A turbulenta história por trás da icônica marca de vodca Stolichnaya

História
KSÊNIA ZUBATCHEVA
Foi na década de 1970  que a primeira vodca russa apareceu nas prateleiras americanas. E tudo graças à PepsiCo.

Quando se pensa em vodca russa, a Stolichnaya (ou Stoli) é uma das primeiras marcas a vir à mente, sendo muito popular na Rússia e no exterior há diversas décadas. Mas o que se sabe realmente sobre sua longa história?

Da URSS para os EUA

A Stolichnaya não é apenas uma das mais famosas, mas também uma das marcas de vodca mais antigas da Rússia. Existem várias versões de quando surgiu (datadas entre 1938 e 1953), mas a estatal russa Sojuzplodoimport garante que tudo começou em 1938, quando especialistas soviéticos inventaram a receita original dessa vodca premium feita de trigo e centeio. A Sojuzplodoimport (que é desde então o principal proprietário da marca) afirma que as primeiras garrafas de Stolichnaya foram produzidas em 1941, em Leningrado, com produção em massa iniciada em 1943. 

Mas o Armazém do Vinho do Estado de Moscou №1 (a Destilaria de Moscou Cristall) se opõe a tal versão, alegando que foi ela a responsável pela receita inventada em 1940 – graças ao destilador e engenheiro Victor Grigorievitch Svirida. Aliás, seu nome como o principal inventor da Stolichnaya aparece em muitas fontes.

Os preços da Stolichnaya eram bastante altos em comparação com outras garrafas de vodca na época – após a reforma financeira em 1961, chegou a custar 3 rublos e 12 copeques, ou cerca de R$ 9,05. Desse modo, Stolichnaya era considerada uma bebida premium, apenas para quem realmente podia pagar.

Ao longo dos anos, ultrapassou a Smirnoff em um teste cego em 1954 e recebeu prêmios internacionais, incluindo uma medalha de ouro em 1958 na Exposição Universal e Internacional de Bruxelas e outro ouro na Leipziger Messe em 1963.

Em 1972, a Stolichnaya se tornou a primeira vodca premium a ser importada para o mercado norte-americano. A PepsiCo conseguiu o monopólio da venda no outro lado do Atlântico, impulsionando de vez a entrada da Stolichnaya nos EUA, que era promovida sob o slogan “Somente vodca da Rússia é uma genuína vodca russa”.

Desde então, a “Stoli” ficou conhecida como um dos principais símbolos da Rússia e garantiu milhões de dólares em lucros para a União Soviética. Em 1990, a Stolichnaya já era exportada para 90 países.

Batalha pelos direitos

Com o colapso da União Soviética e o caos que se seguiu, a marca Stolichnaya deixou de existir. Em 1991, a URSS Gospatent, que era encarregada da propriedade intelectual, a deixou sem proteção, transformando a marca em um simples nome para um grupo de produtos que basicamente poderiam ser produzidos por qualquer um, com diferentes níveis de qualidade e rótulos.

Em meados dos anos 1990, as autoridades tentaram controlar a situação, a marca retornou à Sojuzplodoimport (sucessor legal da antiga entidade estatal) e tudo ficaria bem – se um de seus principais acionistas, Iúri Shefler, não tivesse outros planos.

Em 1997, Shefler criou uma empresa com quase o mesmo nome – Sojuzplodimport –,  adquiriu Stolichnaya com algumas outras marcas abaixo do preço de mercado, vendeu-as para sua outra entidade (Spirits International, na Holanda) e transformou a produção de Stolichnaya em uma empresa internacional privada, que mais tarde recebeu um novo nome – Grupo S.P.I.. 

Com o passar dos anos, a empresa de Shefler enfrentou acusações legais na Rússia e, em 2001, ele teve que fugir do país, mas continuou ganhando milhões com as vendas de Stoli e outros nomes anteriores de bebidas russas.

Nos últimos 20 anos, a Sojuzplodoimport e o bilionário exilado travaram um batalha pelos direitos sobre a Stolichnaya em tribunais estrangeiros, e em 2018, o tribunal holandês decidiu que os direitos à vodca pertencem à Sojuzplodoimport, e o Grupo S.P.I. deve reembolsar todos os lucros obtidos no mercado Benelux desde 1999.

Shefler recorreu da decisão, mas, em janeiro deste ano, o recurso foi negado. Um sinal positivo para a Rússia, mas nem perto do fim da disputa. Atualmente, o S.P.I. detém os direitos de várias marcas Stolichnaya em 13 países da União Europeia e está se preparando para defendê-los em um futuro próximo.

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