros tiveram que aprender a nova com urgência. Foram principalmente os professores que tiveram que se apressar a descobrir a nova ortografia.
Alfabetização na aldeia de Chorkasi, em Tcheboksari, nos anos 1930.
Domínio públicoMas uma das maiores dificuldades esteve na necessidade de "traduzir" para o novo estilo toda a riqueza da literatura clássica russa dos séculos 18 e19. Devido às novas regras das terminações das palavras, por exemplo, algumas rimas de poesias foram afetadas.
Mas o colossal esforço também trouxe vantagens, mesmo a esses autores, já que as obras de muitos grandes escritores, que estavam espalhadas por várias revistas e coleções literárias, acabaram reunidas, “traduzidas” para a nova ortografia e publicadas em séries na época soviética.
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