Nem todo mundo sabe, mas a chamada “Revolução Russa” foi composta, na realidade, por pelo menos três revoluções: a de 1905, a de fevereiro de 1917 e a de outubro de 1917. Além disso, quando se iniciou a Revolução Russa de Fevereiro de 1917, que definitivamente depôs o tsar, o grande líder do proletariado Vladímir Lênin não estava na Rússia, mas na Suíça. O garoto-propaganda da Revolução Russa só retornaria à terra natal no início de abril.
Na época, o Soviete de Deputados Operários e Soldados de Petrogrado compartilhava o poder com o Governo Provisório. E, como Lênin era líder de um dos principais partidos socialistas, os membros do Soviete de Petrogrado organizaram uma festa de boas-vindas para o seu regresso.
Assim, quando ele chegou à Estação da Finlândia, em Petrogrado, na noite de 3 de abril, foi saudado por Nikolai Chkheidze, chefe do Soviete de Petrogrado. Chkheidze propôs imediatamente que Lênin apoiasse seu plano de união com o Governo Provisório.
Mas Lênin ignorou completamente o pedido de Chkheidze, e passou a falar diretamente aos trabalhadores, soldados e marinheiros que estavam em frente à estação. O recém-chegado revolucionário chamava as pessoas de "vanguarda do proletariado revolucionário internacional".
Referindo-se à Primeira Guerra Mundial, Lênin proclamou ainda: "A guerra imperialista predatória é o início de uma guerra civil que se espalhará por toda a Europa". O público apoiou as declarações de Lênin e prosseguiu com ele para a praça, onde o revolucionário anunciou, de dentro de um carro blindado, a vitória iminente da revolução socialista mundial.
Rumo à revolução socialista
Lênin estava convencido de que tinha chegado o momento de terminar a “fase burguesa" da revolução. Ele estava insatisfeito com a situação política naquele momento e com o Governo Provisório, composto por aquilo que chamava de ministros capitalistas.
Lênin acreditava que o poder deveria ser passado ao proletariado e às classes mais pobres de camponeses. Além disso, ele insistia ser necessário rejeitar todas as formas de governo existentes. Ele reivindicava a necessidade não de uma república parlamentar, mas uma república de deputados soviéticos, provenientes dos trabalhadores agrícolas e dos camponeses de todo o país, algo que formulou no artigo que ficou conhecido como “Teses de Abril”.
A maioria dos líderes bolcheviques não compartilhavam dos pontos de vista de Lênin. Eles argumentavam que a "fase burguesa" da Revolução Russa ainda não podia ser considerada completa e apontavam para o fato de que o socialismo na Rússia ainda estava fora de alcance devido ao atraso do país, à enorme população de camponeses e à classe pequena classe proletária.
Ao longo de dezenas de discursos, Lênin respondeu a essas críticas destacando os perigos do dogmatismo e a necessidade de se considerar a vida real. Ele repetia esses argumentos em numerosas assembleias partidárias em Petrogrado e conseguiu convencer tanto os participantes, quanto os líderes bolcheviques a aceitarem seu ponto de vista.
Assim, os bolcheviques adotaram os slogans de Lênin: "Sem apoio ao Governo Provisório!" e "Todo o poder aos sovietes!".
Um golpe de Estado bem-sucedido
Após a publicação das "Teses de Abril", os mencheviques acusaram Lênin de tentar provocar uma guerra civil na Rússia. Lênin, o líder dos bolcheviques, respondeu que estava apenas clamando aos membros do partido que promovessem a transição do poder para os soviéticos e que não desejava conflitos armados.
Nos meses seguintes, ocorreram duas manifestações organizadas pelos bolcheviques em Petrogrado de trabalhadores e soldados contra o Governo Provisório.
A situação mudou drasticamente no outono, após a tentativa fracassada de golpe liderada pelo general de direita Lavr Kornílov. O apoio público à esquerda cresceu e os bolcheviques obtiveram a maioria no Soviete de Petrogrado. Em outubro, os bolcheviques derrubaram o Governo Provisório e tomaram o poder, tornando único e supremo órgão de governo o Segundo Congresso dos Sovietes de Toda a Rússia.
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