Lênin foi o primeiro líder soviético que identificou o cinema como “a mais importante das artes”. Mas, na prática, a indústria cinematográfica soviética foi desenvolvida por seu sucessor, Iôssif Stálin, que adorava cinema e costumava convidar a elite do partido comunista para exibições de filmes fechadas.
"Stálin assumiu o papel de um superprodutor", escreve o historiador da arte e da cultura, Solomôn Vôlkov, em seu livro “Moscou” (ainda não traduzido para o português; título original: “Moskvá”; publicado em inglês como “Modern Moscow”). O ditador nomeava e demitia diretores de cinema pessoalmente, supervisionava a criação de filmes considerados importantes, lia roteiros e assistia a todos os filmes.
Stálin tinha grandes esperanças para o cineasta Serguêi Eisenstein, um dos principais professores da primeira escola de cinema da URSS, cujo filme "Encouraçado Potiômkin" (também conhecido como “Encouraçado Potemkin”), filmado em 1925, foi escolhido como o melhor de todos os tempos na Feira Mundial de Bruxelas, em 1958.
A tarefa fundamental dos diretores soviéticos era produzir filmes sonoros, que, segundo Stálin, davam à indústria cinematográfica um poder ainda maior. Eisenstein e sua equipe, que incluía o cinegrafista Eduard Tisse e o roteirista Grigóri Aleksándrov, foram enviados para estudar o cinema sonoro nos Estados Unidos.
Conquistando Hollywood
Os diretores conseguiram fechar um contrato com a Paramount e prometeram fornecer um roteiro bom o suficiente para ser rodado. Mas nenhum dos textos oferecidos pareceu comercialmente viável para os norte-americanos.
Eisenstein então resolveu ficar nos Estados Unidos até rodar pelo menos um título. Para tanto, contatou o artista comunista mexicano Diego Rivera, em busca de criar um roteiro sobre a revolução mexicana.
Este trabalho foi, porém, adiado. Segundo Vôlkov, Stálin começou a suspeitar que Eisenstein não voltaria ao país e exigiu seu retorno imediato.
A vida ficou melhor
Quando Eisenstein voltou à pátria, Borís Chumiátsi, camarada de Stálin encarregado da indústria cinematográfica soviética, fez de tudo para que ele não voltasse a dirigir películas soviéticas.
Stálin queria que cineastas passassem a trabalhar em comédias, com músicas e canções louvando a vida do povo soviético e mostrando as realizações da indústria nacional. Assim, Chumiátski decidiu substituir Eisenstein por seu assistente, Grigóri Aleksandrov.
Em Hollywood, Aleksandrov havia visto muitos musicais e comédias e estudado uma grande variedade de técnicas e truques dos cineastas americanos.
A primeira comédia soviética com jazz
Segundo Vôlkov, o desejo de filmar comédias positivas estava ligado à candidatura presidencial de Franklin D. Roosevelt, em 1932. Segundo informações do serviço secreto soviético, a equipe de Roosevelt era composta por diversos empresários prontos a cooperar com a URSS.
"Comédias soviéticas com jazz, filmadas seguindo as regras de Hollywood, pareciam ser a melhor maneira de gerar simpatia e compreensão nos Estados Unidos”, explica Vôlkov.
Em 1934, a nova comédia musical jazz “Os Rapazes Felizes” chegou às telonas soviéticas, e explicava como vivia a classe trabalhadora na URSS. O filme também teve influência nos Estados Unidos, onde foi recebido calorosamente por Charlie Chaplin, que se encontrou com o diretor russo.
Na época, Chaplin disse: “Aleksandrov presenteou aos EUA uma nova Rússia. Antes deste filme, os norte-americanos conheciam apenas a Rússia de Dostoiévski. Agora, eles podem ver as grandes mudanças na psicologia pública. As pessoas estão rindo alto e alegremente. Esta é uma grande vitória. É mais persuasivo do que balas e discursos”.
Vale lembrar que as relações diplomáticas entre EUA e URSS foram estabelecidas em 1933, imediatamente após Roosevelt se tornar presidente. Efeitos do cinema?