Em países como a Bielorrússia, onde o russo é reconhecido oficialmente, a língua é usada em quase todos os lugares
Ígor Eriomov/RIA NôvostiMais de duas décadas se passaram desde o colapso da União Soviética, mas a língua russa ainda é falada em muitas das ex-repúblicas soviéticas.
Mesmo nos países bálticos e na Ucrânia, onde as autoridades tomaram medidas para regulamentar o uso do russo, ainda há muitos falantes de russo e casos de funcionários do governo de Kiev que utilizam o russo – informalmente e formalmente.
Por exemplo, em abril, o prefeito de Riga foi multado pelo Centro Estatal de Línguas da Letônia por falar russo durante um encontro com alunos da escola. Este mês surgiu a debate público na Ucrânia sobre impressão de bilhetes do concurso musical europeu “Eurovision” em russo – a premiação deste ano ocorre em Kiev.
Mas, afinal, por que a língua russa continua em uso mesmo nos países que se esforçam para se tornarem mais europeus ou menos russos? Por que é que as normas que restringem o uso do russo nem sempre funcionam?
Patrimônio histórico
Após o fim da URSS, o número de pessoas de língua russa permaneceu significativo durante os anos 1990 e 2000 em diversas ex-repúblicas.
Embora os governos tenham pensado em rebaixar o status do russo, havia certa preocupação quanto ao risco de gerar descontentamento público.
Em países como a Bielorrússia ou o Cazaquistão, onde o russo é oficialmente reconhecido, a língua é usada em quase todos os lugares: nos negócios, no setor estatal, nos meios de comunicação e no ensino.
É também usado pela elite política e entre os jovens que pretendem se matricular em universidades russas. E mesmo para muitos que não são etnicamente russos, a língua russa continua a ser uma língua nativa, em que suas famílias se comunicam.
“O russo é um estado de espírito e uma linguagem de comunicação interétnica”, diz a uzbeque Galia Ibraguimova, de etnia tártara.
“Precisamos disso para a comunicação. Sempre haverá alguém que o compreenda na Geórgia ou em outra ex-república soviética”, concorda Ainur, do Cazaquistão.
Relações econômicas
A língua russa ainda ocupa uma posição de influência nos países da Ásia Central. Tanto é que o número de pessoas que falam e entendem russo básico cresceu mesmo quando comparado com os dias soviéticos.
Esse fenômeno se deve, em parte, devido à migração de trabalhadores de países como Uzbequistão, Tadjiquistão e Quirguistão, acredita Rafael Sattarov, que, embora tenha raízes étnicas azeri, judaica e uzbeque, considera o russo como sua língua nativa.
De fato, a procura por trabalho na Rússia torna-se um estímulo para jovens adultos da Ásia Central aprenderem russo. Segundo a Agência Federal para a Comunidade de Estados Independentes (Rossotrudnitchestvo), o número de pessoas que frequentam cursos de russo vem crescendo no Azerbaijão, no Uzbequistão e no Tadjiquistão.
“Mesmo na Letônia, onde não goza do status de língua oficial, o russo pode ser informalmente chamado de ‘língua de negócios’”, diz Boris Egorov, russo de origem letã. Existem mais de 6.000 empresas com capital russo no país, e a indústria local do turismo ainda é predominantemente dependente de visitantes da Rússia.
A situação é semelhante na Estônia, que possui uma grande população de falantes de russo (cerca de 30%, segundo censo de 2011). Além disso, em 2016, os turistas russos ocuparam o segundo lugar em visitas ao país, perdendo apenas para os finlandeses.
O russo é falado também na Moldova, sobretudo nas regiões da Transnístria e de Gagaúzia, que mantiveram uma relação forte com Rússia desde 1991. De acordo com o censo de 2014, mais de 263 mil falantes nativos de russo vivem no país – quase 9,5% da população local.
O russo é ensinado em escolas moldavas como segunda língua e bem é provável que permaneça em uso no país. Em janeiro passado, após a visita do presidente Ígor Dodon a Moscou, a Moldávia decidiu restaurar as relações econômicas com a Rússia.
Ucrânia e Geórgia
Apesar das tensões políticas com a Rússia e das tentativas de diminuir a importância da língua russa que se seguiram nesses países, a Ucrânia e a Geórgia ainda têm uma quantidade significativa de falantes de russo.
De acordo com o censo de 2001, havia cerca de 8,3 milhões de pessoas na Ucrânia que consideravam o russo como sua língua nativa. Na Geórgia, porém, esse número não era tão alto – quase 46 mil pessoas, segundo dados de 2014.
A Ucrânia foi desde sempre um dos principais países de língua russa. Em 2008, de acordo com a consultoria americana Gallup, 83% dos ucranianos escolhiam o russo como primeiro língua para comunicação. Agora, embora não oficialmente, pelo menos 70% dos locais conhecem o russo, e a língua continua popular na internet.
Em 2014, por exemplo, cerca de 90% das buscas no Google na Ucrânia foram feitos em russo. A língua russa também é bastante popular nos veículos de comunicação ucranianos, incluindo TV. Além disso, apenas 35% dos jornais e 25% das revistas no país foram publicados em língua ucraniana em 2016, de acordo com a BBC.
Recentemente, a Ucrânia tomou medidas para reduzir o uso do russo pela população. Além de menos escolas e jardins de infância para os falantes nativos da língua russa, os idiomas europeus estão se tornando mais populares no país.
Para o advogado ucraniano Zlata Simonenko, a tendência é que a próxima geração fale menos russo. “As crianças estão aprendendo ucraniano desde o jardim de infância e assim seguem pelo ensino médio”, explica.
No caso da Geórgia, depois de uma promoção em larga escala do inglês, a nova administração está optando por um renascimento do russo no país.
O presidente georgiano Giorgi Margvelashvili declarou recentemente que o esquecimento do russo seria “errado”, pois é uma ferramenta eficaz para comunicar o posicionamento da Geórgia a seus vizinhos.
“Muitos na Geórgia têm amigos e parentes próximos na Rússia e, por isso, fazem seus filhos aprenderem russo também”, diz Tamta Utiashvili, de Tbilisi. “Além disso, o russo é necessário para quem busca emprego no país ou envolvidos com turismo.”
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