O trabalho de condutor de trens na Rússia sempre foi predominantemente masculino por ser considerado difícil, pesado e, muitas vezes, perigoso. Mas algumas mulheres conseguiram ao longo do tempo assumir a direção na cabine de controle e tocaram trens e locomotivas a todo vapor.
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Na União Soviética, várias ocupações eram consideradas fora das capacidades das mulheres por serem classificadas como perigosas para a saúde delas. O ofício de maquinista estava entre esses casos e foi removido da lista em 1938, ano em que a URSS reconheceu a primeira mulher maquinista do país. Seu nome era Elena Tchukhniuk, que naquele ano começou conduzindo uma locomotiva pesada e recebeu o título de ferroviária honorária em 1941, aos 26 anos de idade. Durante a guerra, ela guiou trens de transporte de munição, materiais militares e carvão para a linha de frente das batalhas em Stalingrado e Kursk.
Ogoniok № 20 maio de 1951
Uma outra jovem, Bacharat Mirbabaieva, foi a primeira maquinista mulher do Uzbequistão soviético, em 1939. Depois da guerra, ela continuou a conduzir uma locomotiva a diesel. Em 1951 ela chegou a ser capa da revista Ogoniok, além de ter sido a primeira mulher do Uzbequistão a saltar de paraquedas em queda livre.
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No metrô de Moscou, as mulheres começaram a conduzir os trens durante a Grande Guerra Patriótica, quando muitos dos homens estavam no front. Guiar o trem de metrô não era considerado mais fácil que conduzir uma locomotiva, já que os maquinistas devem passar o turno inteiro nos túneis, sujeitos aos ruídos e vibrações constantes.
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O primeiro trem exclusivo para mulheres surgiu no metrô de Moscou em 8 de março de 1942. Muitas mulheres seguiram trabalhando como maquinistas mesmo depois da guerra.
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Entre outras curiosidades, o “trem rosa” de 8 de março foi também o primeiro trem temático do metrô de Moscou e circulou na linha vermelha até 1975. Ano em que foi substituído por outra composição mais moderna. Hoje esse trem não é mais guiado necessariamente por mulheres.
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Em 1955, o metrô de Leningrado formou uma equipe totalmente feminina de maquinistas. Uma delas, Natália Donskaia, trabalhou no metrô por 32 anos e se aposentou em 1987. “Os horários de trabalho são intensos e há muitas situações estressantes. É comum a gente passar comemorações de fim de ano nos trens. É preciso ter uma boa saúde, reagir rápido e ter controle mental e emocional. Durante os turnos, os maquinistas não podem parar para um chá, um café ou para bater um papo. Ou seja, é preciso pensar muito bem antes de escolher a profissão. Além de tudo, é um trabalho que traz consigo uma enorme responsabilidade com a vida de todos os passageiros. Se há um incêndio ou se alguém cai nos trilhos, não haverá nenhum desconto por você ser uma mulher”, disse Natália Donskaia.
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Mesmo com tantos riscos envolvidos, havia muitas jovens empolgadas com a possibilidade de exercer essa profissão.
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Nos anos 1980, o trabalho de maquinista voltou a ser exclusivamente masculino, mas a direção do metrô de Moscou decidiu não afastar as funcionárias mulheres com experiência: elas continuaram trabalhando mesmo após o colapso da União Soviética.
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A última mulher a comandar os trens no metrô de Moscou foi Natália Korneienko. Ela sempre dizia que “há mais perigo e estresse nas estradas que debaixo da terra”. Por mais de 30 anos ela conduziu composições na linha vermelha e parou de trabalhar apenas em 2014.
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Hoje, na Rússia, as mulheres podem estudar e fazer o curso de formação de maquinistas, mas é muito difícil que elas encontrem trabalho na área. A única mulher que trabalha hoje como condutora é Iulia Iurova, como assistente de maquinista em um trem da Aeroexpress.
Em 2009, o Ministério do Trabalho da Rússia estabeleceu que, como a condução dos trens modernos é muito mais fácil do que era a das composições de antigamente, as mulheres também podem exercer a profissão de maquinista. Em 2021, o metrô de Moscou vai iniciar o processo de admissão de maquinistas mulheres, como foi noticiado neste artigo.
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