A Maslenitsa (pronuncia-se “máslenitsa”) é uma celebração eslava antiga que ultrapassou a cultura pagã e foi preservada após a adoção do cristianismo na Rússia.
A Igreja Ortodoxa Russa incluiu a data entre suas celebrações chamando-a de Semana do Queijo ou Semana sem Carne, já que esta antecede o início da chamada Grande Quaresma, ou seja, a oitava semana antes da Páscoa Ortodoxa.
O nome, que tem origem na palavra "manteiga" ou "óleo" em russo ("maslo"), surgiu porque segundo a tradição ortodoxa, nessa semana de celebrações não se come carne, mas produtos lácteos sim. Alguns estudiosos, porém, argumentem que o título é uma versão mais antiga de “miasnoi post’”, que significa “jejum sem carne”.
Mas as estrelas desse feriado, que em 2024 ocorre de 11 a 17 de março, são sempre os blini (as tradicionais panquecas russas, que você aprende a fazer aqui).
Assim, a festa pode ser resumida como uma semana de comemoração, panquecas e brigas, que anuncia o fim do inverno, o início da Quaresma e a promessa de primavera.
Originalmente, a Maslenitsa esteve ligada ao equinócio de primavera, momento que marca o início da estação e se caracteriza pela passagem direta do sol pelo equador, fazendo com que noite e dia tenham a mesma duração.
Dos quatro pontos extremos do calendário (os solstícios e os equinócios), o equinócio de primavera era o mais venerado por sociedades antigas, já que anunciava o retorno do sol após longos e tenebrosos invernos.
Mito de Iarilo e Morana
No mito popular russo, os irmãos Iarilo e Morana (inspirados nos egípcios Ísis e Osíris), personagens diretamente ligados à Maslenitsa, são amantes que representam a vida e a morte, o fogo e o gelo, a primavera e o inverno.
O romance deles chega a um ponto febril durante o solstício de verão, para depois se tornar uma espiral de traições no outono, e separação e morte no inverno.
Possuída de raiva, Morana se transforma em uma bruxa terrível, espalhando morte e geadas. As lavouras se transformam em palha seca enquanto Iarilo se retira para um mundo subterrâneo.
Com o retorno da primavera, os fiéis costumavam queimar um espantalho sobre um monte de neve vestido de mulher, representando Morana, para chamar Iarilo de volta à superfície.
Quando as chamas estalavam e tomavam conta do espantalho, os eslavos pagãos celebravam o retorno da primavera dançando, lutando e se fartando de um grande banquete no qual as panquecas, redondas e amarelas, representavam o sol.
Reciclagem de feriado
Os cristãos, sempre eficientes na reciclagem de feriados alheios, encontraram uma adaptação para a Maslenitsa na leitura litúrgica da Páscoa.
Na Rússia agrária, a Quaresma serviu como um pretexto conveniente para se seguir a dura dieta que proíbe o consumo de carne, queijo, óleo, ovos, álcool e manteiga, ingredientes muito utilizados para dar sabor ao tradicional mingau de aveia.
Conveniente porque, naquela época, os quarenta dias da Quaresma coincidiam com o período do final do inverno, quando a quantidade restante de alimentos básicos era mínima.
Tradições
Originalmente, os passeios a cavalo eram parte integrante da festa. Os rapazes que se preparavam para casar compravam trenós para os passeios, dos quais os casais jovens participavam obrigatoriamente.
Entre os costumes rurais havia a fogueira, que precisava ser pulada, e a “conquista” de uma cidadezinha de neve.
Nos séculos 18 e 19, o lugar central das festividades da Maslenitsa era ocupado pela comédia campestre, envolvendo personagens fantasiados Maslenitsa, Voevoda e outras.
Os blini também tinham suas tradições: o primeiro era em honra daqueles que já se foram, geralmente oferecido a um morador de rua para lembrar todos os mortos, ou colocado no parapeito da janela. Eram apreciados com "smetana" (creme de leite azedo), ovos, caviar etc. de manhã até a noite, alternando com outros pratos.
O adeus à Maslenitsa vinha com o primeiro dia da Quaresma, a “segunda-feira da limpeza”, considerada o dia de purificação dos pecados e dos alimentos proibidos. Nesse dia, as pessoas costumavam ir à “bânia” (sauna tradicional russa).
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